Chefe de junta militar presidirá Conselho Soberano do Sudão
EFE | kg
18 de agosto de 2019
Abdul Fatah al Burhan será o presidente do Conselho Soberano durante 21 meses. Governo instalado com assinatura de Carta Magna será formado por cinco militares e seis civis e vai comandar o país nos próximos três anos.
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O chefe da junta militar no poder no Sudão, Abdul Fatah al Burhan, será o presidente do Conselho Soberano responsável por dirigir o país durante a transição durante os próximos 21 meses. O anúncio foi feito este sábado (17.08) pelo Conselho Militar Transitório.
O conselho militar do Sudão e os líderes dos protestos assinaram uma declaração constitucional que abriu caminho a uma transição para o governo civil. A declaração constitucional formaliza a criação de uma administração transitória que será governada por um conselho soberano de 11 membros, que inclui seis civis e cinco militares, nos próximos três anos e três meses até a realização de novas eleições.
O porta-voz do órgão, Shamsaldin Kabashi, anunciou os nomes de quatro dos cinco representantes que serão integrantes do Conselho Soberano por parte dos militares. A presidência do órgão supremo de governo ficará nas mãos de Al Burhan durante os 21 primeiros meses. Nos 18 meses seguintes, ficará a cargo de uma pessoa designada pela plataforma opositora Forças da Liberdade e da Mudança.
Também estará no Conselho Soberano o vice-presidente do Conselho Militar Transitório, o general Mohammed Hamdan Dagalo, considerado o homem forte dos militares. A lista tem ainda o próprio Kabashi e o tenente Yasser al-Ata, enquanto o quinto membro ainda não foi anunciado.
Plataforma civil
A principal plataforma de partidos e grupos civil do Sudão elegeu os cinco representantes no Conselho Soberano na manhã deste domingo (18.08). Um membro das Forças da Liberdade e da Mudança, Yaafar Hasan, explicou que os cinco representantes do Conselho Soberano são Sediq Tawer, Hasan Sheikh Idris, Mohamed al Feki Suleiman, Aisha Musa e Taha Ozman.
Além destes membros, foram apresentados os nomes de três candidatos cristãos, dos quais um será eleito para ocupar a décima primeira posição do Conselho Soberano, que irá representar essa minoria religiosa.
Um Conselho de Ministros e um Conselho Legislativo transitórios também serão estabelecidos até a realização de eleições democráticas.
Acordo final
As Forças da Liberdade e da Mudança e a junta militar ratificaram a Carta Magna que servirá de guia para os próximos três anos e três meses de transição.
Com 40 milhões de habitantes, o Sudão começou um processo de transição em 11 de abril, com a derrocada pelo Exército do presidente Omar al-Bashir, após meses de protestos nas ruas pela crise econômica, a inflação e a escassez de produtos básicos.
Meses mais tarde, as Forças da Liberdade e da Mudança e a junta militar chegaram a um acordo para dividirem o poder durante a transição, até a realização de eleições com garantias democráticas.
O povo contra o exército - Cronologia da luta pelo poder no Sudão
A evacuação violenta de um campo de protesto na capital sudanesa, Cartum, exacerbou as tensões entre manifestantes e militares. A luta pelo poder documentada em imagens.
Foto: Getty Images/AFP/A. Shazly
Protesto
Durante semanas, manifestantes sudaneses resistiram diante do Ministério da Defesa. Milhares exigiram um conselho de transição que incluísse civis, para poderem também decidir sobre o futuro do país. No início de junho, os militares atacaram violentamente os manifestantes. Dezenas de pessoas morreram.
Foto: Getty Images/AFP/A. Shazly
Em nome da nação
Um manifestante com a bandeira nacional perto do quartel-general do exército. A bandeira representa a exigência dos manifestantes de civis nos comandos para moldarem o futuro do país juntamente com os militares. A acontecer, este seria um passo importante para a democracia.
Foto: Reuters
Sinais de alarme
Os militares aumentaram massivamente a presença nas ruas, nos dias que antecederam o massacre no início de junho. Muitos manifestantes interpretaram a situação como prova de que o exército não queria abandonar o poder. Mas esta tinha sido a grade esperança de muitos sudaneses após a queda do ditador Omar al-Bashir.
