Cerimónias públicas decorrem na quarta-feira. No dia seguinte tem lugar o funeral organizado pela família, anunciou a RENAMO. Ossufo Momade foi eleito líder interino do partido até ao próximo congresso.
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As cerimónias fúnebres de Afonso Dhlakama, presidente da Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO), vão decorrer na quarta-feira, dia 9 de maio, a partir das 08:00, no campo desportivo do Ferroviário da Beira, anunciou este sábado (05.05) a comissão política nacional do partido.
O corpo do líder da oposição de Moçambique vai sair da morgue do Hospital Central da Beira diretamente para o recinto, que vai acolher as cerimónias públicas, detalhou Ossufo Momade, coordenador da comissão política, numa conferência de imprensa na cidade da Beira.
Na quinta-feira, dia 10 de maio, será realizado o funeral organizado pela família em Mangunde, distrito de Chibabava, no interior da província de Sofala, terra natal do líder da RENAMO, a cerca de 300 quilómetros da Beira.
Durante o anúncio do programa das cerimónias, Ossufo Momade pediu aos membros e simpatizantes do partido e à sociedade em geral "muita calma e coragem".
O Conselho de Ministros moçambicano já tinha anunciado na sexta-feira, após reunião extraordinária, em Maputo, que Dhlakama teria um funeral oficial ao abrigo do estatuto especial do líder do segundo partido com assento parlamentar (líder da oposição). Segundo o jornal moçambicano CanalMoz, o Governo não vai decretar luto nacional.
Ossufo Momade eleito presidente interino
Entretanto, o ex-deputado e antigo secretário-geral da RENAMO Ossufo Momade foi nomeado presidente interino do partido, na sequência da morte de Afonso Dhlakama, na quinta-feira, na Serra da Gorongosa, devido a complicações de saúde.
A informação foi avançada este sábado pelo porta-voz da RENAMO Alfredo Magumisse: "O tenente-general Ossufo Momade foi eleito por unanimidade coordenador do trabalho da comissão política nacional da RENAMO".
A morte inesperada de Dhlakama gera incerteza quanto aos próximos passos nas negociações de paz com o Presidente Filipe Nyusi. "Nós vamos dar honra e dignidade ao trabalho que ele [Afonso Dhlakama] iniciou", referiu Ossufo Momade, coordenador do órgão nacional, na conferência de imprensa da RENAMO na cidade da Beira.
O líder da oposição e o Presidente de Moçambique já tinham divulgado, em fevereiro, um acordo acerca da descentralização do poder, permitindo a eleição de autoridades regionais e locais. A proposta de alteração constitucional para acomodar o acordo, a tempo das eleições autárquicas de 10 de outubro, encontra-se em discussão na Assembleia da República.
Ficou por anunciar antes da morte de Dhlakama um outro entendimento relativo à desmilitarização, desmobilização e reintegração do braço armado da RENAMO. Um novo acordo para a paz em Moçambique depende dos dois dossiês, conforme foram anunciando Filipe Nyusi e o líder da oposição, nos últimos meses, num tom geralmente otimista sobre o decorrer das negociações.
Momade disse ainda que vai liderar a RENAMO até o próximo congresso, cuja data não avançou. "A partir daí vamos ter alguém para decidir em relação aos destinos do partido", acrescentou Momade, sem mais pormenores. "Deixem-nos realizar o funeral do nosso presidente. Não é altura de procurarmos o dia e a data em relação àquilo que vai acontecer no futuro", concluiu.
Ossufo Momade era até agora chefe do departamento de defesa da RENAMO. Foi ainda nessa qualidade que na sexta-feira à noite leu o primeiro comunicado oficial do partido, em que a RENAMO confirmava a morte do seu líder.
Moçambique: Guerra civil com pausas de paz
A paz nunca foi uma certeza em Moçambique. Ela apenas tem intercalado confrontos militares desde a independência. Acordos de paz mal concebidos parecem estar na origem dos conflitos. Mas há novos bons sinais à vista.
Foto: Presidencia da Republica de Mocambique
O começo da guerra civil
A guerra entre o Governo da FRELIMO e a RENAMO começou em 1977, isso cerca de dois anos após a proclamação da independência do país. A RENAMO contestava a governação da FRELIMo e queria democracia. Este movimento tinha o apoio da ex-Rodésia e da África do Sul, dois vizinhos de Moçambique. A guerra matou milhões de moçambicanos e quase paralisou a economia do país.
Acabar com a guerra era o obetivo deste acordo, alcançado em 1984. Foi assinado entre os antigos Presidentes de Moçambique e da África do Sul, Samora Machel e Peter Botha, respetivamente. Ficou acordado que Pretória deixava de apoiar a RENAMO e Maputo parava o apoio ao ANC. Este último que lutava contra o Apartheid. Mas ninguém respeitou o acordo.
