CEDEAO imporá novas sanções ao Mali caso não haja eleições
Lusa
13 de dezembro de 2021
A Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) advertiu a junta militar no poder do Mali de que imporá novas sanções contra o país, caso não sejam realizadas as eleições marcadas para 27 de fevereiro.
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A Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) advertiu a junta militar no poder do Mali de que imporá novas sanções contra o país, caso não sejam realizadas as eleições marcadas para 27 de fevereiro próximo.
A CEDEAO manifestou preocupação pelo facto de o prazo "correr o risco de não ser respeitado" e sublinhou a "necessidade urgente" de que este seja cumprido, num comunicado emitido no final deste domingo, após a 60ª cimeira regular dos líderes do bloco de 15 nações africanas em Abuja, capital da Nigéria.
"Se até ao final de dezembro de 2021 não houver progressos tangíveis na preparação das eleições, serão impostas sanções adicionais a partir de 1 de janeiro de 2022", advertiu a organização.
"Estas sanções incluirão, em particular, sanções económicas e financeiras", afirmou a CEDEAO, em resposta aparente à promessa da junta militar no poder no Mali que de irá fornecer um calendário eleitoral até ao final de janeiro.
Falta de progressos nos preparativos eleitorais
Numa cimeira extraordinária realizada em novembro último, o bloco regional já tinha "lamentado profundamente" a falta de progressos nos preparativos das eleições, pela voz do presidente rotativo da organização, o chefe de Estado ganês, Nana Akufo-Addo, que deu na altura conta da notificação oficial do Mali da sua "incapacidade" de realizar eleições a 27 de fevereiro de 2022.
No final de maio, a CEDEAO suspendeu o Mali de todas as instituições comunitárias, em consequência do duplo golpe de Estado perpetrado pelos militares em agosto de 2020 e em 24 de maio deste ano.
Posteriormente, a instituição decretou sanções contra os membros superiores do governo de transição do Mali.
Na cimeira deste domingo, os líderes da CEDEAO decidiram, por outro lado, manter as sanções contra a junta militar que governa a Guiné-Conacri desde o golpe de Estado de 5 de setembro, que derrubou o então presidente, Alpha Condé.
A organização exigiu ainda um calendário aos militares guineenses para a restauração da ordem constitucional.
Conflito no Mali: Dogon refugiam-se em terra ancestral
Com a escalada do conflito no centro do Mali, o povo Dogon fugiu da região de Mopti, que foi a sua casa durante cerca de 700 anos, para "Mande", a sua terra ancestral.
Foto: Udo Lucio Borga
Uma nova vida na terra ancestral
Tal como milhares de outros Dogon, Isaie Dignau deixou a região de Bandiagara, no centro do Mali, por causa da insegurança. Ele e a família refugiaram-se em Nana Kenieba, uma aldeia a cerca de 150 quilómetros a sudeste da capital Bamako. De acordo com Isaie, os contadores de histórias Dogon previram esta migração para terras outrora chamadas "Mande" há centenas de anos.
Foto: Udo Lucio Borga
A profecia do regresso a casa cumpriu-se
Segundo a lenda, os Dogon são originalmente de "Mande", a região do povo Malinke. Entre os séculos XI e XIII, foram forçados a partir face à islamização da África Ocidental. Após uma longa migração, instalaram-se em torno da famosa falésia de Bandiagara, no que é hoje a região de Mopti. Agora, devido à ameaça jihadista, estão a regressar a casa.
Foto: Udo Lucio Borga
Mali, um conflito sem fim
Os caçadores de Dan Na Ambassagou são a principal milícia Dogon em Mopti. O conflito no Mali começou em 2012 e em 2016 alastrou-se para o centro do país. À medida que as tensões entre grupos étnicos aumentavam, formaram-se milícias de autodefesa. A violência é causada pela falta de terras férteis e de água numa área afetada pelo jihadismo.
Foto: Ugo Lucio Borga
As consequências do conflito
O Mali está a enfrentar uma grave crise humanitária em regiões já subdesenvolvidas. A insegurança alimentar afeta 1,3 milhões de pessoas. Cerca de 347.000 pessoas foram forçadas a fugir das suas terras. Muitas procuraram refúgio em países vizinhos, mas a maioria está deslocada internamente e refugiada no sul do Mali e em campos de refugiados próximos de áreas urbanas.
Foto: Ugo Lucio Borga
Os Dogon no conflito do Mali
Muitos Dogon estão diretamente envolvidos no conflito. Seidu Doungo lutou contra os Dan Na Ambassagou na região de Koro. Em 2020, abandonou as armas. A sua família foi ameaçada por jihadistas e ele já não conseguia uma fonte de rendimento. Quando Seidu ouviu falar de Nana Kenieba, decidiu deixar Koro para encontrar a paz em "Mande".
Foto: Ugo Lucio Borga
A hospitalidade local
Os Malinke são o grupo étnico maioritário em Nana Kenieba. Segou Keita é o chefe da aldeia e acolheu os Dogon que regressaram de acordo com a antiga profecia. A comunidade apoia-os financeiramente e inclui-os na tomada de decisões.
Foto: Udo Lucio Borga
Distribuição justa da terra
No alojamento principal de Nana Kenieba, Isaie Dignau mostra a alguns habitantes um mapa das parcelas de terreno. Desde 2016, cerca de 400 famílias Dogon, principalmente de Mopti, instalaram-se aqui. Cada família recebeu dois hectares de terra e alimentos.
Foto: Udo Lucio Borga
Uma comunidade secular
Os Dogon são uma comunidade secular, onde as pessoas são livres de professar o islamismo, o cristianismo ou crenças ancestrais. A aldeia tem duas mesquitas e duas igrejas, com correspondentes escolas corânicas e aulas de catecismo, sinal de um novo tempo de abertura.
Foto: Udo Lucio Borga
O medo ainda existe
O ambiente pacífico de "Mande" parece muito longe do conflito no Mali. Mas a comunidade vive com medo de que os jihadistas possam chegar e iniciar um conflito. Em Nana Kenieba, os habitantes organizaram patrulhas que mantêm os bandidos afastados por agora.