CEDEAO e CPLP iniciam diálogo para resolver crise em Bissau
26 de setembro de 2012 Nesta quarta-feira (26.09), fonte diplomática disse à agência noticiosa LUSA que responsáveis da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP) e da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) tiveram reunião em Nova Iorque, lançando uma primeira tentativa de criar um plano de ação conjunto para a Guiné-Bissau.
Nas últimas semanas, as duas organizações foram criticadas pelo secretário geral da ONU, Ban Ki-moon, que disse que divergências entre a CPLP e a CEDEAO dificultavam a resolução da crise guineense, resultado de um golpe de Estado militar realizado em 12.04 e que depôs o então primeiro-ministro e candidato presidencial, Carlos Gomes Júnior, e o presidente interino Raimundo Pereira.
As críticas da ONU se devem ao fato de a CPLP se recusar a trabalhar com o governo de transição chefiado por Serifo Nhamadjo (que também foi candidato às presidenciais no país, em março). A CEDEAO, por seu lado, reconheceu o novo poder guineense (clique aqui para ler mais sobre as divergências).
Ao mesmo tempo, ainda existe mistério em torno do nome que subirá, na quinta (27) ou na sexta-feira (28.09) à tribuna da Assembleia Geral das Nações Unidas, em Nova York, para representar a Guiné-Bissau. Tanto o presidente da transição, Serifo Nhamadjo, quanto Carlos Gomes Júnior, poderão ser os "reconhecidos" pela ONU.
O país ocidental africano, conhecido entre outros fatores por ser placa giratória do tráfico de drogas da América Latina para a Europa, é palco constante de instabilidade política e vive as consequências de sua mais recente crise.
Força internacional
A reunião entre representantes da CPLP e da CEDEAO aconteceu após Conselho de ministros extraordinário da comunidade lusófona, à margem da abertura do debate anual da Assembleia Geral da ONU.
Segundo a fonte diplomática ouvida pela LUSA, não houve avanços de nenhuma das posições, já que a reunião teve caráter "muito preparatório". Líderes da CPLP e da CEDEAO ainda deverão se encontrar esta semana em Nova Iorque na presença de representantes da ONU e da União Africana (UA). O plano de ação conjunto ser submetido ao longo desta semana aos ministros dos países membros da CPLP e CEDEAO.
A situação na Guiné-Bissau deverá ser abordada também numa reunião da Comissão de Consolidação para a Paz, que dever ter lugar na quinta-feira (27.09), mesmo dia da intervenção do representante – ainda incógnito – do país na Assembleia Geral da ONU.
O novo secretário geral da CPLP, o moçambicano Murade Murargy, disse que, para os países lusófonos, "é fundamental que haja uma força internacional, não só da CEDEAO", disse. Murargy ainda pediu eleições livres e supervisionadas internacionalmente e um compromisso do roteiro sobre reforma das Forças Armadas e de Segurança na Guiné-Bissau.
Sobre a retomada das eleições interrompidas pelo golpe de Estado de abril, uma exigência que a CPLP tem apresentado, recusando-se a reconhecer o governo saído do golpe, Murargy, citado pela LUSA, afirmou que "é um caso a repensar".
Dois representantes em Nova Iorque
Sem a certeza se vai ou não discursar na Assembleia geral da ONU na próxima quinta-feira, o presidente da transição guineense após o golpe de Estado militar de 12.04, Serifo Nhamadjo, chefia uma comitiva que partiu na terça-feira (25.09) para a sede das Nações Unidas em Nova Iorque.
Lá estão também os dirigentes do governo deposto no golpe.
Caso seja Nhamadjo o escolhido a discursar, tal corresponderia na prática a um reconhecimento, junto da ONU, do executivo saído do golpe.
Segundo a agência LUSA, os Estados Unidos estariam apoiando, dentro da ONU, o nome de Serifo Nhamadjo.
Por seu lado, a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) tinha decidido mobilizar-se para impedir que as autoridades de transição interviessem na Assembleia Geral da ONU.
Porém, Serifo Nhamadjo diz não estar preocupado porque, segundo ele, dirigir-se à Assembleia Geral da ONU, "não é o fim do mundo": "O que eu vou levar é que a Guiné-Bissau está a fazer de tudo para que a transição seja pacífica e que possamos chegar às eleições com um ambiente de paz e que os candidatos possam fazer a campanha de uma forma tranquila. E que o país consiga retornar, definitivamente, a norma constitucional", disse o líder da transição da Guiné-Bissau, antes de deixar o país, na terça-feira (25.09).
Segundo a LUSA, Serifo Nhamadjo reconheceu que não há ainda no país um governo de inclusão como as Nações Unidas em Bissau têm pedido, e disse que tem havido esforços nessa direção. "Logo após a assunção das funções [do governo de transição], mando (sic) todas as forças políticas para que todos pudessem participar. Houve alguns que nos evitaram na altura, mas com o tempo começaram a sentir que é imperativo estarem presentes", avaliou o presidente da transição guineense.
Transição vê encontro com depostos "com bom grado"
Questionado sobre se seria possível um encontro com Carlos Gomes Júnior e Raimundo Pereira, Serifo Nhamadjo disse que, se houver um acordo nesse sentido, ele o verá com bom grado.
Em reação, o líder da União para a Mudança, partido na Oposição, congratula-se com o convite das Nações Unidas às autoridades de transição. Agnelo Regalla disse que é um passo dado para que o "governo de fato" no país possa ser reconhecido pela comunidade internacional: "Não vale a pena teimar no retorno ao antes do 12 de abril. Há uma situação de facto. As Nações Unidas reconhecem os Estados", afirmou Regalla.
"E é preciso que as Nações Unidas deem sinais efetivos de ajudar a Guiné-Bissau a retornar à normalidade constitucional. Penso que este é um passo importante e que muito irá contribuir para que a solução seja encontrada a nível interno", avaliou o oposicionista.
Autor: Braima Darame (Bissau)/Renate Krieger/LUSA
Edição: António Rocha