Foto: Getty Images/AFP
Uma era chega ao fim
Omar al-Bashir governou o Sudão desde 1993 até sua queda, em abril de 2019. Os seus críticos foram violentamente reprimidos. Para manter o poder, al-Bashir chegou a dissolver o Parlamento, em 1999. Na mesma altura, concedeu asilo ao líder da Al-Qaeda, Osama bin Laden. Acima de tudo, porém, o seu nome continua associado à guerra sangrenta contra os separatistas na província de Darfur.
Foto: Reuters/M. Nureldin Abdallah
Ditador em tribunal
Ver o ditador em tribunal era um sonho antigo de muitos sudaneses. A 16 de junho, Omar al-Bashir apareceu no processo contra ele instaurado. Para já, é acusado de corrupção e posse ilegal de moeda estrangeira. Depois da sua queda, a polícia encontrou na sua residência sacos de dinheiro no valor de mais de cem milhões de dólares.
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As mulheres querem ser ouvidas
Muitas mulheres participaram nos protestos. As mulheres no Sudão sempre beneficiaram de uma liberdade relativamente significante. Agora, não só reforçam quantitativamente as manifestações, como também lhes dão um rosto diferente. A sua presença expressa o desejo de democracia e igualdade de muitos cidadãos.
Foto: Getty Images/AFP/A. Shazly
Ícone da revolução
A estudante de arquitetura Alaa Salah tornou-se a face da revolução. Quando subiu ao telhado de um carro em abril para falar com os manifestantes, um fotógrafo atento fez esta imagem. Desde então, ela tem sido partilhada inúmeras vezes nas redes sociais. Fotos como estas tornaram-se uma parte importante da revolução, porque convidam os cidadãos a identificarem-se com os protestos.
Foto: Getty Images/AFP
Solidariedade internacional
Graças às plataformas sociais online, a notícia dos protestos no Sudão rapidamente correu o mundo. E logo mereceram apoio internacional, como aqui em Edimburgo, Escócia. Recentemente os ministros dos Negócios Estrangeiros da União Europeia também se fizeram ouvir: "A UE apela ao fim imediato de toda a violência contra o povo sudanês", disseram numa declaração oficial.
No entanto, a oposição ao exército no poder não é consensual. Muitos sudaneses apoiam os militares, porque acreditam que só uma governação autoritária pode conduzir o país a um futuro próspero. Os apoiantes dos militares consideram que o General Abdel Fattah Burhan, presidente do Conselho Militar, representado no cartaz, reúne as condições para cumprir a tarefa.
Foto: Getty Images/AFP/A. Shazly
À espera
Mas a eminência parda General Mohammed Hamdan Daglu, conhecido por Hemeti, é tido como o homem forte do regime de transição. Daglu comandou a tropa que reprimiu os protestos em frente ao quartel-general militar. Durante a guerra do Darfur, liderou as milícias Janjaweed, que combateram brutalmente os rebeldes. Os manifestantes temem que ele possa vir a ser o novo governante do país.
Foto: Reuters/M.N. Abdallah
O Golfo preocupado
Políticos de outros países árabes também olham com nervosismo para o Sudão. Por exemplo, Mohamed bin Zayad al-Nahyan, o Príncipe Herdeiro dos Emirados Árabes Unidos. Tal como a Arábia Saudita, os Emirados Árabes Unidos temem que o protesto possa ser um exemplo de uma revolução popular bem-sucedida na região, pondo em questão governos autoritários. Ambos os países apoiam os militares sudaneses.
Foto: picture-alliance/AP Photo/Ministry of Presidential Affairs/M. Al Hammadi
Os vizinhos a norte
Também no Cairo se olha com preocupação para Cartum. O Governo do Presidente Abdel-Fattah al-Sisi receia que a Irmandade Muçulmana possa ganhar influência no Sudão - precisamente o grupo contra o qual o Governo egípcio está a agir com todas as suas forças no seu próprio país. Se a Irmandade Muçulmana se estabelecesse no Sudão, poderia, a partir daí, voltar a exercer uma forte influência no Egito.
Foto: picture-alliance/Photoshot/MENA
Protestos sem fim à vista
No Sudão prosseguem os protestos. No dia 14 de junho, Sadiq al-Mahdi, uma das principais figuras da oposição do país durante décadas, exigiu uma investigação da evacuação violenta do campo de protesto. É algo que não pode agradar aos militares. As tensões poderão voltar a agravar-se.