Apesar de prejuízos financeiros impostos por acordo falhado com Governo, empresa Portos e Caminhos de Ferro de Moçambique diz que é preciso "olhar para frente". Companhia prevê reabilitação de linhas férreas para 2018.
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A empresa Portos e Caminhos de Ferro de Moçambique (CFM) continua a abater os prejuízos causados pelo incumprimento, por parte do Governo moçambicano, de um contrato com a empresa italiana SALCEF. O acordo se referia a um estudo de viabilidade para a construção de uma linha de metro que ligaria as cidades de Maputo e Matola.
Os prejuízos para os cofres do Estado resultantes do pedido de indemnização por parte do grupo italiano rondam os 3,2 milhões de dólares e estão a ser liquidados gradualmente. "Acabamos por ter um encargo que, de certo modo, tem implicações naquilo que é a nossa situação financeira. Mas, pronto, estamos a dar cobro a isso. Temos valores que vamos pagando estrategicamente com o tempo", afirmou à DW África o presidente da CFM, Miguel José Matabel.
A oposição criticou o Governo moçambicano por ilegalidades e falta de transparência devido à ausência de um concurso público na primeira etapa do estudo. Em 2014, a parceria público-privada foi parar num centro internacional de arbitragem.
O Governo desistiu da parceria com a SALCEF e a empresa exigiu uma indemnização de 6,5 milhões de dólares. De acordo com analistas moçambicanos, o executivo de Maputo nunca tentou apurar responsabilidades, estando a CFM a suportar os custos de um negócio mal feito.
Apesar dos prejuízos, o presidente da CFM diz que não quer olhar para o passado e ressalta que a prioridade é investir nos projetos de reabilitação e melhoria das infraestruturas férreas e portuárias do país. "São águas passadas. Agora estamos mais preocupados em ver o que é que vai acontecer daqui em diante", destaca.
Reabilitação de linhas férreas
A empresa estatal moçambicana quer garantir melhor qualidade dos serviços a partir de 2018, de modo a pôr fim à perene deficiência dos transportes públicos no país, nomeadamente das linhas férreas e da rede de metro.
Segundo Miguel José Matabel, a expansão do metro é um projeto para a classe média. Alguns equipamentos, como locomotivas e carruagens, devem chegar ainda este ano. "Portanto, vai haver uma integração e isso vai ter um impacto positivo no país", diz.
12.09.17 - Moçambique Investimentos - MP3-Stereo
O plano inclui a reabilitação das linhas de Ressano Garcia e de Machipanda. "A Ressano Garcia é uma linha que precisa de melhorias em termos da sua estabilidade para aumentar os tráfegos, melhorarmos em termos de projeto de implementação ou de aumento do equipamento, neste caso, falando de material circulante, locomotivas e vagões", explica.
Já a linha de Sena foi devidamente reabilitada e tem capacidade razoável para dar resposta ao tráfego de carvão em Moatize, completa.
Segundo o presidente da CFM, os investimentos vão também beneficiar o Porto de Macuse, com ligação até Muatize. O projeto de desenvolvimento logístico do Porto de Pemba, no norte do país, será uma oportunidade para a exploração de gás na região.
Bicicletas táxi em Moçambique
Quem em Quelimane se quiser movimentar rapidamente, apanha uma bicicleta táxi. As ruas da cidade são muito más para os transportes convencionais. Para muitos, a bicicleta táxi é uma forma de poderem obter algum dinheiro.
Foto: Gerald Henzinger
Bicicletas em alternativa aos carros
Quelimane é uma cidade na costa de Moçambique. Quem por aqui se quiser movimentar rapidamente, apanha uma bicicleta táxi. As ruas da cidade são muito más para os convencionais táxis e autocarro. Além disso, para muitas pessoas, a bicicleta táxi é uma das poucas formas de poderem obter algum dinheiro.
Foto: Gerald Henzinger
Estradas intransitáveis para carros
Quelimane é a capital da província moçambicana da Zambézia. No entanto, as estradas estão em estado deplorável. As pistas de terra estão cheias de buracos. Quando chove, enchem-se de água e tornam as estradas intransitáveis para os carros e para os miniautocarros. As bicicletas táxi, porém, podem contornar as poças de água.
Foto: Gerald Henzinger
Viajar de bicicleta táxi
Dependendo da distância, uma viagem de bicicleta táxi pode custar entre 5 e 20 meticais (aproximadamente entre 15 e 60 cêntimos de euro). Primeiro, o preço é negociado com o motorista. Depois, ocupa-se o lugar almofadado, que é feito especialmente por medida.
Foto: Gerald Henzinger
A bicicleta como alternativa ao desemprego
Em vez estarem desempregados, muitos moradores de Quelimane preferem conduzir uma bicicleta táxi. No entanto, o mercado está saturado com os vários milhares de bicicletas táxi que existem. Lutam todos por clientes entre os cerca de 200 mil habitantes. Isso faz baixar os preços e, por isso, as bicicletas táxi são um negócio difícil.
Foto: Gerald Henzinger
Samuel, taxista de bicicleta
Quando Samuel não está a trabalhar como motorista de serviço, está a estudar. Quando era criança só frequentou a escola até ao sexto ano. Os seus pais não tinham dinheiro e não podiam continuar a pagar os seus estudos. Agora, o jovem de 27 anos tenta obter o diploma do ensino secundário. “Se não o terminar, não vou conseguir um trabalho decente”, diz.
Foto: Gerald Henzinger
Francis, mecânico de bicicletas
Parafusos soltos e pneus lisos estão entre as preocupações quotidianas de um taxista de bicicleta. Francis arranja bicicletas no Mercado Central de Quelimane. Por cada tubo que remenda recebe cinco meticais (cerca de 20 cêntimos). Ganha cerca de 85 euros por mês. Desta forma, consegue alimentar a sua família.
Foto: Gerald Henzinger
Licença controversa
A Câmara Municipal de Quelimane quer reduzir o número de taxistas de bicicleta nas suas estradas. Por isso, no início de 2010, criou uma espécie de licença para estes condutores. Oficialmente, deveria custar cerca de 12 euros, mas os motoristas protestaram. A Câmara Municipal cedeu e suspendeu a licença.
Foto: Gerald Henzinger
Andar de bicicleta para cumprir um sonho
Para o jovem Francisco Manuel, de 19 anos, a bicicleta táxi é uma forma de financiar a sua formação. O seu trabalho de sonho é ser polícia. “Eu não quero roubar para sobreviver”, diz. Assim, optou pela bicicleta táxi. Com os 2,50 euros que ganha diariamente, consegue manter-se a si e ao seu filho.
Foto: Gerald Henzinger
Uma bicicleta táxi para toda a família
Na sua última viagem, Armando só conseguiu ganhar 80 meticais (cerca de três euros). “Foi um bom turno nocturno”, afirma, em jeito de balanço. Desde que o seu pai morreu, tem de ganhar dinheiro para toda a família com a bicicleta táxi. Armando não aprendeu a ler e a escrever, já que abandonou a escola por causa de uma deficiência visual após a terceira classe.
Foto: Gerald Henzinger
Pouco dinheiro para sobreviver
As bicicletas táxi ajudam muitas pessoas sem formação a obter algum dinheiro de forma legal. No entanto, depois de deduzidos os custos, muitas vezes sobram apenas um ou dois euros por dia. E quando estes taxistas ficam doentes, já não entra mais dinheiro em caixa.