Foto: Avant Verlag/Birgit Weyhe
Acordo Geral de Paz de Roma
Colocou finalmente fim a guerra em 1992. Foi patrocinado pela Comunidade Santo Egídio, instituição católica italiana. Nessa altura o país já estava devastado e tinha transitado do sistema socialista para o da economia de mercado. Afosno Dhlakama, líder da RENAMO, e Joaquim Chissano, ex-Presidene de Moçambique, assinaram um acordo que pôs fim a uma guerra de 16 anos.
Eleições: nova era de desentendimentos
Em 1994 o país dava os seus primeiros passos rumo a democracia: início do multipartidarismo e realização das primeiras eleições, patrocinadas pela ONU. O primeiro Presidente eleito do país foi Joaquim Chissano. A RENAMO contestou, mas acabou por aceitar os resultados eleitorais.
Foto: Getty Images/AFP/Gianluigi Guercia
Eleições 1999: RENAMO revolta-se
Nas segundas eleições, em 1999, Joaquim Chissano e a FRELIMO voltaram a ganhar. Mas o processo foi novamente marcado por graves irregularidades, a RENAMO diz que houve fraude e contestou com mais veemência. E no ano 2000 apoiantes da RENAMO manifestaram-se em Montepuez província de Cabo Delgado, contra os resultados. Cerca de 700 manifestantes terão sido detidos e mortos por asfixia nas celas.
Foto: Marc Dietrich-Fotolia.com
Rastilho para o barril de pólvora já arde
As sucessivas irregularidades nas eleições, a lei eleitoral desajustada e difícil integração dos ex-guerrilheiros da RENAMO no exército nacional foram os principais pontos que aumentaram a tensão com o Governo. A falta de confiança que caracteriza a relação entre as partes aumentou.
Foto: Gerald Henzinger
As armas falam novamente
Em 2013 a polícia e homens da RENAMO confrontaram-se. Era o início dos conflitos armados. Nesse ano a RENAMO recusa a aprovação da Lei Eleitoral e não participa nas autárquicas. Há um interregno no conflito para a realização de eleições gerais em 2014. A RENAMO perde e acusa a FRELIMO de fraude. O país volta a ser palco de guerra. RENAMO exige governar as seis províncias onde diz ter ganho.
Foto: Fernando Veloso
Guebuza e Dhlakama: o braço de ferro até ao fim
Em setembro de 2014 o Presidente Armando Guebuza e o líder da RENAMO chegam a acordo para por fim ao conflito armado. Abriu-se assim caminho para as eleições gerais, onde a RENAMO participou. Mas as negociações entre os dois homens nunca foram fáceis. Para começar os encontros foram poucos.
Foto: Jinty Jackson/AFP/Getty Images
Na guerra vale tudo
Em Setembro de 2015 Dhlakama sofreu dois atentados. Um deles contra a coluna em que viajava, de Manica a Nampula. Afonso Dhlakama saiu ileso, mas segundo relatos morreram várias pessoas. Mais tarde várias viaturas da comitiva do líder da RENAMO foram queimadas. Dhlakama acusou a FRELIMO pelos atentados.
Foto: DW/A. Sebastião
Cerco a casa de Afonso Dhlakama
Em outubro de 2015 a guarda pessoal do líder da RENAMO foi desarmada pelas forças governamentais durante um cerco à sua residência na cidade da Beira. O Governo pretendia um desarmamento forçado dos homens da RENAMO. O desarmamento da maior força da oposição é um dos pontos controversos nas negociações de paz.
Foto: picture-alliance/dpa/A. Catueira
Diálogo de paz pouco frutífero
Infindáveis rondas marcaram as negociações de paz. E em paralelo as armas falavam nas matas, membros da RENAMO eram assassinados a média de um por mês em 2016. Observadores e mediadores, nacionais e internacionais, entraram e saíram do barulho sem conseguir muito. Houve também adiamentos de rondas e algumas pausas no processo.
Foto: Leonel Matias
Dhlakama e Nyusi: maior proximidade, bons sinais
Em agosto de 2017 o Presidente Nyusi deslocou-se à Gorongosa, bastião da RENAMO, para se encontrar com Dhlakama. Os dois líderes acordaram sobre os próximos passos no processo de paz. Esperavam um acordo de paz até ao final de 2017, mas tal não deverá acontecer. Entretanto, Dhlakama está satisfeito com o andamento das negociações. O sigilo entre os dois parece ser o segredo de um bom entendimento.