O presidente da comissão da CEDEAO encontrou-se esta terça-feira com José Mário Vaz, um dia antes da chegada a Bissau de uma missão de alto nível. Partido da Convergência Democrática espera atitude firme da comunidade.
Publicidade
A Guiné-Bissau continua à espera de uma solução para a mais longa crise política vivida nos últimos anos. O país está a ser gerido por um governo demissionário há mais de 80 dias. E o novo primeiro-ministro, Artur Silva, ainda não conseguiu o apoio dos partidos para constituir o seu elenco.
Para tentar alcançar uma solução que permita formar um novo Governo que, por sua vez, terá a missão de organizar as próximas eleições legislativas, chegou esta terça-feira (10.04) à capital guineense o presidente da comissão da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO).
Jean-Claude Kassi Brou encontrou-se com o Presidente da Guiné-Bissau, José Mário Vaz, e com o presidente do Parlamento, Cipriano Cassamá, antecipando a vinda da missão ministerial do alto nível, que chega quarta-feira a Bissau.
Aos jornalistas, disse apenas que está em contacto com as autoridades "para discutir a crise política", remetendo mais detalhes da missão para a delegação ministerial que irá reunir-se com as partes signatárias do Acordo de Conacri.
Atitude firme da CEDEAO
Aos microfones da DW África, Vicente Fernandes, líder do Partido da Convergência Democrática (PCD), partido com representação parlamentar e um dos signatários do Acordo de Conacri, diz esperar uma atitude firme da CEDEAO.
"Penso, desejo e sonho que, de facto, eles (a CEDEAO) definitivamente tomem uma posição tendente a impor, agora não é a exortar, mas sim impor ao Presidente da República que nomeie o primeiro-ministro de consenso no Acordo de Conacri, que é Augusto Olivais", afirma Vicente Fernandes.
CEDEAO em Bissau para procurar solução para crise
"Já lá vão dois anos desde que assinamos o acordo e nada foi feito para a sua implementação", sublinha ainda. O Acordo de Conacri foi elaborado devido à falta de consenso entre as várias forças políticas e previa a nomeação de um primeiro-ministro de consenso. Agora vai voltar a ser analisado porque a CEDEAO entende que ainda não foi posto em prática.
A missão de alto nível da CEDEAO é liderada pelo chefe da diplomacia do Togo, Robert Dussey, e durante a sua estada em Bissau vai reunir-se com as "autoridades e atores políticos no quadro da implementação do Acordo de Conacri."
Crise social
Com o agudizar da crise, agudiza-se também a situação social. O país depara-se com longos cortes de energia eléctrica e no fornecimento de água potável.
Segundo a diretora de operações do Banco Mundial para a Guiné-Bissau, Louise Cord, a atual situação política no país está a dificultar o trabalho da organização no apoio ao combate à pobreza.
"Temos uma estratégia para apoiar a Guiné-Bissau nos próximos três anos e gostávamos de continuar a implementar esta estratégia para reduzir a pobreza, mas é muito importante para nós que exista um Governo efetivo com o quem possamos implementar estes programas e espero que isso aconteça brevemente", disse esta terça-feira (10.04).
São esperadas grandes novidades no plano político em Bissau durante esta semana. No próximo sábado (15.04), os líderes da CEDEAO reúnem-se em cimeira extraordinária com um único ponto: o impasse político na Guiné-Bissau e medidas para sair da crise. A cimeira terá lugar em Lomé, no Togo.
Guiné-Bissau: O país onde nenhum Presidente terminou o mandato
Desde que se tornou independente, a Guiné-Bissau viu sentar na cadeira presidencial quase uma dúzia de Presidentes - incluindo interinos e governos de transição. Conheça todas as caras que passaram pelo comando do país.
Foto: DW/B. Darame
Luís de Almeida Cabral (1973-1980)
Luís de Almeida Cabral foi um dos fundadores do Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) e também o primeiro Presidente da Guiné-Bissau - em 1973/4. Luís Cabral ocupou o cargo até 1980, data em que foi deposto por um golpe de Estado militar. O antigo contabilista faleceu, em 2009, vítima de doença prolongada.
