Centro Nadeem para Reabilitação das Vítimas de Tortura recebeu neste segunda-feira (16.04.) em Berlim o prémio dos direitos humanos da Amnistia Internacional. Fundadora Aida Seif al-Dawla falou sobre trabalho do Centro.
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Há 25 anos a ativista egípcia dos direitos humanos Aida Seif al-Dawla juntamente com duas mulheres do Cairo fundaram o Centro Nadeem. Desde então o encontro com as vítimas de tortura tem estado no centro das suas vidas.
"Nunca antes a tortura e violência foram tão brutais no Egito como desde 2013. O que vimos desde então ultrapassa a imaginação. É violência pela violência e brutalidade por causa da brutalidade", denuncia Aida Seif al-Dawla.
Tortura e abusos aconteceram sempre, tanto sob o regime do ex-Presidente Hosni Mubarak como no de Muhammed Mursi, presidentes islamistas e da Irmandade Muçulmana. Em 2013 o Presidente Abdel-Fattah al-Sisi e o exército tomaram o poder. Governam o país com mão de ferro - até nas esquadras e cadeias.
Aida Seif al-Dawla revela que "as agressões começam com socos e pontapés. Isso é tão comum que já ninguém fala sobre isso. E depois seguem-se os choques elétricos, dão choques aos prisioneiros na língua, dedos dos pés e órgãos genitais. E outros são estuprados."
As represálias das forças de defesa e segurança são contra supostos terroristas ou membros da Irmandade Muçulmana, mas afetam também críticos do regime, ativistas e dissidentes.
A procura de um ouvido estranho
A defensora dos direitos humanos conta ainda que "os presos políticos são vendados por vários dias até não saberem se é dia ou noite. Não podem falar com outros presos, não podem usar os seus nomes, perderam os nomes e agora são identificados através de números. Essa perda de identidade muitas vezes causa traumas de longa duração."
Desde 1993 que os médicos do Centro Nadeem para a reabilitação das vítimas de tortura cuidam das vítimas, incluindo atendimento de psicoterapia. Aida Seif al-Dawla: "Quem nos procura quer, acima de tudo, contar toda a sua história a um estranho. Ele pode contar tudo sem se envergonhar, num lugar longe da família onde pode soltar a sua raiva e ansiedade."
Ninguém sabe se foram centenas ou milhares as pessoas torturadas nos últimos anos. Os defensores dos direitos humanos publicaram números que representam apenas casos documentados ou estimativas.
Governo prefere o termo "uso excessivo de força"
AI premeia Centro Nadeem
O regime reage às alegações de tortura dizendo que "estes casos são isolados" como esclareceu o jovem Omar Marwan, ministro dos assuntos Parlamentares. Nos últimos quatro anos houve denúncias de torturas e maus tratos contra 72 polícias. 31 deles foram levados à justiça. "A violência não faz parte da política", disse o ministro, no Egito a tortura não é usada de forma sistemática.
Mas Aida Seif al-Dawla contesta: "Quando oiço os mesmos relatos das vítimas que não se conhecem, de diferentes partes do país, então sei que não se tratam de casos isolados."
Um problema é também a definição. Oficialmente o Estado considera a tortura como a única forma de obter declarações/confissões. Todos os outros maus tratos, mesmo que a vítima morra, não são classificados como tortura, mas sim "uso excessivo da força".
Direitos Humanos - Prêmio Mídia para o Desenvolvimento
No âmbito do Prêmio Mídia para o Desenvolvimento, promovido pela DW, o público escolheu as melhores fotografias africanas para a categoria "Direitos Humanos em África". Nós mostramos as fotos selecionadas.
Foto: Adballe Ahmed Mumin
A aldeia do abuso sexual
Nikiwe Masango, de 87 anos, acordou no meio de uma noite com um homem sobre ela, em Jambeni, na África do Sul. "Me violou durante toda a noite. Pediu para que eu cobrisse meus olhos, assim eu não poderia identificá-lo", diz Masango. Foto: Lungi Mbulwana. Uma das fotos que foram selecionadas pelo público para o Prêmio Mídia para o Desenvolvimento da DW na categoria "Direitos Humanos em África".
