Chade: Governo suspende sete partidos e revista escritórios
Lusa
21 de outubro de 2022
O Governo do Chade reprimiu a oposição, suspendendo sete partidos políticos, e revistou escritórios de uma força partidária, um dia depois de protestos sem precedentes em todo o país terem causado mais de 60 mortos.
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O proeminente líder da oposição Succes Masra escreveu na rede social Twitter que a sede nacional do seu partido Les Transformateurs estava "a ser saqueada pelas forças de segurança que forçaram a sua entrada".
"Depois de terem alvejado 70 pessoas, detido, ferido e torturado mais de 1.000 outras, estão agora a atacar edifícios e documentos", escreveu.
O partido de Masra foi o primeiro de sete suspensos pelo Governo do Chade, por um período de três meses. O decreto abrange todas as atividades políticas a nível nacional.
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Manifestação sangrenta
Manifestantes na capital, N'Djamena, e várias outras cidades tomaram as ruas na quinta-feira (20.10) para protestar contra o líder interino Mahamat Idriss Deby, prolongando o seu tempo no poder por mais dois anos.
Deby tornou-se chefe de um governo de transição quando o seu pai, o antigo presidente Idriss Deby Itno, morreu em abril de 2021, após mais de 30 anos no poder.
Mahamat Idriss Deby concordou inicialmente com uma transição de 18 meses, um mandato que teria terminado na quinta-feira. No entanto, o Governo anunciou recentemente que Mahamat Deby permaneceria no poder mais dois anos, o que provocou os protestos.
Depois de utilizarem gás lacrimogéneo, as forças de segurança dispararam munições reais contra os manifestantes em N'Djamena, de acordo com testemunhas. Um porta-voz do Governo confirmou 30 mortos, embora os ativistas tenham avançado um número mais alto.
Na segunda maior cidade do país, Moundou, um funcionário da morgue, falando sob anonimato, disse que deram entrada 32 mortos, na sequência de um protesto semelhante.
O primeiro-ministro, Saleh Kebzabo, defendeu mais tarde o uso da força por parte do Governo, dizendo aos repórteres que a agitação era "uma tentativa de golpe de Estado".
A resposta mortífera atraiu rápidas repreensões da França, dos Estados Unidos da América e de outros países. O presidente da Comissão da União Africana (UA), Moussa Faki Mahamat, condenou veementemente "a repressão das manifestações".
"Apelo às partes para que respeitem a vida humana e a propriedade e favoreçam meios pacíficos para ultrapassar a crise", escreveu.
EUA condena violência
Por seu lado, o Departamento de Estado norte-americano condenou "a violência no Chade, envolvendo confrontos entre forças de segurança e manifestantes que protestam contra a extensão do período de transição original de 18 meses” do país, que expirou quinta-feira.
"Estamos profundamente preocupados com os relatos de baixas e exortamos todas as partes a desanuviar a situação e a exercer contenção. Exortamos a que os responsáveis pela violência sejam responsabilizados”, adiantou.
Já hoje, o exército chadiano utilizou gás lacrimogéneo durante a manhã para dispersar novas tentativas de comícios na capital do país, apesar de um recolher obrigatório entre as 18:00 e as 06:00, declarado pelas autoridades em resposta às manifestações.
O portal de notícias Al Wihda confirmou que os militares atuaram nos bairros Habena e Kamnda, onde dispararam gás lacrimogéneo por volta das 05:30 locais, causando pânico entre os residentes a caminho do trabalho.
Os chefes de Estado há mais tempo no poder
São presidentes, príncipes, reis ou sultões, de África, da Ásia ou da Europa. Estes são os dez chefes de Estado há mais tempo no poder.
Foto: Jack Taylor/Getty Images
Do golpe de Estado até hoje - Teodoro Obiang Nguema
Teodoro Obiang Nguema Mbasogo assumiu a Presidência da Guiné Equatorial em 1979, ainda antes de José Eduardo dos Santos. Teodoro Obiang Nguema derrubou o seu tio do poder: Francisco Macías Nguema foi executado em setembro de 1979. A Guiné Equatorial é um dos países mais ricos de África devido às receitas do petróleo e do gás, mas a maioria dos cidadãos não beneficia dessa riqueza.
