Água imprópria para o consumo pode contribuir para o surgimento de doenças. Mas Ministério da Saúde garante estar preparado para combater possíveis epidemias no centro de Moçambique, uma semana após o ciclone.
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Em Moçambique, o Ministério da Saúde assegura que tem um plano de prevenção e de reação para o caso de eclosão de doenças no contexto do ciclone Idai. Entretanto, os hospitais ficaram parcialmente destruídos, mas as autoridades do setor dizem que mesmo assim continuam a prestar assistência e que o facto de as pessoas estarem a juntar-se em centros de acolhimento minimiza riscos de eclosão de doenças.
Águas paradas por longos períodos e o consumo de água imprópria propiciam o surgimento de doenças diárreicas. E é este o cenário que se vive na região centro de Moçambique desde a última semana, na sequência do ciclone Idai.
O que está por vir preocupa os voluntários que coordenam as ações de solidariedade. Carlos Serra, da Associação Repensar, é um deles. "Proteger as pessoas contra o que ai vem, que é sério em termos de drama humano. Sabemos que as águas vão permanecer e há riscos de epidemias: cólera, diárreias, malária", alerta Serra.
Centro de Moçambique sob risco de epidemias após ciclone Idai
O coordenador afirma estas doenças "serão um problema sério nos próximos tempos". "Temos de estar unidos para podermos dar ajudar as pessoas que estão nas zonas de risco".
Risco de epidemias
O Ministério da Saúde reconhece que é uma possibilidade eminente. Concorriam para isso a dispersão das vítimas do ciclone. A diretora nacional adjunta de Saúde Pública, Maria Benigna Matsinhe, fala no risco de eclosão de doenças de origem hídrica dentro de cerca de duas semanas. Mas o acolhimento das vítimas em centros ajudaria a minimizar os riscos.
"Nos centros de acomodação o que o setor da saúde está a fazer, para além da ações educativas e da distribuição de certeza (um purificador de água), temos um plano que já foi elaborado pelo ministério que poderá levar algum tempo e passa pela realização de uma campanha de vacinação contra a pólio", avança a diretora, que garante já ter solicitado as vacinas à Organização Mundial da Saúde (OMS).
Ainda de acordo com Maria Benigna Matsinhe, a vacinação vai ocorrer de qualquer forma, mesmo se o Ministério da Saúde não receber as doses de vacinas a tempo de uma campanha preventiva. "Se não conseguirmos, por causa do tempo que pode levar ao país e o tempo a que as pessoas estão expostas ao vibrião, iremos realizar a campanha de qualquer das formas. Ela poderá ser peventiva, se chegar antes da eclosão. Mas se tivermos a eclosão da cólera, faremos de forma reativa, mas já temos este plano".
Unidades sanitárias danificadas
Fora os centros de acomodação de emergência, onde se presta assistência temporária, as unidades sanitárias convencionais ficaram severamente danificadas, o que dificulta a assistência médica.
O edil da cidade da Beira, Daviz Simango, contou à DW África as dificuldades que enfrentam: "Os hospitais não têm energia. Muitas das análises de controle e exames médicos que requerem corrente elétrica não estão a ser feitos agora porque o Hospital Central da Beira, que é o hospital mãe e regional, neste momento não tem energia e por isso não pode fazer diagnósticos. Há muitos doentes que estão a morrer e há doentes que estão a voltar para a casa exatamente porque não se consegue fazer o diagnóstico por falta de energia".
E uma vez despreparadas, como vão as unidades sanitárias cumprir as suas funções neste momento particularmente difícil? A diretora nacional adjunta de Saúde Pública, Maria Benigna Matsinhe, afirma que "é muito difícil dizer que não iremos trabalhar. Se for ver, temos o Hospital Central da Beira que também sofreu danos, mas continuamos a trabalhar".
Ciclone Idai causa mortes e destruição
Ciclone Idai faz mais de 200 mortos em Moçambique, no Zimbabué e no Malawi. Cerca de 90% da cidade moçambicana da Beira foi destruída com a passagem do ciclone Idai, segundo a Cruz Vermelha.
Foto: picture-alliance/AP/C. Haga
Ciclone Idai faz mais de 200 mortos
A passagem do ciclone Idai afetou mais de 1,5 milhões de pessoas em Moçambique, no Zimbabué e no Malawi, de acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU). Mais de 200 pessoas morreram nos três países e milhares estão desalojadas. O levantamento do número de vítimas está por concluir, dado que há locais de difícil acesso devido à subida do nível dos rios.
Foto: picture-alliance/AP/C. Haga
Beira é a cidade mais atingida de Moçambique
Há pelo menos 84 mortos em Moçambique, segundo os últimos dados. Mas o Presidente Filipe Nyusi afirma que "tudo indica que poderemos registar mais de mil óbitos". A cidade da Beira foi a mais afetada. Os ventos e chuvas fortes deixaram a cidade parcialmente destruída, sem luz nem telecomunicações.
