Moçambique recebeu da China, esta quarta-feira (24.02), o primeiro lote de vacinas contra o coronavírus SARS-CoV-2. Sociedade civil exige ao Governo a divulgação imediata do plano de vacinação.
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Já estão em Moçambique as primeiras 200 mil doses da vacina contra a Covid-19. São do laboratório farmacêutico chinês Sinopharm e começarão a ser administradas nos próximos dias a milhares de moçambicanos, embora ainda não se conheça o plano nacional de vacinação contra a doença.
"O Governo está a empurrar o assunto das vacinas com a barriga até que apareça um doador", critica Borges Nhamire, pesquisador do Centro de Integridade Publica (CIP) para quem o processo se tem pautado pela falta de transparência.
"E assim [o Executivo] vai gerindo este assunto e a vida vai andando para o Governo", acrescenta, lamentando a falta de informação sobre todo o processo de gestão e administração de vacinas no país.
Segundo o CIP, o Governo deve divulgar com urgência o plano de vacinação contra a Covid-19, bem como o esquema de aquisição do fármaco profilático.
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"Evitar contendas"
Também o analista e jurista Job Fazenda apela ao governo que publique com rapidez um plano de vacinação para "evitar contendas" na sociedade, uma vez que admite que a vacina não será para todos.
"Nós sabemos que primeiro serão vacinados médicos, enfermeiros, polícias, pessoas em maior risco e aqueles que estão internados", frisou.
O primeiro-ministro moçambicano Carlos Agostinho do Rosário, que dirigiu a cerimónia de receção das vacinas, disse esta quarta-feira (24.02) que o plano nacional de vacinação contra a Covid-19 será divulgado oportunamente pelo Ministério da Saúde.
"O governo adotou uma estratégia de vacinação no âmbito da prevenção da Covid-19 que prioriza grupos de alto risco como, por exemplo, os profissionais de saúde entre outros que estão na linha da frente de combate à pandemia", avançou.
O primeiro-ministro lembrou que a chegada das primeiras doses da vacina a Moçambique não significa que se possa descartar as medidas de prevenção contra a Covid-19, recomendando-se o uso de máscara, o distanciamento social, a lavagem frequente das mãos e o cumprimento da etiqueta respiratória.
"Reafirmamos o compromisso do Governo em continuar a promover esforços para que o nosso país disponha de mais vacinas contra a Covid-19 para abranger um maior número de pessoas", disse ainda.
As 200 mil doses da vacina que chegaram esta quarta-feira a Moçambique fazem parte de uma doação da República Popular da China, no âmbito das relações de amizade e cooperação bilateral entre os dois países.
Índia promete mais doses
O novo alto-comissário da Índia em Moçambique também prometeu esta quarta-feira entregar ao país lusófono 100 mil doses de uma vacina contra o novo coronavírus, à margem da cerimónia de entrega de cartas credenciais ao Presidente moçambicano, Filipe Nyusi.
O diplomata, Shri Ankan Banerjee, "reiterou a disponibilização de 100 mil vacinas do seu país para Moçambique", para "fazer face à pandemia", disse aos jornalistas a ministra moçambicana dos Negócios Estrangeiros e Cooperação, Verónica Macamo, no final da cerimónia no Palácio da Presidência, em Maputo.
Moçambique tem um total acumulado de 606 mortes e 56.595 casos de Covid-19, após uma subida vertiginosa em janeiro.
Só no primeiro mês deste ano, o país registou mais casos e mortes que em todo o ano de 2020, elevando para mais de 300 o número de internamentos, pressionando o sistema de saúde.
O fardo da Covid-19 para as famílias de Inhambane
Milhares de famílias estão a sofrer na província de Inhambane, no sul de Moçambique, desde que eclodiu a pandemia do novo coronavirus. Há pessoas sem emprego, em isolamento, obras paralisadas e os bens escasseiam.
Foto: Luciano da Conceição/DW
Famílias sofrem por causa da Covid-19
Muitos habitantes da província moçambicana de Inhambane perderam os postos de trabalho por causa da crise provocada pela Covid-19, outros foram dispensados para cumprirem o isolamento social. Por outro lado, há obras paralisadas e faltam vários produtos, principalmente nas zonas rurais. Muita gente está a migrar para as cidades e vilas.
Foto: Luciano da Conceição/DW
A culpa é do coronavírus
Dulce Eugénio, mãe de dois filhos e residente no bairro Sarrene, na cidade de Maxixe, disse que antes da pandemia o negócio corria muito bem, mas depois ficou sem dinheiro: "Consegui comprar o meu terreno e já estava a construir a minha casa de blocos com este pequeno negócio de vender tomates, cebola, pepino e cenoura, mas essa doença veio atrapalhar toda a situação."
