Suzi Barbosa foi alvo de críticas após viajar com Umaro Sissoco Embaló para a Nigéria. Ministra pede demissão do cargo alegando questões "pessoais e políticas". Primeiro-ministro Aristides Gomes ainda não se manifestou.
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A ministra dos Negócios Estrangeiros da Guiné-Bissau, Suzi Barbosa, apresentou nesta sexta-feira (24.01) ao primeiro-ministro guineense, Aristides Gomes, o seu pedido de demissão alegando questões pessoais e políticas.
"Venho através desta carta apresentar o meu pedido de demissão enquanto titular da pasta dos negócios Estrangeiros e das Comunidades do Governo Constitucional da República da Guiné-Bissau”, lê-se na carta datada de 24 de janeiro, a qual a DW África teve acesso.
O primeiro-ministro, Aristides Gomes, ainda não reagiu ao pedido de demissão entregue por Suzi Barbosa. A ministra esteve recentemente com Umaro Sissoco Embaló - dado pela Comissão Nacional de Eleições da Guiné-Bissau como vencedor das presidenciais - na Nigéria.
Na altura, especulou-se em Bissau que Barbosa terá viajado sem autorização do Governo liderado pelo Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC), partido que apoiou a candidatura de Domingos Simões Pereira, candidato que constesta o resultado eleitoral no Supremo Tribunal de Justiça. Nem o PAIGC, nem o Governo guineense justificaram a presença de Suzi Barbosa na visita à Nigéria com Umaro Sissoco Embaló.
Chefe da diplomacia da Guiné-Bissau pede demissão
"A minha demissão do Governo que representei com orgulho deve-se a motivos pessoais e políticos, que considero fundamentais para a salvaguarda da minha dignidade, da qual tenho direito e não abdico", refere Barbosa, na carta enviada ao primeiro-ministro guineense.
Suzi Barbosa foi deputada do PAIGC nas legislativas de março de 2019 e nomeada ministra dos Negócios de Estrangeiros em julho do mesmo ano, com a tomada de posse do primeiro-ministro Aristides Gomes.
"Enquanto ministra, assumi o desafio e a responsabilidade patriótica de defender o Programa do Governo com base nas orientações políticas e no interesse supremo do nosso país. Procurei basear todas as minhas ações e intervenções com base no profissionalismo e competência, sempre imbuída de sentido de Estado e do espírito de trabalho em prol do desenvolvimento nacional”, escreve Barbosa na carta de demissão.
Segundo os resultados definitivos da Comissão Nacional de Eleições guineense, Umaro Sissoco Embaló venceu as eleições presidenciais, mas os resultados foram contestados junto do Supremo Tribunal de Justiça pelo PAIGC e pelo candidato que apoia, Domingos Simões Pereira.
Farpas e elogios: Frases das eleições na Guiné-Bissau
Principais partidos políticos, sociedade civil e comunidade internacional acompanham de perto contagem de votos na Guiné-Bissau. CNE só divulga resultados na quarta-feira (13.03), mas PAIGC já canta vitória.
Foto: Getty Images/AFP/SEYLLOU
PAIGC
O PAIGC declarou-se, na segunda-feira (11.03), vencedor das eleições legislativas de 10 de março na Guiné-Bissau. O porta-voz do partido João Bernardo Vieira garantiu que o povo conferiu ao PAIGC os destinos do país. No domingo, após votar, o líder do PAIGC, Domingos Simões Pereira, disse que estas eleições representam "um momento de viragem" para que, na Guiné-Bissau, "o império da lei vingue".
Foto: DW/F. Tchumá
MADEM-G15
Após o anúncio do PAIGC, o Movimento para a Alternância Democrática frisou que ninguém ganhou as eleições com maioria absoluta e que também fará parte do próximo Governo do país. As declarações de Braima Camará no domingo, dia das eleições, foram das mais críticas, pois o líder do MADEM-G15 acusou o primeiro-ministro de "usar dinheiro público para corromper líderes de opinião no dia de reflexão".
Foto: DW/J. Carlos
PRS
O Partido da Renovação Social disse, esta terça-feira, que "é falsa a informação da maioria folgada que o PAIGC sustenta para semear a confusão"."Nenhuma das forças políticas atingiu sequer a barra dos 40 deputados", disse Vítor Pereira. No domingo, depois de votar, Alberto Nambeia, líder do PRS, disse que esta votação constitui um "balão de oxigénio" para o povo, que quer mudanças no país.