Foto: Getty Images/AFP/A. Barbier
Ciclone visto do espaço
Esta imagem de satélite feita pela NASA mostra a passagem do ciclone Idai pelos países africanos. "A situação é terrível, a magnitude da devastação é enorme", disse o líder da equipa de avaliação da Cruz Vermelha na Beira, Jamie LeSueur. "Enquanto o impacto físico do Idai começa a emergir, as consequências humanas ainda não estão claras", lê-se num comunicado.
Foto: NASA
Deslocados à procura de abrigo
Milhares de pessoas estão desalojadas na zona centro de Moçambique. O Presidente Filipe Nyusi, que sobrevoou a região, indicou que aldeias inteiras desapareceram nas enchentes e que há regiões totalmente incomunicáveis. "Vimos durante o voo corpos flutuando, um verdadeiro desastre humanitário de grandes proporções", assinalou o chefe de Estado.
Foto: DW/B. Chicotimba
Estrada de acesso à cidade da Beira fechada
Com as fortes chuvas, o nível dos rios subiu. Um deles, o rio Haluma, transbordou e cortou a estrada nacional 6, espinha dorsal do centro de Moçambique e única via de acesso à Beira. A cidade ficou isolada. Em entrevista à AFP, o ministro do Meio Ambiente de Moçambique, Celso Correia, afirmou que "este é o maior desastre natural ocorrido no país".
Foto: DW/A. Sebastião
Motoristas isolados na estrada
Isolados na estrada nacional 6, única via de acesso à Beira, moçambicanos aguardam até que a via seja desbloqueada. Formou-se uma longa fila de camiões e outros veículos. Os ventos fortes derrubaram postes.
Foto: DW/A. Sebastião
Noutras vias, mais destruição
A estrada número 260, que liga Chimoio a Mossurize, também não escapou à intempérie. A ponte sobre o rio Munhinga foi arrastada, isolando os dois distritos. Formaram-se enormes buracos nas rodovias, a isolar zonas de Moçambique e a dificultar o acesso às equipas de socorro.
Foto: DW/B. Chicotimba
A fúria das águas
A ponte sobre o rio Haluma, em Nhamatanda, zona central de Moçambique, ficou submersa. É mais uma zona afetada pelas cheias e pelo nível elevado dos rios. Uma camioneta que transportava dez pessoas foi arrastada ao passar pelo local. Seis pessoas morreram e quatro conseguiram salvar-se, penduradas em cima de um camião basculante.
Foto: DW/B. Chicotimba
População precisa de ajuda médica
Mais de cem salas de aulas ficaram destruídas nas regiões mais afectadas pelo ciclone e cheias nos distritos moçambicanos de Chinde, Maganja da Costa, Namacurra e Nicoadalá. Em visita à Zambézia, o Presidente Filipe Nyusi afirmou que, além de bens alimentares, a população necessita também, com prioridade, de assistência médica.
Foto: DW/M. Mueia
Ciclone Idai leva a cancelamento de voos
A passagem do fenómeno também afetou os transportes aéreos. O aeroporto da Beira ficou inoperante entre quinta-feira (14.03.) e domingo (17.03). Todos os voos domésticos foram suspensos. Dezenas de voos previstos para descolar do aeroporto internacional de Maputo, o maior de Moçambique, foram cancelados. O fecho dos aeroportos também dificultou a chegada de ajuda humanitária.
Foto: Getty Images/AFP/E. Josine
Depois de Moçambique, Zimbabué e Malawi
O ciclone Idai atingiu a Beira na quinta-feira (14.03), tendo seguido depois para oeste, em direção ao Zimbabué e ao Malawi, afetando mais milhares de pessoas, em particular nas zonas orientais da fronteira com Moçambique. Casas, escolas, empresas, hospitais e esquadras ficaram destruídas. Estradas e pontes desapareceram, o que dificulta os trabalhos de resgate.
Foto: picture-alliance/S. Jusa
Plantações devastadas pela força do ciclone
No Zimbabué, o número de mortos após a passagem do ciclone Idai chega a 82. O Presidente Emmerson Mnangagwa disse que a resposta do Governo está a ser coordenada pelo Departamento de Proteção Civil através dos comités de Proteção Civil nacional, provincial e de distrito, com o apoio de parceiros humanitários.
Foto: picture-alliance/S. Jusa
Ciclone Idai chega ao Malawi
Os distritos de Chikwawa e Nsanje, no Malawi, ficaram inundados com a passagem do ciclone Idai. Segundo o balanço mais recente do Departamento de Gestão de Riscos, no país foram registadas 56 mortes. Quase 1 milhão de pessoas foram afetadas pela passagem do ciclone. De acordo com a Federação Internacional da Cruz Vermelha, 80 mil viram as suas casas destruídas e estão sem onde se refugiar.
Foto: Getty Images/AFP/A. Gumulira
Cheias nos rios aumentam risco de doenças
A Organização Mundial da Saúde (OMS) já alertou as autoridades para a importância de se levar a cabo um levantamento dos estragos nos serviços de saúde, já que o agravamento das cheias nos próximos dias, devido à continuação de chuvas fortes, aumenta o risco do aparecimento de doenças transmissíveis pela água e pelo ar.