Foto: Luciano da Conceição/DW
"Coronavírus trouxe mais fome"
Com o confinamento obrigatório decretado em abril de 2020, a situação da fome agravou em Inhambane. Os cidadãos consideram que a pandemia do novo coronavírus "trouxe mais fome e miséria às comunidades". O desespero continua a imperar.
Foto: Luciano da Conceição/DW
Viver de hortaliças é para quem pode
Há cada vez mais pessoas desempregadas, muitas famílias tiveram de adaptar as receitas em casa e passaram a consumir mais verduras, por exemplo. Mesmo assim, nem todos conseguem comprar, porque as hortaliças também já começam a escassear. Marta Alberto diz que não foi registada para receber o subsídio da Covid-19, concedido pelo Estado, e pede ajuda.
Foto: Luciano da Conceição/DW
Produção agrícola em queda
Não é só a pandemia que tem sido um problema. Não tem chovido e muitas pessoas abandonaram a atividade agrícola. Os camponeses pedem ao Estado sementes, que estão cada vez mais caras no mercado. Em Inhambane, nem todos os camponeses vão receber o subsídio de dois mil meticais mensais (cerca de 23 euros) para suprir as suas necessidades durante seis meses.
Foto: Luciano da Conceição/DW
Abandonada pela família e sem apoio
Joana Cândido foi abandonada pela família. Vivia com os netos, mas, com a pandemia, o filho solicitou aos netos que residissem juntos noutro bairro, deixando assim a idosa à sua sorte. Com problemas na perna e dores constantes na coluna, não lhe é fácil ter três refeições por dia. Afirma que não foi selecionada pelo Instituto Nacional de Ação Social (INAS) para receber o subsídio da Covid-19.
Foto: Luciano da Conceição/DW
"Estamos a sofrer e precisamos de apoio"
Laura Simão foi registada pelo INAS, na cidade de Maxixe, mas ainda não recebeu o dinheiro e afirma não ter comida suficiente. Em situação semelhante estão muitas outras pessoas carenciadas, que foram inscritas mas ainda não receberam os subsídios.
Foto: Luciano da Conceição/DW
Excluída dos apoios, com a panela vazia
Maria João revela que não foi contemplada pelos apoios da Covid-19. Ficou surpreendida, porque não trabalha, tem filhos a seu cargo e a panela vazia. E pede apoio ao Estado.
Foto: Luciano da Conceição/DW
Enganar a fome
Teresa António trabalhava como doméstica em Inhambane, numa residência, mas, com a pandemia, teve de deixar de trabalhar para os seus patrões. Agora desempregada, diz que é difícil ter arroz na mesa e, muitas vezes, tem de misturar o arroz com tapioca (farinha de mandioca) para conseguir enganar a fome.
Foto: Luciano da Conceição/DW
Vender mangas para sobreviver à pandemia
Cândida Maurício fazia venda ambulante no centro da cidade da Maxixe, mas - impossibilitada de continuar o negócio na rua por causa da pandemia - teve de se adaptar. Faz agora revenda de mangas na sua residência, mas soma prejuízos e não recebe apoio do Governo.
Foto: Luciano da Conceição/DW
Perdeu o emprego com a Covid-19
Com o encerramento dos estabelecimentos comerciais em cumprimento do decreto do estado de emergência, João Saul foi demitido do serviço de guarda. Afirma que a pandemia lhe trouxe efeitos negativos que jamais irá esquecer. Sobrevive com o subsídio que recebe por ser desmobilizado - não superior a 50 euros - valor que considera insuficiente.
Foto: Luciano da Conceição/DW
Sonho perdido?
Nina Cumbe concluiu o 12º ano de escolaridade em Inhambane, em 2019. Antes da eclosão da pandemia, queria concorrer a uma escola técnica profissional, mas não conseguiu, porque muitos estabelecimentos de ensino tiveram que encerrar com a declaração do estado de emergência no país. Agora, tenta ganhar a vida fazendo tranças a amigas.
Foto: Luciano da Conceição/DW
Resta fé e esperança
No meio de tanto sofrimento provocado pela pandemia do novo coronavírus, as famílias estão a lutar para superar a crise. Ilda Joaquim, residente de Inhambane, afirma que o confinamento social agravou a maneira de viver e que está a ser difícil adaptar-se às novas medidas. Reza muito para que consiga ultrapassar esta crise, porque está difícil receber apoios.
Foto: Luciano da Conceição/DW
À espera de dias melhores
Antes da chegada do novo coronavírus, Maria Alberto fazia trabalhos para terceiros e produzia mandioca para fabricar e vender farinha. Hoje, é uma simples dona de casa que deixa as panelas limpas à espera que o marido traga alguma coisa dos seus biscates diários. Lamenta o sofrimento provocado pela Covid-19, mas vive na esperança de que tudo voltará à normalidade.