"Chegou o momento de impor sanções" ao Sudão do Sul
AFP | mjp
28 de janeiro de 2018
Palavras são do presidente da Comissão da União Africana. Na abertura da 30ª cimeira do bloco, em Addis Abeba, Moussa Faki condenou a "crueldade inacreditável" das partes em conflito.
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O presidente da Comissão da União Africana (UA), Moussa Faki, afirmou este domingo que "chegou o momento” de sancionar os responsáveis pelo bloqueio dos esforços de paz no Sudão do Sul, em guerra civil desde dezembro de 2013.
No discurso de abertura da cimeira da UA, a decorrer na capital da Etiópia, Addis Abeba, o diplomata chadiano denunciou a "crueldade inacreditável” e a "violência sem sentido” de ambas as partes num conflito que fez dezenas de milhares de mortos e continua a ser marcado por atrocidades de contornos étnicos.
"Chegou o momento de impor sanções a quem coloca obstáculos à paz”, disse o presidente da Comissão da UA, sem adiantar, no entanto, exemplos de possíveis sanções.
Estudar consequências
Em dezembro, um processo de "revitalização” do acordo de paz firmado em 2015 levou à declaração de mais um cessar-fogo no país, mas a trégua já foi violada várias vezes.
Na quarta-feira (24.01), os Estados Unidos pediram às Nações Unidas que imponham um embargo internacional de armas ao Sudão do Sul, um país nascido em 2011 sob os auspícios de Washington. Para os Estados Unidos, o Governo do Presidente Salva Kiir "prova cada vez mais que é um parceiro impróprio" para liderar os esforços de paz no país.
No sábado (27.01), o ex-Presidente do Botsuana, Festus Mogae, presidente da Comissão de Monitorização e Avaliação do acordo de paz (JMEC) de agosto de 2015, apelou à organização regional IGAD - que mediou a assinatura do cessar-fogo de 24 de dezembro – que defina consequências claras para aqueles que não respeitam os esforços de paz.
"Para que o processo de revitalização seja bem-sucedido, todos os líderes sul-sudaneses devem entender claramente as consequências do não cumprimento", disse Mogae depois de uma reunião com a IGAD às margem da cimeira da UA. "Agora é hora de rever as medidas que podem ser tomadas (...) contra aqueles que se recusam a levar este processo a sério".
A guerra civil deixou quase 4 milhões de deslocados e causou uma grave crise humanitária. Muitos observadores acreditam que os líderes sul-sudaneses são responsáveis pela devastação do país.
Em 2016, um relatório do grupo de investigação The Sentry, co-fundado pelo ator norte-americano George Clooney, acusou a elite militar e política sul-sudanesa, encabeçada pelo Presidente Kiir e o seu ex-vice-Presidente, o líder rebelde Riek Machar, de enriquecer durante a guerra civil.
Rebeldes no Sudão do Sul: Sem meios, mas prontos para lutar
O país mais jovem do mundo é palco de um conflito entre tropas do Governo e rebeldes desde 2013. Enquanto persistem as dificuldades no diálogo entre as autoridades, o país está mergulhado numa crise humanitária.
Foto: Reuters/G. Tomasevic
A calma antes da tempestade
Rebeldes do SPLA-IO (Exército de Libertação do Povo do Sudão em Oposição) recuperam forças antes de um ataque contra as forças armadas do Governo (SPLA - Exército de Libertação do Povo do Sudão) na cidade de Kaya, na fronteira com o Uganda. Um jornalista norte-americano que acompanhava os rebeldes foi morto nos confrontos de 26 de agosto.
Foto: Reuters/G. Tomasevic
Diálogo nacional para a paz?
Apesar do acordo de paz entre o Presidente Salva Kiir (na foto) e o ex-vice-Presidente Riek Machar, o conflito continua. Em maio, os mediadores propuseram um diálogo nacional. "Nós não excluímos ninguém, mas a presença de Riek desestabilizaria toda a região", disse Kiir, em entrevista à DW.
Foto: Getty Images/AFP/Z. Abubeker
Quatro anos de guerra civil
Dois anos após a independência do país, em 2011, o Presidente Salva Kiir e o vice-Presidente Riek Machar entraram em disputa. Kiir acusou Machar de tentativa de golpe de Estado. Os confrontos entre os apoiantes dos dois dirigentes ganharam rapidamente contornos éticos: desde então, os combatentes Nuer - etnia a que pertence Riek Machar - enfrentam os apoiantes de Kiir, do grupo étnico Dinka.
Foto: Reuters/G. Tomasevic
Marcado pela guerra
Entretanto, formou-se uma rede complexa de partes em conflito. As milícias dividiram-se em vários pequenos grupos. Lutam pelo poder político no Sudão do Sul, mas também pelo controlo dos recursos do país. Todos são acusados de violações dos direitos humanos. Milhões de pessoas foram forçadas a abandonar as suas casas.
Foto: Reuters/G. Tomasevic
Dois milhões de refugiados
Na foto, mulheres sul-sudanesas num campo de refugiados na Etiópia. De acordo com a agência de refugiados da ONU, cerca de dois milhões de sul-sudaneses fugiram para países vizinhos desde 2013. Só o Uganda recebeu cerca de um milhão de refugiados.
Foto: Reuters/D. Lewis
Soldados leais
Rebeldes do SPLA-IO rezam e cantam juntos, na véspera de um ataque às forças do Governo. Querem uma mudança de poder. "Enquanto Salva Kiir estiver no poder, não haverá paz. Ele tem de partir", diz o líder rebelde James Khor Chuol Lengdit à agência de notícias Reuters.
Foto: Reuters/G. Tomasevic
Ataques e abusos
A guerra e a seca levaram a uma crise humanitária. A população sofre com a fome, sobretudo no norte do país. Segundo as Nações Unidas, cinco milhões e meio de pessoas dependem atualmente de ajuda alimentar. No entanto, os trabalhadores humanitários são repetidamente atacados. A 30 de agosto, os Médicos Sem Fronteiras anunciaram o fim da ajuda médica.
Foto: Reuters/G. Tomasevic
A maior crise de refugiados em África
A cidade de Kaya, na fronteira, está deserta. Nas ruas, rebeldes e soldados do Governo travam batalhas sangrentas. Quase um terço da população de 12 milhões de pessoas fugiu do Sudão do Sul ou está deslocada internamente. É a maior crise de refugiados no continente africano desde o genocídio no Ruanda, em 1994.
Foto: Reuters/G. Tomasevic
Rebeldes sem meios
Após 40 minutos de combate, os rebeldes ficam sem munições. "Faltam-nos meios financeiros e apoio", diz o General Matata Frank Elikana à agência de notícias Reuters. "As armas e munições que temos tiramos do inimigo", explica o também governador rebelde do estado de Yei River.
Foto: Reuters/G. Tomasevic
Missão esgotante
Exaustos, os rebeldes do SPLA-IO retiram-se, após o confronto com as tropas governamentais. Descansam junto a uma lagoa antes de seguirem caminho até ao acampamento. Muitos dos jovens soldados estão sob a influência de álcool e drogas. Só assim conseguem suportar as imagens traumáticas do conflito.
Foto: Reuters/G. Tomasevic
Cuidados de emergência
Rebeldes transportam um jovem baleado nos confrontos com as tropas do Governo. É levado numa maca feita de ramos de árvore até ao acampamento onde serão tratados os ferimentos. No entanto, nos acampamentos rebeldes, há muito que os medicamentos deixaram de existir. Muitos combatentes morrem por falta de tratamento médico.