Foto: Bundesarchiv/Bild183-T0111-320/Glaunsinger
João Bernardo Vieira (1980/1994/2005)
Mais conhecido por “Nino” Vieira, este é o político que mais anos soma no poder da Guiné-Bissau. Filiado no PAIGC desde os 21 anos, João Bernardo Vieira tornou-se primeiro-ministro em 1978, tendo sido com este cargo que derrubou, através de um golpe de Estado, em 1980, o governo de Cabral. "Nino" ganhou as eleições no país em 1994 e, posteriormente, em 2005. Foi assassinado quatro anos mais tarde.
Foto: picture-alliance/dpa/L. I. Relvas
Carmen Pereira (1984)
Em 1984, altura em que ocupava a presidência da Assembleia Nacional Popular, Carmen Pereira assumiu o "comando" da Guiné-Bissau, no entanto, apenas por três dias. Carmen Pereira, que foi a primeira e única mulher na presidência deste país, foi ainda ministra de Estado para os Assuntos Sociais (1990/1) e Vice-Primeira-Ministra da Guiné-Bissau até 1992. Faleceu em junho de 2016.
Foto: casacomum.org/Arquivo Amílcar Cabral
Ansumane Mané (1999)
Nascido na Gâmbia, Ansumane Mané foi quem iniciou o levantamento militar que viria a resultar, em maio de 1999, na demissão de João Bernardo Vieira como Presidente da República. Ansumane Mané foi assassinado um ano depois.
Foto: picture-alliance/dpa
Kumba Ialá (2000)
Kumba Ialá chega, em 2000, à presidência da Guiné-Bissau depois de nas eleições de 1994 ter sido derrotado por João Bernardo Vieira. O fundador do Partido para a Renovação Social (PRS) tomou posse a 17 de fevereiro, no entanto, também não conseguiu levar o seu mandato até ao fim, tendo sido levado a cabo no país, a 14 de setembro de 2003, mais um golpe militar. Faleceu em 2014.
Foto: AP
Veríssimo Seabra (2003)
O responsável pela queda do governo de Kumba Ialá foi o general Veríssimo Correia Seabra, Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas. Filiado no PAIGC desde os 16 anos, Correia Seabra acusou Ialá de abuso de poder, prisões arbitrárias e fraude eleitoral no período de recenseamento. O general Veríssimo Correia Seabra viria a ser assassinado em outubro de 2004.
Foto: picture-alliance/dpa/R. Bordalo
Henrique Rosa (2003)
Seguiu-se o governo civil provisório comandado por Henrique Rosa que vigorou de 28 de setembro de 2003 até 1 de outubro de 2005. O empresário, nascido em 1946, conduziu o país até às eleições presidenciais de 2005 que deram, mais uma vez, a vitória a “Nino” Vieira. O guineense faleceu, em 2013, aos 66 anos, no Hospital de São João, no Porto.
Foto: AP
Raimundo Pereira (2009/2012)
A 2 de março de 2009, dia da morte de Nino Vieira, o exército declarou Raimundo Pereira como Presidente da Assembleia Nacional do Povo da Guiné-Bissau. Raimundo Pereira viria a assumir de novo a presidência interina da Guiné-Bissau, a 9 de janeiro de 2012, aquando da morte de Malam Bacai Sanhá.
Foto: AP
Malam Bacai Sanhá (1999/2009)
Em julho de 2009, Bacai Sanhá foi eleito presidente da Guiné Bissau pelo PAIGC. No entanto, a saúde viria a passar-lhe uma rasteira, tendo falecido, em Paris, no inicio do ano de 2012. Depois de dirigir a Assembleia Nacional de 1994 a 1998, Bacai Sanhá ocupou também o cargo de Presidente interino do seu país de maio de 1999 a fevereiro de 2000.
Foto: dapd
Manuel Serifo Nhamadjo (2012)
Militante do PAIGC desde 1975, Serifo Nhamadjo assumiu o cargo de Presidente de transição a 11 de maio de 2012, depois do golpe de Estado levado a cabo a 12 de abril de 2012. Este período de transição terminou com as eleições de 2014, que foram vencidas por José Mário Vaz. A posse de “Jomav” como Presidente marcou o regresso do país à ordem constitucional no dia 26 de junho de 2014.