Centenas de pessoas marcham em apoio a Nyusi em Manica
Bernardo Jequete (Manica) | Lusa
17 de fevereiro de 2018
Membros de organizações da sociedade civil e do partido no poder saíram às ruas de Chimoio para apoiar os consensos alcançados entre a FRELIMO e a RENAMO no âmbito do processo de descentralização.
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Centenas de pessoas saíram este sábado (17.02) às ruas de Chimoio, a capital da província de Manica, numa marcha em apoio ao presidente da República de Moçambique, Filipe Nyusi, pelos consensos alcançados com o líder da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), Afonso Dhlakama, no âmbito do diálogo político sobre o processo de descentralização.
Os manifestantes percorreram diferentes ruas e avenidas da capital provincial, cantando, empunhando dísticos, cartazes, panfletos, e vestindo camisetas com a mensagem: "Nós queremos a paz". A marcha foi convocada por organizações da sociedade civil e teve a participação de militantes da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), o partido no poder.
O presidente do Conselho Distrital da Juventude em Chimoio (CDJ), Soares Juga Ferro, disse que a camada jovem da população decidiu ir às ruas para pressionar a RENAMO a seguir com o processo de paz e desmilitarizar o seu braço armado. Para Soares, a paz efetiva irá aumentar os investimentos no país e as oportunidades de emprego para os jovens.
"O futuro de Moçambique está nas mãos dos jovens. Eles estão esperançosos em ver e testemunhar o regresso à paz, que é um grande catapulto para o desenvolvimento de um país próspero, com a juventude na vanguarda. Ele [Filipe Nyusi] deslocou-se para as matas da Gorongosa onde foi se encontrar com o líder da RENAMO na busca deste consenso que hoje estamos a testemunhar. Por esta razão nos unimos e estamos aqui a marchar", afirmou Soares Juga Ferro.
A primeira-secretária do Comité Provincial da FRELIMO em Manica, Ana Armando Chapo, disse que o evento surge igualmente para saudar o calar das armas em face das recentes hostilidades que o país testemunhou, em particular, naquela província. "Essa marcha é de saudação aos esforços que o presidente Nyusi tem estado a fazer em prol da paz", afirmou.
O governador da província de Manica, Alberto Ricardo Mondlane, destacou a importância da presença da sociedade civil. "As boas coisas devem ser celebradas, e uma das coisas boas para o povo moçambicano é a paz. Sem paz, não podemos fazer nada. Já temos experiência disso", frisou o governador.
Descentralização
O acordo entre a FRELIMO e a RENAMO, anunciado na semana passada por Filipe Nyusi, prevê que os governadores das províncias e os administradores dos distritos passem a ser indicados por quem ganha as eleições para as respetivas assembleias, em vez de serem nomeados pelo poder central. A proposta de revisão da Constituição depositada na Assembleia da República para apreciação também estabelece que os presidentes de municípios deixem de ser eleitos diretamente e passem a emanar das assembleias municipais.
Em entrevista à agência Lusa, o filósofo moçambicano Severino Ngoenha criticou as negociações. "Este acordo é estruturalmente fraco, porque ele compreende a dinâmica de dois partidos e deixa de lado aquilo que é a vontade popular", disse. Para o filósofo, retirar o direito de voto direto ao povo nas eleições dos presidentes e dos municípios revela que a política está a fugir dos problemas reais do povo. "A descentralização que se propunha recentrou o poder. O partido político vai ser o novo monarca", afirmou.
Na fundamentação da proposta de revisão da Constituição, o Executivo moçambicano justifica a alteração ao nível autárquico como uma forma de simplificar o processo eleitoral, tornando-o igual para todos os níveis da administração, ou seja, com a eleição de uma assembleia, que indica quem dirige.
Relativamente aos assuntos militares, o Presidente moçambicano sublinhou que consensos estão a ser alcançados em matéria de desarmamento, desmobilização e reintegração dos efetivos da RENAMO.
Moçambique: as pedrinhas de Chimoio
É uma tradição forçada pela necessidade: os habitantes mais desfavorecidos de Chimoio aproveitam as obras na EN6 para apanhar pedras que, vendidas, são ajuda preciosa ou, muitas vezes, única fonte de sobrevivência.
