China-África: Cooperação potencia aprendizagem de mandarim
Eva de Vries | Gustav Hofer
26 de maio de 2018
Com uma presença chinesa cada vez mais visível, cidadãos no Quénia vêem na aprendizagem do mandarim uma forma de se destacarem no mercado de trabalho. Influência chinesa também é visível nos PALOP.
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Já são mais de meio milhão de cidadãos chineses no continente africano, entre trabalhadores expatriados donos de empresas e famílias. No Quénia, companhias chinesas estão por trás de grandes infraestruturas. Para acompanhar o fenómeno, escolas de ensino de língua chinesa propagam-se pelo país.
Numa escola em Ruiro, a norte de Nairobi, no Quénia, crianças e adolescentes repetem palavras em mandarim que o professor lhes diz. Têm entre sete e trezes anos. Uma das estudantes é a Lúcia. Aos trezes anos, já pensa nas portas que saber falar mandarim lhe pode abrir:
"É uma língua interessante para aprender. Quando for para outro país, posso ensinar outras pessoas a falarem chinês. Também posso ajudar na tradução", conta a adolescente
O professor, James, concorda que aprender este idioma vai ser vantajoso para os seus pupilos, numa altura em que o seu país acolhe grandes empreendimentos chineses.
"Agora, as pessoas que que de facto estão aqui no país a fazer muitas coisas, por causa da cooperação com o Governo, são os chineses. Por isso precisamos de tradutores, pessoas que falem umas com as outras".
O professor defende que quanto mais cedo os estudantes começarem, melhor, pois "quando alcançarem níveis de escolaridade mais altos vão saber falar bem e podem ser enquadrados em qualquer área do mercado de trabalho", conclui.
Vantagens e desafios
Em Nairobi, a oferta de cursos de chinês abrange todas as idades. Profissionais, estudantes e licenciados à procura de emprego num mercado competitivo procuram muito as aulas de chinês.
Faith Wnjiku apaixonou-se pela língua e cultura chinesas há muito tempo. Depois de estudar na China durante um ano, já fala fluentemente a língua e criou o seu próprio instituto "O Centro de Descoberta Cultural da China". Conta que este é um bom momento para aprender a língua,
"Sinto que é bom para os quenianos aprenderem mandarim. O Governo está a cooperar com pessoas chinesas para construir infraestruturas no Quénia. As empresas chinesas precisam de empregados. 90% deles devem ser cidadãos quenianos, de acordo com as regras do Governo".
China-África: cooperação potencia aprendizagem de mandarim
Aprender esta língua pode ser difícil, mas traz benefícios. Benson Kawangire, de quase 30 anos, encontrou emprego como intérprete para a companhia ferroviária "Standard Gauge", que está a construir a linha de comboio entre Nairobi e Mombasa. Gosta do seu trabalho, mas fala de algumas barreiras culturais, uma delas, a noção do tempo.
"Para os quenianos não é muito importante. Os chineses são muito estritos no que diz respeito à pontualidade, dentro e fora do serviço. Eles começam a trabalhar muito mais cedo", justifica.
Faith Wnjiku concorda com o choque que por vezes acontece entre as duas culturas, onde por vezes ocorrem desentendimentos mútuos. Para ela o Governo queniano deve fazer por proteger os cidadãos.
"Ter regras ou sanções que garantam que os quenianos terão o seu lugar e que os chineses não podem fazer tudo o que querem", sugere. Faith espera que o seu centro, bem como outras escolas de ensino de mandarim, além do conhecimento do idioma, possam ter um papel importante na melhoria do entendimento entre chineses e quenianos.
Relações económicas e culturais de mão dada
Os países de língua portuguesa não estão fora do radar chinês, quer na parte económica, quer cultural. Em Moçambique, a 13 de maio, iniciou-se a construção de um Centro Cultural Moçambique-China, integrado na Universidade Eduardo Mondlane, onde desde há poucos anos já existe a licenciatura em Língua, Literatura e Cultura chinesa. A obra custará cerca de 60 milhões de euros e está a cargo de uma empresa da China.
Em Cabo Verde, no ano passado, o ensino de mandarim passou a estar disponível em algumas escolas para alunos já no nono ano. Antes, já era acessível a estudantes do nível universitário.
Em outubro, o Fórum Macau, plataforma de reforço da cooperação multilateral entre a China e Países língua portuguesa, celebra 15 anos e anda em périplo pelos países a analisar de que forma se pode dar continuidade à cooperação. Só no ano passado, as trocas comerciais entre a China e a lusofonia atingiram um valor de quase 100 mil milhões de euros, um crescimento de 30% face ao ano anterior.
Maputo: Várias construções públicas são obra de empreiteiros chineses
Estradas, viadutos e edifícios estatais - são algumas das grandes infra-estruturas públicas financiadas pelo Governo chinês e que foram construídas na capital moçambicana. Foram também adjudicadas a empresas chinesas.
Foto: DW/Romeu da Silva
Aeroporto Internacional de Maputo
O Aeroporto de Maputo obedece aos padrões internacionalmente aceites para receber todo o tipo de aviões e consta da lista das mais modernas infra-estruturas aeroportuárias de África. Em 2010, altura em que foi construído, esperava-se que aterrassem aqui as seleções que iam competir no Mundial de Futebol da África do Sul, o que acabou por não acontecer. Custou 75 milhões de dólares.