Foto: Lungi Mbulwana
Brutalidade policial
O motorista de um taxi-motocicleta "okada" defende-se de um policial após ser preso por se desnudar em um protesto em Lagos, na Nigéria. Em 2012, o governo de Lagos baniu as "okadas" das principais avenidas da capital nigeriana. A polícia foi acusada de uso excessivo da força e violência para forçar o cumprimento da legislação do tráfego na cidade. Foto: Olufemi Ajasa.
Foto: Olufemi Ajasa
Onde há vontade, há educação
Estes alunos estão prestes a remar para a casa em Makoko, um bairro de lata construído com palafitas sobre as lagoas de Lagos. A educação tem sido descrita como a grande arma contra a pobreza. Mas, este bairro de lata flutuante, o mais pobre da Nigéria, muitas crianças têm pouca esperança de ir para a escola. Na foto, estão crianças de sorte. Foto: Oluyinka Ezekiel Adeparusi.
Foto: Oluyinka Ezekiel Adeparusi
Os males sanitários da Cidade do Cabo
Um garoto se diverte pulando sobre casas de banho em Khayelitsha, perto da Cidade do Cabo, na África do Sul. Para as pessoas vivendo em assentamentos informais na região, ir à casa de banho pode ser um pesadelo. As instalações têm manutenção precária e não são higiênicas. O alto índice de criminalidade obriga as pessoas a optarem pelo uso de baldes em suas casas. Foto: David Harrison.
Foto: David Harrison
As emoções dos desafortunados
Este homem sul-africano passou mais de 20 anos na prisão. Cada tatuagem no seu rosto simboliza seu status e posição na quadrilha. O retrato mostra que existe beleza em cada um de nós, apesar das circunstâncias que enfrentamos na vida. Foto: Theodore Afrika.
Foto: Theodore Afrika
Maternidade segura
Zituni mostra orgulhosamente seu saudável bebê que nasceu em um pequeno hospital, a alguns metros de sua cabana. O hospital localizado na aldeia de Diff, na fronteira do Quênia com a Somália, tem uma ala de maternidade. A primeira deste tipo na área. Foto: Abraham Ali.
Foto: Abraham Ali
Tribunal de rua
Um homem é arrastado pelas ruas de um bairro da Cidade do Cabo após ter sido espancado pela população, suspeito de ter roubado um telemóvel. O homem foi levado ao hospital pela polícia, mas ninguém foi preso pelo linchamento. O direito a um julgamento justo é um direito humano. Foto: Lulama Zenzile.
Foto: Lulama Zenzile
O espancamento de Bonnie
Agentes de segurança levam o ativista queniano Boniface Mwangi após ele gritar: "traidor, traidor!", durante o discurso de um dirigente sindical. Mwangi foi posteriormente espancado e trancado em uma cela da polícia por fazer uso, pura e simplesmente, do seu direito de liberdade de expressão. Foto: Evans Habil Kweyu.
Foto: Evans Habil Kweyu
O longo caminho para a água potável
Estas pessoas do vilarejo de Jatokrom, no norte do Gana, caminham quilômetros para buscar água da represa. O rio perto da comunidade agrícola secou. A barragem é usada para armazenar água e não é própria para o consumo humano. Milhões de pessoas no Gana ainda carecem de acesso a água potável. Foto: Geoffrey Buta.
Foto: Geoffrey Buta
As lágrimas de uma família despejada
Uma mãe de sete crianças chora na rua. Ela e seus familiares foram despejados de sua casa na capital do Chade, N'Djamena, para dar lugar a um novo hotel de luxo. Mais de 670 pessoas na cidade foram expulsas e suas casas demolidas. Nenhuma, incluindo esta mulher, receberam indenização ou uma moradia alternativa. Foto: Salma Khalil Alio.
Foto: Salma Khalil Alio
Lutando pelo direito de informar
Jornalistas somalis protestam contra a detenção e assassinato de colegas de profissão. As manifestações acontecem depois da prisão de um repórter que entrevistou uma mulher vítima de abuso sexual pelas forças do governo. Com 18 jornalistas mortos em 2012, a Somália é um dos mais perigosos lugares do mundo para profissionais de imprensa. Foto: Adballe Ahmed Mumin.