Cessar-fogo entre Rússia e Turquia entra em vigor na Síria
rl | Reuters | Lusa | DPA
6 de março de 2020
Um cessar-fogo entre a Turquia e a Rússia na província síria de Idlib entrou em vigor às zero horas de sexta-feira (06.03). Secretário-geral da ONU espera que acordo leve ao fim "imediato e duradouro" das hostilidades.
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Após mais de seis horas de conversações em Moscovo, na quinta-feira (05.03), o Presidente russo, Vladimir Putin, e o seu homólogo turco, Recep Tayyip Erdogan, chegaram a acordo para uma trégua neste conflito, que desde 2011 já provocou a morte a cerca de 380 mil pessoas.
No final do encontro, coube ao Presidente turco fazer o anúncio: "Esta noite, a partir da meia-noite, vai entrar em vigor um cessar-fogo. Para que seja duradouro, serão realizadas todas as ações necessárias de forma rápida e eficiente. O nosso objetivo é evitar o agravamento da crise humanitária na região. Trabalharemos em conjunto para fornecer ajuda a todos os sírios que se encontrem em dificuldades, sem qualquer requisito ou discriminação".
Também Vladimir Putin diz esperar que este acordo coloque "finalmente um ponto final no sofrimento da população”. "Nós nem sempre concordamos com os nossos parceiros turcos em relação à Síria. Mas em momentos críticos, e tendo em conta o alto nível de contactos bilaterais que alcançámos, conseguimos encontrar soluções agradáveis. Desta vez não foi diferente", disse.
Ainda que estejam em partes opostas no conflito – a Rússia a apoiar o regime de Damasco e a Turquia a apoiar os grupos rebeldes que controlam Idlib - Moscovo e Ancara têm tentado resolver a situação. No entanto, todas as tentativas anteriores saíram falhadas.
Ancara retaliará "qualquer ataque" de Damasco
Também esta quinta-feira, aquando das declarações dos dois chefes de Estado no Kremlim, Erdogan acrescentou que, apesar da trégua, Ancara reserva-se no direito de "retaliar" contra "qualquer ataque" de Damasco.
Cessar-fogo entre Rússia e Turquia entra em vigor na Síria
Para além do acordo do cessar-fogo, os dois países anunciaram ainda a criação de patrulhas conjuntas ao longo da principal via rodoviária desta região da Síria a e que atravessa a região de Idlib.
"Será estabelecido um corredor de segurança na auto-estrada M4, cujos detalhes de funcionamento serão acordados entre os Ministérios da Defesa dos dos países no prazo de sete dias. Assim, a 15 de março, iniciar-se-ão as patrulhas comuns russo-turcas ao longo desta autoestrada", explica o ministro dos Negócios Estrangeiros turco, Mevlüt Çavusoglu.
Guterres espera fim imediato das hostilidades
O secretário-geral da ONU, António Guterres, já reagiu ao anúncio do cessar-fogo e disse esperar que este acordo leve ao fim "imediato e duradouro" das hostilidades na província de Idlib, em benefício da população” que, frisa, "já foi vítima de "um sofrimento enorme".
Em comunicado, António Guterres pede também um regresso ao processo político para acabar com a guerra na Síria.
Entretanto, de acordo com o Observatório Sírio dos Direitos Humanos, o cessar-fogo parece ter levado uma calma "relativa" à região de Idlib. Também um ativista que vive na cidade de Idlib relatou à agência dpa que a situação está calma em todas as frentes.
Cronologia da Guerra na Síria
Começou com protestos pacíficos em 2011, mas tornou-se numa guerra civil que já matou 350 000 pessoas e fez milhões de refugiados. Um conflito complexo com vários atores e repercussões à escala internacional.
Foto: Getty Images/AFP/G. Ourfalian
2011: O início e uma Primavera que não foi
A “Primavera Árabe” estende-se à Síria e começam a emergir protestos contra a família Assad, que lidera o país há mais de quarenta anos. O movimento contra o Governo ganhou amplitude na cidade de Deraa, no sul, alargando-se a todo o país. Ao contrário de outros países, onde as manifestações resultaram em mudanças quase imediatas, na Síria marcavam o início de um conflito sem fim à vista.
