Vital Kamerhe foi presente a tribunal esta segunda-feira (11.05), em Kinshasa. Em prisão preventiva há quase um mês, o político congolês é suspeito de desviar cerca de 50 milhões de euros. Nega todas as acusações.
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Vital Kamerhe, um dos homens mais próximos do Presidente da República Democrática do Congo (RDC), Félix Tshisekedi, começou a ser ouvido em tribunal por suspeitas de corrupção, num caso sem precedentes no país africano.
Kamerhe, que tem estado no centro da vida política na RDC há duas décadas, é acusado de desviar mais de 50 milhões de dólares, destinados a financiar grandes obras no âmbito de um plano de ação de emergência de 100 dias, lançado por Tshisekedi, após a tomada de posse, em janeiro do ano passado.
RDC: Histórias da Casa de Tshisekedi em Limete
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Além de Kamerhe, que terá sido responsável pela autorização das despesas públicas, há outros dois suspeitos envolvidos neste caso de corrupção. Um deles é o empresário libanês Samih Jammal, acusado de desviar cerca de 45 milhões de euros, entre março de 2019 e janeiro de 2020.
Os arguidos são acusados do desvio de 46 milhões de euros dos fundos destinados à construção de 4.500 casas pré-fabricadas para pessoas pobres e, alegadamente, de um milhão de euros de um programa de construção de habitações para a polícia e militares em Kinshasa.
A RDC tem uma abundância de recursos naturais, mas a maioria dos seus 80 milhões de habitantes vive abaixo do limiar da pobreza.
Um caso com "motivação política"?
Vital Kamerhe, que não se demitiu desde que foi acusado, negou todas as alegações, afirmando que todos os contratos do setor público foram "herdados" de governos anteriores.
Os apoiantes de Vital Kamerhe dizem que este caso tem uma "motivação política": acreditam que seja uma possível tentativa de impedir o político de concorrer às próximas eleições presidenciais, em 2023.
Os advogados de Kamerhe apresentaram um pedido de libertação temporária, após o pedido anterior ter sido indeferido em abril.
"Nunca na história política do Congo, nas últimas duas décadas, um ator tão importante na cena política foi posto atrás das grades", afirmou o Grupo de Estudos do Congo (CSG) da Universidade de Nova Iorque, numa análise formal.
O caso contra Kamerhe faz parte de uma ampla investigação, que deverá marcar a "renovação" do sistema judicial congolês, na luta contra a corrupção entre a elite desde a independência do país, em 1960.
Presidentes a todo o custo
São derrotados nas eleições, mas contestam os resultados. Mesmo depois de esgotarem todos os recursos, estes candidatos à mais alta magistratura continuam a reivindicar a Presidência.
Maurice Kamto: o auto-proclamado "presidente"
O candidato da oposição às presidenciais de 7 de outubro nos Camarões, Maurice Kamto, reivindica a vitória frente a Paul Biya. "Convido o Presidente da República a criar as condições para uma transição pacífica para proteger os Camarões de uma crise eleitoral desnecessária", declarou o líder do MRC - Movimento para o Renascimento dos Camarões.
Foto: AFP/Getty Images
Nelson Chamisa, o "presidente legítimo" do Zimbabué
O líder da oposição zimbabueana contesta a vitória do Presidente Emmerson Mnangagwa nas eleições de 30 de julho de 2018. Considera-se vencedor e reclama a cadeira presidencial numa cerimónia simbólica de tomada de posse, a 15 de setembro.
Foto: Reuters/P. Bulawayo
Cissé rejeita a tomada de posse de Keïta
Soumaïla Cissé não marca presença na cerimónia e fala num vazio de poder no Mali depois da tomada de posse "nula e de efeito nulo" do seu rival, Ibrahim Boubacar Keïta, a 4 de setembro de 2018. A 20 de agosto, o Tribunal Constitucional do Mali declarou Keïta vencedor das presidenciais com 67,16% dos votos na segunda volta de 12 de agosto contra os 32,84% de Soumaïla Cissé.
Foto: DW/K. Gänsler
Raila Odinga, efémero "presidente do povo"
A 30 de janeiro de 2018, o opositor que tinha boicotado as presidenciais de outubro de 2017 contra Uhuru Kenyatta autoproclama-se "presidente do povo" perante milhares de apoiantes, numa cerimónia simbólica em Nairobi. O país é palco de violência pós-eleitoral, mas, a 9 de março, Odinga e Kenyatta surpreendem ao anunciar a sua reconciliação.
Foto: picture-alliance/Anadolu Agency/B. Jaybee
Jean Ping : "Exercerei o poder que me confiaram"
Dois anos após as presidenciais de agosto de 2016, o líder da oposição gabonesa continua determinado. A 31 de agosto, numa cerimónia de "homenagem aos mártires" da violência pós-eleitoral, em Libreville, diz que quer continuar a sua "luta" para "libertar" o Gabão. Jean Ping deposita esperanças nomeadamente no inquérito preliminar do Tribunal Penal Internacional sobre a crise pós-eleitoral no país.
Foto: DW/A. Kriesch
Kizza Besigye, o eterno rejeitado
Em fevereiro de 2016, o opositor histórico enfrenta Yoweri Museveni pela quarta vez no Uganda. Quando Museveni é declarado vencedor e se prepara para prestar juramento para um quinto mandato, Kizza Besigye toma posse como presidente numa cerimónia alternativa. Afirma "ter provas" da sua vitória. Detido e condenado por alta traição, é libertado algumas semanas depois.
Foto: DW/E.Lubega
André Mba Obame, o outro adversário de Ali Bongo
Inspirado pelos acontecimentos na Costa do Marfim, o antigo ministro "AMO" autoproclama-se presidente do Gabão, em janeiro de 2011, 17 meses depois de perder as presidenciais frente a Ali Bongo. Acusado de alta traição, refugia-se numa agência da ONU. Os problemas de saúde põem fim às suas ambições presidenciais. A sua morte, em abrir de 2015, aos 57 anos, leva a confrontos em Libreville.
Foto: cc-by-sa Ernest A. TEWELYO
Étienne Tshisekedi, duas vezes "presidente"
Em 2006 e 2011, o líder do principal partido da oposição congolesa (UDPS) declara-se vencedor frente a Joseph Kabila e "presidente eleito". Toma posse na sua residência em Limete, arredores de Kinshasa. O seu estado de saúde deteriora-se em 2014 e em 2017 morre com o eterno opositor o desejo de ocupar a cadeira presidencial.
Foto: picture-alliance/dpa/T. Roge
Laurent Gbagbo, opositor histórico
No ano 2000, o líder do FPI declara-se vencedor frente a Robert Gueï e pede aos costa-marfinenses que saiam à rua para fazer cair o general. Os manifestantes atacam os agentes de segurança do chefe da junta militar. Os protestos continuam até que a polícia e, mais tarde, o exército, começam a passar para o lado de Laurent Gbagbo.
Foto: AP
John Fru Ndi às portas do palácio presidencial
John Fru Ndi autoproclama-se presidente a 21 de outubro de 1992. Dois dias depois, o Supremo Tribunal declara Paul Biya vencedor do escrutínio presidencial. O fundador do SDF contesta estes resultados nas ruas. É declarado o estado de emergência no nordeste do país e John Fru Ndi fica em prisão domiciliária.