Cem dias de problemas para Dlamini-Zuma
21 de janeiro de 2013Quem a conhece afirma que Nkosana Dlamini-Zuma é profissional e competente. E age de forma pragmática no que toca à resolução de crises, dominando a arte da diplomacia. Mostrou-o no conflito na República Centro-Africana e agora no Mali, afirma Alex Vines diretor para África do instituto britânico de análise política Chatham House.
"Ela demonstrou visão estratégica ao reconhecer as limitações da arquitetura africana de paz e segurança na resposta à crise no Mali", disse Vines.
Dlamini-Zuma já havia reconhecido no Cairo que quer a União Africana (UA), quer a ONU, não estavam preparadas para lidar com a crise no Mali. "Por isso mesmo é que ela apoiou a intervenção francesa quando se tornou claro que os jihadistas se preparavam para tomar a capital, Bamako", afirmou o especialista.
Também no caso da República Centro-Africana, a UA tornou claro que não aceitava um governo saído de um golpe de Estado. Dlamini-Zuma convenceu mesmo a África do Sul a enviar tropas para o país.
Cunho pessoal
Durante estes cem dias, a UA não terá mudado muito no que diz respeito ao seu modo de funcionamento:
"Há uma grande continuidade em relação ao seu antecessor, Jean Ping. Isso deve-se aos mecanismos e à institucionalização da União Africana", explicou Ulf Engel, professor de Africanística em Leipzig e Addis Abeba.
Mas apesar dessa institucionalização, Dlamini-Zuma conseguiu dar a sua nota pessoal à instituição pondo, por exemplo, ênfase na problemática das mulheres e crianças como vítimas de conflitos.
Críticas
Ainda assim, mesmo que os seus primeiros cem dias de trabalho sejam avaliados positivamente, há quem considere que a presidente da comissão da UA presta demasiada atenção ao departamento Paz e Segurança, ficando com pouco tempo para combater as causas dessa insegurança. É o caso de Mehari Maru, especialista na UA e consultor para questões de paz e segurança.
"Colocar demasiado enfoque na paz e segurança, especialmente na resposta a conflitos, é como lidar com o sintoma em vez de lidar com a raiz dos problemas em África", explicou.
"Se olharmos para as negociações entre o Sudão e o Sudão do Sul, lideradas pelo antigo presidente da África do Sul, Thabo Mbeki, vemos que elas se tornaram numa extensão das atividades da Comissão da UA e também da comunidade internacional. Este tipo de painéis pode levar a uma resposta mais relevante, focada e concentrada."
Delegar mais tarefas
O especialista afirma que Dlamini-Ziuma tem de delegar mais:
"Se a presidente está envolvida em dar resposta a todo e qualquer conflito africano, ela não terá tempo para lidar com as causas e aceleradores dos conflitos", referiu. Questões de desenvolvimento, questões económicas, política e violência, incluindo democratização, eleições e desenvolvimento das estruturas do Estado.
Segundo Maru, a prevenção de crises deve tornar-se num dos pontos fortes da UA, pois a crises políticas como a do Mali não se pode reagir apenas militarmente.
Também Alex Vines da Chatham House afirma que uma reforma institucional da UA é urgentemente necessária. E essa é uma tarefa que cabe à presidente, assim como o ultrapassar barreiras entre países anglófonos e francófonos no seio da organização.
Autora: Sarah Steffen / Helena Ferro de Gouveia
Edição: Guilherme Correia da Silva / António Rocha