Foto: DW/Bernardo Jequete
As pedras que valem a vida
É com estas pedrinhas que alguns moçambicanos sobrevivem, em Manica. Os populares madrugam para se deslocarem ao local visando retira-las e amontoá-las ao longo da via em construção. A rotina é diária porque quem consegue retirar maiores quantidades consegue também maior valor. Uma carrada ou uma tonelada e meia chega a custar mil e quinhentos meticais ( cerca de 20 euros).
Foto: DW/Bernardo Jequete
As obras não podem terminar
Os populares que vivem da atividade de retirar as pedrinhas para a sua sustentabilidade no quotidiano ao longo da EN6 em Manica, estão a torcer pela demora do término da obra para continuarem a ter o negócio. Eles dizem que caso termine não terão mais outra atividade que lhes possibilite a ter dinheiro.
Foto: DW/Bernardo Jequete
Sustento dos filhos e olho no investimento
A adolescente na imagem tem 18 anos de idade e dois filhos. Também se dedica à recolha de areia grossa para a venda visando sustentar os seus filhos, uma vez que o seu marido nada faz. Ela disse estar a fazer o trabalho para obter fundos, visando investir em negócio de venda de tomate em mercados.
Foto: DW/B. Jequete
Exclusivamente à mão
É uma tarefa extra, quando aparece um cliente que necessita de mais de uma tonelada de pedrinhas. Elas buscam com baldes para colocá-las no carro. Não utilizam pás, enxadas nem picareta, para tornar mais fácil o trabalho de baldeamento das pedrinhas.
Foto: DW/B. Jequete
Pedra a pedra
Na vida nem tudo aparece sem sacrifício. Mesmo apanhando as pedrinhas ao longo da via, levam muito tempo para obter 20 quilogramas. Na imagem, pedra a pedra, as envolvidas em actividades de recolha vão enchendo o balde de 10 quilogramas. Acabam amontoando toneladas de pedrinhas, cujo produto da venda serve para se alimentarem.
Foto: DW/B. Jequete
Único sustento da casa
Duas senhoras uniram-se para apanhar as pedrinhas, como forma de apoiar os seus maridos que também não trabalham. Disseram ter vendido mais de três toneladas desde que ingressaram naquela atividade de apanhar pedrinhas, amontoa-las e vende-las. Com a venda já obtiveram cinco mil meticais (cerca de 55 euros). Confessaram ter comprado alguns utensílios domésticos, sapatos para filhos e comida.
Foto: DW/Bernardo Jequete
Fonte de rendimento, fonte de alimentação
Algumas mães e pais obrigam os seus filhos a deambularem pela via à procura das pedrinhas, porque quanto maior for o número de agregados na recolha das pedrinhas, maior é o produto. Virgínia Amossua (na imagem) vai com a mãe para aquele local, para reforçar a comida em casa.
Foto: DW/Bernardo Jequete
Pedras por livros
A adolescente na imagem chama-se Laura Vicente Mbanzo. Ela diz estar a apanhar pedrinhas ao longo da berma da EN6 para vender e comprar material escolar, visto que seus pais não trabalham e a mãe obrigou-a a esta atividade.
Foto: DW/B. Jequete
Horas de trabalho
Pela escassez das pedrinhas nas bermas da via, já se leva horas para encher uma bacia de 10 quilogramas. É dolorosa a atividade que os populares da província de Manica vêm desenvolvendo.
Foto: DW/Bernardo Jequete
Enquanto os carros passam...
Anabela Sabão, 48 anos, retirando as pedrinhas da placa central da estrada nacional 6, na cidade de Chimoio. A pedra que está sendo retirada tem como destino a venda. Anabela alega não ter condições para se alimentar em casa.
Foto: DW/B. Jequete
Falta de emprego obriga ao sacrifício
Elisa Tomon alega praticar a atividade pela falta de emprego. Diz ter a 12ª classe, mas pela ausência de trabalho viu-se obrigada a fazer parte da atividade de recolha de pedrinhas ao longo da berma da EN6.
Foto: DW/Bernardo Jequete
Local de recolha, local de comércio
Ao longo da EN6, não constituem novidade os entulhos de pedras colocadas em sacos. As pessoas interessadas contactam os proprietários que ficam bem próximo das amostras.