Seis pessoas morreram, três estão desaparecidas e mais de 36 mil foram afetadas pelas inundações que atingem a província e cidade de Maputo, no sul de Moçambique, onde aumentam as críticas à atuação das autoridades.
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De acordo com o Instituto Nacional de Gestão de Desastres (INGD), cerca de 19 mil pessoas estão na cidade de Maputo e mais de 17 mil na província com o mesmo nome. As autoridades moçambicanas alertam que este número pode ainda subir porque há ainda cerca de seis mil pessoas que continuam por resgatar em algumas zonas sitiadas na província de Maputo, principalmente nos distritos de Boane e Moamba.
O trabalho de resgate é ainda desafiante, reconhece Paulo Tomás, porta-voz do INGD, em entrevista à STV, parceira da DW. "Estamos a falar da corrente das águas que muitas vezes não permite às embarcações de resgate chegar aos locais [onde as pessoas continuam penduradas nos tetos ou nas árvores], para a retirada destas famílias", diz.
Há críticas à exiguidade dos meios de resgate por parte do INGD, principalmente as embarcações. No último fim de semana, as operações de resgate na província de Maputo foram comandadas por embarcações de pessoas singulares, através do movimento denominado SOS Boane. O movimento resgatou neste domingo (12.02) mais de mil pessoas.
O INGD reconhece a chegada tardia aos locais inundados, mas garante que neste momento já tem 17 embarcações alocadas para o salvamento das famílias nos distritos da província de Maputo.
Falta de meios aéreos
Paulo Tomás diz que o grande "calcanhar de Aquiles" nas ações de salvamento é a falta de meios aéreos.
"O ideal seria termos todos os meios e recursos, estamos a falar de meios materiais e humanos disponíveis para prestarmos apoio, mas devido à falta de disponibilidade vamos trabalhando com o que temos", afirma o porta-voz do INGD.
Grande parte das pessoas já resgatadas está acomodada em 10 centros criados pelo Governo na província do Maputo. "O nosso grande desafio é que as pessoas, ao chegar aqui, tenham apoio psicológico", diz Luisa Maque, diretora geral do INGD.
Através de movimentos de solidariedade, está a ser canalizado apoio alimentar aos centros de acomodação.
Milhares de casas e infraestruturas privadas estão ainda alagadas. As autoridades dizem que cerca de 15 escolas foram também afetadas.
Moçambique: Residentes de Pemba enfrentam drama das chuvas
02:48
Estradas cortadas
A ligação rodoviária entre várias localidades dos distritos da Namaacha, Boane e Moamba está cortada devido ao desabamento de várias pontes.
O primeiro-ministro moçambicano, Adriano Maleiane visitou neste domingo o distrito de Boane, o mais afetado pelo fenómeno.
No final da visita, o governante garantiu à imprensa a reposição da transitabilidade nas vias afetadas, mas sem avançar datas, justificando que "se se exigir a intervenção que está ao alcance do Governo, a [reposição] será feita. Mas por agora ainda estamos num período chuvoso", lembrou.
O Instituto Nacional de Meteorologia alerta para a continuação de fortes chuvas nos próximos dias, o que poderá afetar mais pessoas.
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Apoio do Banco Mundial
O Banco Mundial suspendeu no ano passado o apoio ao INGD, por alegado desvio de aplicação de cerca de 32 milhões de meticais (cerca de 470 mil euros), destinados à mitigação dos efeitos das calamidades.
Segundo uma carta do Banco Mundial, endereçada ao ministro moçambicano da Economia e Finanças, parte deste valor terá sido usado para compra de viaturas e construção de infraestruturas.
Mas em comunicado de imprensa emitido na tarde deste domingo (12.02), o INGD diz que o caso já está ultrapassado e o Banco Mundial retomou o seu apoio à instituição.
Estragos causados pelas fortes chuvas em Maputo
As chuvas que caíram ao longo da semana passada criaram enchentes nos arredores da capital, alagaram residências e impediram a transitabilidade. Sempre que chove, os moradores têm de se reinventar.
