As Nações Unidas anunciaram que as partes em conflito na Líbia alcançaram um "feito histórico" com um acordo de cessar-fogo permanente em todo o país.
Publicidade
A Comissão Conjunta Militar, conhecida como 5+5, chegou esta sexta-feira (23.10) ao que a ONU considera ser um "importante ponto de viragem para a paz e a estabilidade na Líbia" - um acordo de cessar-fogo permanente em todo o país.
"Espero que este acordo contribua para acabar com o sofrimento do povo líbio e esperamos que permita aos deslocados e aos refugiados, no interior e no exterior do país, regressar às suas casas e viver em paz e segurança", disse a chefe da Missão de Apoio das Nações Unidas na Líbia (MANUL).
Stephanie Williams, que mediou as negociações da última semana, já se tinha mostrado "bastante otimista" quanto à possibilidade de um cessar-fogo duradouro.
A representante da ONU adiantou que o cessar-fogo deve ser acompanhado da saída da Líbia "dos mercenários e combatentes estrangeiros num prazo máximo de três meses a contar de hoje".
UE impõe condições para apoio
A União Europeia (UE) considera que o acordo é "uma boa notícia", apelando à sua implementação efetiva.
Vendido como escravo
02:11
Contudo, isso poderá ser "mais difícil" do que o compromisso agora negociado, comentou Peter Stano, porta-voz do chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell.
A UE condicionou o seu apoio económico e político à Líbia a três pré-condições: um cessar-fogo permanente, o levantamento do bloqueio das exportações de petróleo e o retomar do diálogo político.
A Turquia duvida, no entanto, da credibilidade do acordo assinado esta sexta-feira em Genebra. "O acordo de cessar-fogo de hoje não foi concluído ao mais alto nível, mas a um nível inferior", afirmou Recep Tayyip Erdogan, o Presidente da Turquia, que apoia militarmente uma das partes do conflito.
Caos pós-Kadhafi
A Líbia tem sido palco de violência e de lutas de poder desde a queda do regime de Muammar Kadhafi em 2011. Duas autoridades disputam atualmente o poder, ambas amparadas por militares: o Governo de acordo nacional (GAN, reconhecido pelas Nações Unidas e sediado em Tripoli) e o marechal Khalifa Haftar no leste do país.
Os combates na Líbia causaram centenas de mortos e obrigaram à fuga de dezenas de milhares de pessoas.
Líbia à beira de uma crise de água
Devido ao petróleo, a Líbia já foi um dos países mais ricos de África, mas a intervenção militar internacional e a guerra civil mergulharam o país no caos. Muitos estão em risco de perder o acesso a água potável.
Foto: Reuters/H. Ahmed
Necessidades básicas
A Líbia atravessa uma crise no seu sistema de saúde. As regiões ocidentais, em particular, estão a ficar sem água potável. 101 das 149 condutas do sistema de abastecimento de água foram já destruídas na sequência da situação caótica que o país vive.
Foto: Reuters/E.O. Al-Fetori
Sistema de condutas de água deteriorado
O país é maioritariamente composto por deserto árido. Na década de 1980, ainda com o ditador Muammar Kadhafi no poder, foi construído um vasto e avançado sistema de condutas conhecido como o "Grande Rio Artificial da Líbia". Um projeto que levou o abastecimento de água potável a mais de 70% da população do país. No entanto, desde a queda de Kadhafi, o sistema tem sido danificado.
Foto: Reuters/E.O. Al-Fetori
Guerra civil e caos
Desde a queda de Kadhafi, em 2011, após uma intervenção militar internacional liderada pelos EUA e a França, o país está mergulhado no caos. O Governo reconhecido pela comunidade internacional, com sede em Tripoli, é fraco e não controla grande parte do território líbio. Por seu lado, o General Khalifa Haftar e o seu autoproclamado Exército Nacional (LNA) controlam o leste do país.
Foto: AFP/M. Turkia
Alvo Tripoli
O LNA, em particular, tem utilizado o sistema de condutas de água para fazer exigências, colocando assim em perigo a população da Líbia. Em maio, as forças leais ao marechal Haftar obrigaram os trabalhadores do setor da água a cortar a principal conduta que abastecia a capital sitiada, Tripoli, durante dois dias. E exigiram que as autoridades libertassem um prisioneiro.
Foto: Reuters/H. Ahmed
Água como arma de guerra
Mas não são apenas os grupos rebeldes que usam o sistema de abastecimento de água do país como moeda de troca para defender os seus interesses. Há também pessoas que desmontam bocas de poços para vender o cobre de que são feitas estas estruturas. As Nações Unidas já alertaram os diferentes lados do conflito para que não utilizem a água como arma de guerra.
Foto: Reuters/E.O. Al-Fetori
Riscos para a saúde
Mostafa Omar, porta-voz da UNICEF para a Líbia, estima que, no futuro, cerca de quatro milhões de pessoas poderão ser privadas do acesso a água potável se não for encontrada uma solução para o conflito. A falta de água pode resultar em surtos de hepatite A, cólera ou outras doenças diarreicas.
Foto: Reuters/E.O. Al-Fetori
Água imprópria para consumo
A juntar à escassez da água, está o problema da contaminação deste recurso em algumas áreas do país. A presença de bactérias ou um elevado teor de sal tornam a água imprópria para consumo. "De facto, muitas vezes, a água já não é potável", constata Badr al-Din al-Najjar, diretor do Centro Nacional de Controlo de Doenças da Líbia.