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Chefe rebelde Mustafa Abdul Jalil é o rosto da contestação na Líbia

29 de agosto de 2011

O chefe do Conselho Nacional de Transição (CNT) criado pelos insurgentes chegou a ser ministro de Mouammar Kadhafi, mas há tempos defendia posições contra o dirigente líbio.

Chefe do Conselho Nacional de Transição dos rebeldes em Roma (abril/2011). CNT foi reconhecido por mais de 30 países como representação oficial da Líbia
Chefe do Conselho Nacional de Transição dos rebeldes em Roma (abril/2011). CNT foi reconhecido por mais de 30 países como representação oficial da LíbiaFoto: picture-alliance/dpa

Ainda como ministro da Justiça do regime de Mouammar Kadhafi, Mustafa Mohamed Abdul Jalil foi enviado, em fevereiro, para a cidade de Benghazi, no leste líbio, para lidar com os primeiros focos de rebelião contra o governo.

Porém, após testemunhar a sangrenta repressão do regime aos protestos, ele se opôs como ministro ao que chamou de uso excessivo da violência contra manifestantes desarmados. Em poucos dias, então, aquele homem calmo de 59 anos tornou-se o número um do Conselho Nacional de Transição (CNT), o nó administrativo e de planejamento dos rebeldes líbios.

“Todos conhecem o comportamento e a moral de Kadhafi”, disse Abdul Jalil, quando a rebelião líbia invadiu a capital Trípoli, na semana passada. Para o líder rebelde, a Líbia e os líbios não são importantes para o ditador – nos seus últimos momentos, segundo ele, Kadhafi estaria disposto a tudo: “Ele poderia botar fogo em Trípoli, explodir veículos e até abrir o seu arsenal de gás letal”, afirmou, dizendo que “os rebeldes esperam tudo e estão preparados para tudo”.

Rebeldes líbios num checkpoint em Trípoli. Este domingo (28/8), eles rejeitaram tentativa de negociação de KadhafiFoto: dapd

Abdul Jalil já contestava governo de Kadhafi

Não pode se considerar a mudança de lado de Abdul Jalil uma surpresa. Há tempos, ele apresenta posições refratárias ao governo de Mouammar Kadhafi.

Nascido em 1952 na região costeira de Bayda, local histórico da dinastia sanusi e uma das primeiras comunidades a se levantar contra Kadhafi, Abdul Jalil estudou direito na Universidade da Líbia. Trabalhou na promotoria pública em Bayda antes de se tornar juiz em 1978.

Tornou-se conhecido por suas decisões contra o regime. Durante o período como ministro da Justiça, de 2007 a 2011, ele apresentou por diversas vezes a própria demissão, nomeadamente após resistir a pressão de alto nível para a execução de prisioneiros que ele acreditava serem inocentes.

Organizações de Direitos Humanos reconhecem seus esforços para reformar o código penal líbio. Em 2009, ele chegou a denunciar que várias pessoas estavam presas sem base legal na Penitenciária de Segurança Máxima de Abu Salim, próxima a Trípoli. Numa manobra sem precedentes, ele tornou pública a sua oposição ao regime, em um discurso na televisão, na conferência anual do governo, dizendo que pretendia renunciar devido a dificuldades enfrentadas pelo Judiciário. Ele citava na ocasião a manutenção de 300 pessoas na prisão, que já haviam sido absolvidas na Justiça.

Propostas para uma era “pós-Kadhafi”

Ainda não se sabe qual o paradeiro atual de Mouammar Kadhafi. Abdul Jalil diz esperar que os rebeldes consigam capturar o dirigente líbio vivo para poder processá-lo aos olhos da comunidade internacional.

Quando a comunidade internacional debatia a questão líbia no Conselho de Segurança das Nações Unidas, Abdul Jalil pediu o apoio dos países com uma zona de exclusão aérea que acabou sendo estabelecida no país do norte africano e que atualmente é coordenada pela Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO).

Abdul Jalil surgiu publicamente como o rosto da administração rebelde, viajando pelo mundo em busca de apoio ao CNT. Desde a chegada dos rebeldes a Trípoli, Abdul Jalil tem insistido que a ordem pública deve ser mantida. Ele também diz que o Estado de Direito será sustentado após a queda de Kadhafi. Ele alertou aos grupos rebeldes que não persigam os cidadãos leais a Kadhafi, ameaçando renunciar se suas ordens não forem acatadas.

Autor: Matthias Von Hellfeld / Marcio Pessôa

Edição: Renate Krieger / António Rocha

Abdul Jalil fala durante discussões da NATO em Doha (29/8). Quando integrava governo de Kadhafi, ele já defendia posições contra o dirigente líbioFoto: dapd
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