Foto: DW/Romeu da Silva
Estrada Circular de Maputo
Em 2011, o Governo moçambicano e o Governo da República Popular da China lançaram, em conjunto, o projeto “Estrada Circular de Maputo”, com o intuito de aliviar o trânsito na capital moçambicana. As obras começaram em 2012 e custaram 315 milhões de dólares, dos quais 300 são um empréstimo do banco estatal China Exim-Bank. A obra foi adjudicada à empresa China Road and Bridge Corporation (CRBC).
Foto: DW/Romeu da Silva
Viadutos
O projeto da Estrada Circular contemplou também a construção de várias pontes, entre elas um viaduto num troço que liga a zona leste de Maputo a Ressano Garcia, na fronteira com a África do Sul. Pretendeu-se proteger a circulação do comboio pelo corredor de Limpopo - crucial para o transporte de carga de e para os países do Hinterland.
Foto: DW/Romeu da Silva
Gloria Hotel
Localizado à beira mar na Avenida Marginal, na capital do país, o AFECC Gloria Hotel possui duas salas de conferências - uma com capacidade para duas mil pessoas e outra para oitocentas - 258 quartos, restaurantes e outros serviços. O investimento total rondou os 300 milhões de dólares, o que faz do Gloria o maior complexo hoteleiro do país.
Foto: DW/Romeu da Silva
Maputo Katambe
É a maior ponte suspensa de África e custou ao Governo moçambicano 700 milhões de dólares num financiamento do Exim Bank da China. O Governo considera a infra-estrutura de extrema importância para Moçambique, uma vez que vai permitir uma melhor circulação de pessoas, cargas e bens entre Maputo e Catembe, bem como a reativação de trocas comerciais com maior frequência.
Foto: DW/Romeu da Silva
Ponte suspensa
Todos os dias o "ferry-boat" faz transporte de passageiros e carga para o outro lado da baía de Maputo. Os passageiros levam horas a fazer a travessia. Mas a construção da ponte Maputo Katambe deverá aliviar este sofrimento apesar das muitas críticas que são feitas à sua construção. Os moçambicanos esperam por ela desde a independência.
Foto: DW/Romeu da Silva
Ministério dos Negócios Estrangeiros
O Ministério dos Negócios Estrangeiros é mais um dos edifícios modernos construídos por empreiteiros chineses na esteira das históricas relações diplomáticas que existem entre os dois países que duram há quase cinquenta anos. Localiza-se na baixa da capital moçambicana.
Foto: DW/Romeu da Silva
Palácio da Justiça
Com 12 andares, o edifício está avaliado em 13 milhões de dólares americanos. Mais um investimento que resulta de um crédito concedido pela China. Aqui encontram-se as secções civis, comerciais e laborais do Tribunal Judicial de Maputo. No mesmo edifício encontram-se ainda o Tribunal de Polícia, o gabinete dos representantes do Ministério Público e, provisoriamente, o Tribunal Supremo de Recurso.
Foto: DW/Romeu da Silva
Procuradoria-Geral da República
Sob a égide da empresa “China National Complete Plant Import & Export Corporation”, esta construção custou 40 milhões de dólares e durou 24 meses. É mais uma das obras cujo orçamento proveio de uma linha de crédito aberta pelo Governo chinês a favor de Maputo, no âmbito dos acordos assinados entre os dois estados, por ocasião da visita, em 2007, do Presidente da China, Hu Jintao, a Moçambique.
Foto: DW/Romeu da Silva
Avenida Marginal
Encontrar estacionamento na cidade nem sempre foi fácil. Havia muito tráfego rodoviário, com a agravante de haver automobilistas em estado de embriaguês. Agora, ao longo da avenida da Marginal, existem muitos espaços para estacionamento das viaturas dos banhistas, mesmo em dias de muito calor que convidam muita gente a deslocar-se à praia.
Foto: DW/Romeu da Silva
Proteção da Praia da Costa do Sol
As obras na Praia da Costa do Sol iniciaram-se em 2012 e custaram 22 milhões de dólares. A degradação da zona costeira permitia que, em momentos de maré alta, as águas galgassem a estrada. Foi por isso resconstruída. A barreira (na imagem) veio resolver o problema de erosão costeira nesta zona.
Foto: DW/Romeu da Silva
Estádio Nacional de Zimpeto
Com capacidade para 42 mil pessoas, das quais 10 mil em zona coberta, o Estádio Nacional situa-se no bairro de Zimpeto, a 14 quilómetros do centro de Maputo, e ocupa uma área de 26 hectares, num total de 46 reservados para a infra-estrutura. A obra, orçada em 70 milhões de dólares, foi também financiada pelo Governo chinês e construída pela Anhui Foreign Economic Construction Group.
Foto: DW/Romeu da Silva
Vila Olímpica
A Vila Olímpica de Zimpeto é composta por 848 apartamentos com infra-estruturas distribuídas por 26,5 blocos. Os edifícios são de quatro pisos, com apartamentos de tipo três, numa área útil de 100 metros quadrados. Em 2011, quando Moçambique organizou os jogos africanos, a Vila albergou todos os atletas que participaram no evento desportivo.