Foto: DW/B. Darame
FREPASNA
Baciro Djá considera que era o candidato com mais experiência nestas eleições e, por isso, o justo vencedor. No entanto, esta segunda-feira, o líder do partido Frente Patriótica para a Salvação Nacional (FREPASNA) foi o primeiro a reconhecer a derrota no pleito. "Consideramos que o nosso resultado foi péssimo e a responsabilidade máxima é minha, enquanto presidente do partido", disse.
Foto: Presidency of Guinea-Bissau
Comissão Nacional de Eleições (CNE)
Pouco depois do arranque do pleito, no domingo, José Pedro Sambú, presidente da CNE, disse aos jornalistas que o processo estava a decorrer num "clima de transparência e sem sobressaltos". O mesmo cenário foi reportado pela porta-voz da comissão, ao final do dia. Felizberta Vaz garantiu ainda que os "pequenos problemas" que surgiram foram resolvidos. A CNE divulga os resultados esta quarta-feira.
Foto: CNE
Presidente da República
Em declarações aos jornalistas, depois de votar, no domingo, José Mário Vaz garantiu que os observadores estavam "surpresos" pela positiva com a Guiné-Bissau. O Presidente guineense pediu à imprensa para que passasse lá para fora essa "grande imagem" da Guiné-Bissau como um país onde "não há problemas". "Considero a Guiné-Bissau hoje campeã da liberdade", disse.
Foto: Getty Images/AFP/Seyllou
Primeiro-ministro guineense
Também no domingo, o primeiro-ministro guineense disse estar emocionado com a concretização de um processo eleitoral "difícil e intenso", no qual foi "necessária a intervenção da comunidade internacional". Aristides Gomes acrescentou ainda que, apesar das dificuldades, este foi um processo cheio de "pedagogia".
Foto: Präsidentschaft von Guinea-Bissau
Organização das Nações Unidas
David McLachlan-Karr, enviado das Nações Unidas à Guiné-Bissau, tem estado a reportar, com frequência, o ambiente vivido no país nestas eleições, nas redes sociais. Esta segunda-feira, o representante da ONU deu os parabéns à população guineense que, "em todo o país, saiu [às ruas] para votar pacificamente e com muito orgulho cívico".
Foto: DW/B. Darame
Comunidade dos Países de Língua Portuguesa
Também a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), na pessoa de Luiz Villarinho Pedroso, acompanhou de perto a votação. No domingo, dia da eleição, o chefe da missão da CPLP disse que estas eleições foram um "exercício cívico exemplar", que decorreu com a "maior tranquilidade e normalidade". O balanço preliminar do escrutínio será feito ao longo desta terça-feira (12.03).
Foto: DW/N. dos Santos
CEDEAO
À semelhança da ONU e da CPLP, também a CEDEAO deu nota positiva às eleições guineenses. Numa conferência de imprensa, esta segunda-feira (11.03), Kadré Désiré Ouedraogo, chefe da Missão de Observação da CEDEAO, disse que as legislativas no país decorreram "de forma pacífica e transparente". Acrescentou ainda que espera que "todos [os partidos] aceitem os resultados".
Foto: DW/B. Darame
União Africana
Após o encerramento das urnas na Guiné-Bissau, Rafael Branco, chefe da Missão de Observação Eleitoral da União Africana destacou a forma tranquila com que decorreu o processo e salientou a "participação cívica notável".
Foto: DW/Nélio dos Santos
Liga Guineense dos Direitos Humanos
Também as organizações locais fizeram chegar elogios. À semelhança do que foi dito pela CNE, Augusto Mário da Silva, presidente da Liga Guineense dos Direitos Humanos, disse ter havido registo de "algumas falhas", mas "que foram imediatamente supridas". Tirando os atrasos na abertura das urnas em algumas mesas e trocas de cadernos eleitorais, "o processo decorreu de forma regular", disse.
Foto: DW/B. Darame
Sociedade Civil
Por último, a Célula de Monitorização do Processo Eleitoral salientou, esta segunda-feira, que "os eleitores compareceram em massa para exercer o seu direito de voto". Este grupo de monitorização das eleições, composto por 420 pessoas, espalhadas por todo o país, saudou também "a boa presença das forças de segurança nos centros de votação observados".