Foto: Romeu da Silva/DW
Residências debaixo de água
As chuvas que caíram ao longo da semana passada criaram enchentes nos arredores da capital moçambicana, alagaram residências e impediram a transitabilidade nas vias. Sempre que chove, os moradores têm de se reinventar enquanto as promessas de melhorias de saneamento não saem das gavetas. As famílias que viram as suas casas serem tomadas pela água das chuvas aguardam a melhoria das condições.
Foto: Romeu da Silva/DW
Formação de "lagoas"
Esta "lagoa" no bairro Costa do Sol foi aumentada pelas últimas chuvas. Antes, como contam os moradores, era possível atravessar a área sem qualquer problemas. No entanto, as chuvas da semana passada criaram cenários em que, para chegar ao outro lado, é preciso dar uma volta de cerca de 30 a 40 minutos.
Foto: Romeu da Silva/DW
Bairro da Liberdade é o mais afetado
Na cidade da Matola, o bairro mais afetado pelas chuvas é o da Liberdade, nos arredores da capital industrial. Os moradores dizem que esta rua aos poucos foi desaparecendo, porque em certas ocasiões "parece um rio", impedindo a passagem de pessoas e viaturas.
Foto: Romeu da Silva/DW
Grandes áreas alagadas
Os bairros suburbanos são os mais afetados pelas intensas chuvas que caem desde outubro passado. Esta imagem mostra uma imensa área alagada pelas últimas chuvas. Além de dificultar a circulação de pessoas, oferece risco de acidente a quem tentar caminhar pela área sem saber o que se encontra sob a água.
Foto: Romeu da Silva/DW
Risco para as crianças
Algumas crianças frequentemente encontravam neste espaço uma "piscina". Os moradores contam que algumas crianças podiam ter morrido, não fosse a pronta intervenção para as socorrer. É uma baixa do bairro Ferroviário mais a norte da capital Maputo. Quando chove, toda a água se deposita nesta área. A água baixou, mas uma grande poça de água ainda permanece.
Foto: Romeu da Silva/DW
Vias alagadas
As vias de acesso são outro crónico problema nos arredores de Maputo. Quando chove, os residentes do bairro Ferroviário têm de dar uma volta de cerca de 30 minutos para encontrar uma rua pavimentada. Em condições normais, levam apenas cinco minutos.
Foto: Romeu da Silva/DW
Moradores tentam impedir crateras
Os residentes do bairro da Polana Caniço, que faz fronteira com a cidade cimento, colocaram vários objetos para impedir que as águas das chuvas criem crateras. As correntes de água conseguiram remover a areia, deixando exposto o material plástico que as comunidades colocaram para tentar impedir a formação de crateras.
Foto: Romeu da Silva/DW
Mobilidade difícil
O Município de Maputo fez várias promessas para a requalificação de alguns bairros. É o caso deste, Maxaquene, mais a sul da fronteira com a cidade de cimento. De promessa a promessa os moradores vão arranjando as suas soluções. Muitas vezes as fortes quedas de água deixam pessoas desalojadas e já houve situações em que o fornecimento de água foi interrompido.
Foto: Romeu da Silva/DW
Mais crateras
No bairro de Hulene, também nos subúrbios de Maputo, as últimas chuvas criaram esta cratera mesmo depois da colocação de barreias para impedir o desabamento de casas. As comunidades relatam que esta rua estava transitável há bem pouco tempo. A criação de crateras é um problema frequente nos bairros que são afetados pelas chuvas.
Foto: Romeu da Silva/DW
Casas são abandonadas
O Município da Matola já fez diversas promessas de criar condições de saneamento para evitar as crónicas enchentes no bairro da Liberdade. Desde o ano 2000 que o bairro não escapa à fúria das águas e até este momento a administração municipal não resolveu o problema. Muitos moradores optaram por abandonar as suas casas.
Foto: Romeu da Silva/DW
Chuvas intensas
Quando chove, os moradores de Maputo e arredores perdem o sono. Sabem que, dependendo da intensidade da chuva, os estragos são garantidos. Sonham com o dia em que haverá um sistema de escoamento adequado e não terão de temer quando a chuva cair.