Foto: DW/R. Graça
O Presidente que adora luxo - Paul Biya
Paul Biya é chefe de Estado dos Camarões desde novembro de 1982. Muitos dos camaroneses que falam inglês sentem-se excluídos pelo francófono Biya. E o Presidente também tem sido alvo de críticas pelas despesas que faz. Durante as férias, terá pago alegadamente 25 mil euros por dia pelo aluguer de uma vivenda. Na foto, está acompanhado da mulher Chantal Biya.
Foto: Reuters
Mudou a Constituição para viabilizar a reeleição - Yoweri Museveni
Yoweri Museveni já foi confirmado seis vezes como Presidente do Uganda. Para poder concorrer às eleições de 2021, Museveni mudou a Constituição e retirou o limite de idade de 75 anos. Venceu o pleito com 58,6% dos votos, reafirmando-se como um dos líderes autoritários mais antigos do mundo. O candidato da oposição, Bobi Wine, alegou fraude generalizada na votação e rejeitou os resultados oficiais.
Foto: Getty Images/AFP/I. Kasamani
"O Leão de Eswatini" - Mswati III
Mswati III é o último governante absolutista de África. Desde 1986, dirige o reino de Eswatini, a antiga Suazilândia. Acredita-se que tem 210 irmãos; o seu pai Sobhuza II teve 70 mulheres. A tradição da poligamia continua no seu reinado: até 2020, Mswati III teve 15 esposas. O seu estilo de vida luxuoso causou protestos no país, mas a polícia costuma reprimir as manifestações no reino.
Foto: Getty Images/AFP/J. Jackson
O sultão acima de tudo - Haji Hassanal Bolkiah
Há quase cinco décadas que o sultão Haji Hassanal Bolkiah é chefe de Estado e Governo e ministro dos Negócios Estrangeiros, do Comércio, das Finanças e da Defesa do Brunei. Há mais de 600 anos que a política do país é dirigida por sultões. Hassanal Bolkiah, de 74 anos, é um dos últimos manarcas absolutos no mundo.
Foto: Imago/Xinhua/J. Wong
Monarca bilionário - Hans-Adam II
Desde 1989, Hans-Adam II (esq.) é chefe de Estado do Liechtenstein, um pequeno principado situado entre a Áustria e a Suiça. Em 2004, nomeou o filho Aloísio (dir.) como seu representante, embora continue a chefiar o país. Hans-Adam II é dono do grupo bancário LGT. Com uma fortuna pessoal estimada em mais de 3 mil milhões de euros é considerado o soberano europeu mais rico.
Foto: picture-alliance/dpa/A. Nieboer
De pastor a parceiro do Ocidente - Idriss Déby
Idriss Déby (à esq.) foi Presidente do Chade de 1990 a 2021. Filho de pastores, Déby formou-se em França como piloto de combate. Apesar do seu autoritarismo, Déby foi um parceiro do Ocidente na luta contra o extremismo islâmico (na foto com o Presidente francês Macron). Em abril de 2021, um apenas dia após após a confirmação da sua sexta vitória eleitoral, Déby foi morto num combate com rebeldes.
Foto: Eliot Blondet/abaca/picture alliance
Procurado por genocídio - Omar al-Bashir
Omar al-Bashir foi Presidente do Sudão entre 1993 e 2019. Chegou ao poder em 1989 depois de um golpe de Estado sangrento. O Tribunal Penal Internacional (TPI) emitiu em 2009 um mandado de captura contra al-Bashir por alegada implicação em crimes de genocídio e de guerra no Darfur. Em 2019, foi deposto e preso após uma onda de protestos no país.
Foto: Getty Images/AFP/A. Shazly
O adeus - José Eduardo dos Santos
José Eduardo dos Santos foi, durante 38 anos (de 1979 a 2017), chefe de Estado de Angola. Mas não se recandidatou nas eleições de 2017. Apesar do boom económico durante o seu mandato, grande parte da população continua a viver na pobreza. José Eduardo dos Santos tem sido frequentemente acusado de corrupção e de desvio das receitas da venda do petróleo. A sua família é uma das mais ricas de África.
Foto: picture-alliance/dpa/P.Novais
Fã de si próprio - Robert Mugabe
Robert Mugabe chegou a ser o mais velho chefe de Estado do mundo (com uma idade de 93 anos). O Presidente do Zimbabué esteve quase 30 anos na Presidência. Antes foi o primeiro-ministro. Naquela época, aconteceram vários massacres que vitimaram milhares de pessoas. Também foi criticado por alegada corrupção. Após um levantamento militar, renunciou à Presidência em 2017. Morreu dois anos mais tarde.