Há quatro meses que secaram as torneiras na cidade moçambicana de Mocuba, no centro do país. Ir buscar água ao rio não só é incómodo, como acarreta riscos.
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Nesta época do ano, com o calor, muitas famílias preferem ir viver para as margens dos rios Licungo e Lugela, junto à cidade de Mocuba, na Zambézia. É a forma mais simples de ter acesso a água. Das torneiras na cidade não sai nada, diz Ana Xavier. "Não temos água. Vamos buscar ao rio. Há poucos poços de água na cidade de Mocuba e os que existem não são públicos".
Ana Xavier não vive junto ao rio. Por isso tem de acordar às três ou quatro da manhã para conseguir apanhar água no baixo caudal. Há cidadãos que têm de percorrer centenas de metros a balançar baldes de água na cabeça, acrescenta Carlitos António. "O rio é grande. Seca, mas ainda sobra um pouco de água”. Carlitos António diz que há pessoas que vêm de longe para buscar água no rio. "A água do rio serve-nos para tudo: tomar banho, lavar roupa", acrescenta.
Perigo para a saúdeO que acaba por ser um problema. É preciso ter muito cuidado alerta Rosa Esqueiro."A água não é boa, provoca diarreias. Na mesma água que se usa para beber, as pessoas lavam roupa e tomam lá banho."
Àgua potável em Mocuba - MP3-Mono
O diretor provincial de Saúde da Zambézia, Hidyat Kassim, diz estar a par da situação e promete distribuir purificadores de água. "Estamos cientes das dificuldades por causa desse abaixamento do caudal”. Entretanto já foram adquiridos 30.000 frascos de purificadores que serão distribuídos às populações que vivem nas margens dos rios, "para evitar que contraiam doenças por causa daquela água", disse Kassim à DW África.
Presidente Nyusi promete solução
A vila de Gúruè, a cerca de 200 quilómetros de Mocuba, atravessa uma situação idêntica. Segundo o presidente do município, Orlando Janeiro, o problema é muito grave: "O número de carenciados ultrapassa os 50 mil habitantes. Estamos a passar mal".
Recentemente o Presidente da República, Filipe Nyusi, visitou aquela região da Zambézia e prometeu soluções. Reconhecendo a gravidade do problema, o Chefe de Estado disse, no entanto: "Não é assim como vocês pensam fácil de resolver. Aqui precisa de uma construção de raiz, de um centro distribuidor.” Segundo Nyusi, Gúruè faz parte do projeto de 18 vilas moçambicanas enquadradas no projeto de construção de centros distribuidores de água: "O plano vai começar no próximo ano, este problema terá fim", prometeu o Presidente.
As maiores barragens de África
Nilo, Congo, Zambeze: os rios africanos guardam grande potencial para a produção de energia. Os governos reconhecem isso e apostam cada vez mais em megaprojetos. Um panorama das maiores centrais hidroelétricas de África.
Foto: William Lloyd-George/AFP/Getty Images
Grande Represa do Renascimento, na Etiópia
No sudoeste da Etiópia, está a ser erguida aquela que será a maior barragem de África. A construção da Grande Represa do Renascimento começou em 2011 e deve ser concluída em 2017. A barragem localiza-se perto da fronteira com o Sudão, no Nilo, e terá uma potência de 6.000 megawatts (MW). O reservatório será um dos maiores do continente, com capacidade para armazenar 63 quilômetros cúbicos de água.
Foto: William Lloyd-George/AFP/Getty Images
Represa Alta de Assuão, no Egito
A Represa Alta de Assuão é atualmente a barragem mais potente de África. Está localizada perto da cidade de Assuão, no sul do Egito. O lago atrás da barragem pode armazenar até 169 quilómetros cúbicos de água. Seu maior afluente é o Rio Nilo. As turbinas têm uma capacidade de 2.100 megawatts. A construção durou onze anos e a inauguração foi em 1971.
Uma das maiores barragens do mundo está localizada na província de Tete. A hidroelétrica Cahora Bassa, no rio Zambeze, tem uma potência de 2.075 megawatts, pouco menos que a Represa Alta de Assuã, no Egito. A maior parte da energia gerada é exportada para a África do Sul. No entanto, sabotagens durante a guerra civil impediram a produção de eletricidade por mais de dez anos, a partir de 1981.
Foto: DW/M. Barroso
Represa Gibe III, na Etiópia
A barragem Gilgel Gibe III fica 350 quilômetros a sudoeste da capital etíope, Addis Abeba. Foi concluída em 2016 e pode gerar um máximo de 1.870 megawatts, tornando-se a terceira maior barragem em África. A construção durou quase nove anos e foi financiada a 60% pelo Banco de Exportação e Importação da China, China Exim Bank.
Foto: Getty Images/AFP
Kariba, entre a Zâmbia e o Zimbabué
A barragem de Kariba fica na garganta do rio Zambeze, entre a Zâmbia e o Zimbabué. Tem 128 metros de altura e 579 metros de comprimento. Cada país tem sua própria central eléctrica. A estação norte, da Zâmbia, tem capacidade total de 960 megawatts. A estação sul, do Zimbabué, tem capacidade total de 666 megawatts. As obras de expansão em 300 megawatts começaram em 2014 e devem terminar em 2019.
Foto: dpa
Inga I e Inga II na RDC
As barragens Inga consistem de duas represas. Inga I tem capacidade para produzir 351 megawatts e Inga II, 1424 megawatts. Foram encomendadas em 1972 e 1982, como parte do plano de desenvolvimento industrial do ditador Mobutu Sese Seko. Mas, atualmente, atingem apenas 50% de seu potencial energético.
Foto: picture-alliance/dpa
Inga III
Inga I e Inga II localizam-se perto da foz do rio Congo e ligadas às cataratas Inga. O governo congolês já planeia o lançamento de Inga III, com custo de 13 mil milhões de euros e capacidade de 4.800 megawatts. Juntas, as três barragens seriam a central hidroelétrica mais potente de África.
Merowe no Sudão
O Sudão também depende fortemente de energia eólica com duas grandes barragens no país: Merowe no Rio Nilo (na foto) tem uma capacidade de 1.250 MW e foi construída por uma empresa chinesa. Ainda maior é a barragem de Roseires no Nilo Azul, que desde a sua construção em 1966 foi várias vezes ampliada e conta atualmente com turbinas que têm uma potência total de 1.800 MW.
Foto: picture-alliance/dpa
Akosombo, no Gana
A oitava maior barragem de África é Akosombo, no Gana. Construída na garganta do Rio Volta, a represa teve como resultado o Lago Volta - o lago artificial do mundo, com área de 8.502 quilómetros quadrados. As seis turbinas têm uma capacidade combinada de 912 megawatts. Além de gerar eletricidade, a barragem também protege contra inundações.
Foto: picture-alliance / dpa
Represa Tekezé, na Etiópia
Outra represa grande de África está localizada na Etiópia. A barragem Tekeze encontra-se entre as regiões de Amhara e Tigré. Apesar de seus impressionantes 188 metros de altura, a capacidade máxima da hidrelétrica é de 300 megawatts e, assim, apenas um vigésimo da potência da Grande Represa do Renascimento. A represa entrou em funcionamento em 2009.