Foto: picture-alliance/dpa
2012: Escalada de violência e formação da oposição
A violenta repressão por parte de milícias do Governo de al-Assad contra manifestantes desarmados fez escalar a onda de violência. Grupos da oposição, representativos das diferentes ideologias e fações religiosas, começam a organizar-se a partir de 2011, como o Conselho Nacional Sírio, o Comité de Coordenação Nacional, o Exército Livre da Síria (foto) e o Conselho Nacional Curdo.
Foto: AP
2013: Desmantelamento de arsenal químico
Um ataque químico em dois setores rebeldes perto de Damasco, atribuído ao regime de al-Assad, faz mais de 1400 mortos, de acordo com os Estados Unidos. O regime sírio desmente. O então Presidente dos EUA, Barack Obama, estabelece com a Rússia um acordo de desmantelamento de armas químicas da Síria. Em outubro, Damasco inicia a destruição do seu arsenal declarado de armas químicas.
Foto: picture-alliance/AP Photo
2014: A ameaça do "Estado Islâmico"
Apoiada por Washington, uma coligação de mais de 60 países realiza ataques aéreos contra as posições do autointitulado “Estado Islâmico” (EI) na Síria. Cerca de 2000 militares norte-americanos são colocados no norte da Síria, para combater o EI e treinar as forças locais. Em junho, o EI proclama "um califado", e torna a cidade síria de Raqa na sua capital.
Foto: picture-alliance/AP Photo
2015: Rússia entra abertamente no conflito
Em setembro, a Rússia, que desde o início fornecera ajuda militar ao Governo sírio, entra ativa e abertamente no conflito. Inicia uma campanha de bombardeamentos aéreos em apoio às forças de Bashar al-Assad, que leva o Governo sírio a recuperar território perdido para os rebeldes.
Foto: Reuters/Rurtr
2016: Governo controla Aleppo
Em setembro, num único fim de semana, a cidade de Aleppo é alvo de 200 ataques aéreos pelas forças pró-Assad. Em dezembro, após quatro anos de controlo desta cidade, a segunda maior da Síria, as milícias rebeldes acabam por perder Aleppo para as forças governamentais.
Foto: Getty Images/AFP/G. Ourfalian
2017: Ataque químico em Idleb
Um ataque de gás sarin mata mais de 80 civis em Khan Cheikhoun, localidade da província de Idleb, controlada pelos rebeldes e por 'jihadistas'. O regime de Bashar al-Assad é, uma vez mais, acusado de uso de armas químicas. O Presidente dos EUA, Donald Trump, ordena ataques à base aérea Síria de Al-Chaayrate, no centro do país.
Foto: picture alliance/AA/A.Dagul
2017 : Retoma de Raqa
Em outubro, depois de meses de luta, as forças democráticas sírias, dominadas por curdos e apoiadas pela coligação internacional, tomam o controlo de Raqa. A cidade esteve três anos sob o domínio do autointitulado “Estado Islâmico”.
Foto: DW/F. Warwick
2018: Turquia invade Síria e controla Afrin
Em janeiro, a Turquia, que mantinha um dispositivo militar no norte da Síria, lança uma grande ofensiva contra a milícia curda, as Unidades de Proteção do Povo (YPG), em Afrine. Em março, a Turquia acaba por tomar controlo desta cidade. As milícia curda YPG é considerada um grupo terrorista pelo Governo turco, pois é o braço sírio da organização curda da Turquia, o PKK.
Foto: picture alliance/AA/E. Sansar
2018: Forças pró-Assad bombardeiam e retomam Ghouta Oriental
O regime sírio lança uma ofensiva aérea e terrestre, de intensidade inédita, sobre o enclave rebelde de Ghouta Oriental, perto de Damasco. A ação resulta em mais de 1700 mortos, entre os quais crianças. Em abril, depois de bombardeamentos devastadores, mas também de acordos de evacuação patrocinados pela Rússia, o regime assume o controlo de Ghouta Oriental, último bastião dos insurgentes.
Foto: Getty Images/AFP/A. Almohibany
14 de abril de 2018: A resposta do Ocidente
EUA, França e Reino Unido realizam uma série de ataques contra alvos associados à produção de armamento químico na Síria, em resposta a um alegado ataque com armas químicas em Douma, Ghouta Oriental, por parte do Governo sírio. Trump justifica os ataques como uma resposta à "ação monstruosa" do regime de Assad contra a oposição e prometeu que a operação durará "o tempo que for necessário".