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China e Rússia unidas por inimigos e objetivos comuns

21 de março de 2023

Apoio do Presidente chinês à Rússia é moeda de troca nas relações com o Ocidente, considera analisa moçambicano. Juntos, os dois países querem estabelecer uma nova ordem mundial.

Presidente chinês, Xi Jinping, e homólogo russo, Vladimir Putin
Xi Jinping e Vladimir Putin em MoscovoFoto: SERGEI KARPUKHIN/AFP

O Presidente chinês, Xi Jinping, está de visita a Moscovo para reforçar as relações bilaterais entre os dois "velhos" amigos. 

Para o político e analista moçambicano de relações internacionais Muhamad Yassine, esta é uma visita estratégica tendo em conta os bloqueios ocidentais contra Moscovo devido à invasão russa da Ucrânia.

Yassine entende, por outro lado, que não há um interesse genuíno da União Europeia ou dos Estados Unidos numa paz com a Rússia, pois estariam interessados em enfraquecer Moscovo "na geopolítica mundial", para que "vergue aos interesses da Europa". É aí que poderá entrar a China, como possível mediadora no conflito.

DW África: Como analisa esta visita de Xi Jinping a Moscovo, numa altura em que o Ocidente tenta isolar a Rússia?

Muhamad Yassine (MY): Há dois pressupostos aqui que devem ser olhados com atenção. O primeiro é que, nos últimos quatro anos, há um forçar por parte do Ocidente em relação a Taiwan. A priori, o Ocidente foi para um braço-de-ferro com a China, exigindo à China que liberte a pretensão de tornar Taiwan um estado dentro da China. Por outro lado, o Ocidente envolveu-se de forma grosseira na questão de Hong Kong. Hoje em dia, a China reduziu a liberdade individual dos cidadãos de Hong Kong, tornando Hong Kong numa província chinesa, se assim se pode dizer.

Há um antecedente de posicionamento por parte do Ocidente em relação à China.

Agora, a China encontrou uma moeda de troca, aliando-se de forma gratuita à Rússia. Por outro lado, o Ocidente, com a sua ação no sentido de olhar para a Rússia e a China como beligerantes, acabou por criar, por parte destes dois, alianças que estão a olhar para uma nova posição geopolítica global.

A cidade devastada de Mariupol, na região ucraniana de DonetskFoto: Stringer/AA/picture alliance

DW África: Estaria a China a se aliar à Rússia para fazer frente ao Ocidente?

MY: Primeiro, é preciso recordar que o [Brasil,] China, Rússia, África do Sul e Índia já estão juntas nos BRICS. E logo na criação dos BRICS, ficou claro que, para além de ter um ponto de vista político, comercial e até a criação de uma moeda única que pudesse fazer face ao euro, os países teriam uma política de defesa comum.

Ou seja, se a Rússia hoje se sente manietada e com uma guerra contra a NATO [Organização do Tratado do Atlântico Norte] no seu todo, é automaticamente evidente que a China e a África do Sul estarão do lado da Rússia, por fazer parte do bloco.

Por outro lado, a pretensão da China de ter de volta Hong Kong e Taiwan não lhe permite criticar a Rússia quando hoje pega a Crimeia ou Donbass. Aí, os dois países têm inimigos em comum, que são a União Europeia e a NATO, e têm objetivos comuns que são a anexação das suas antigas colónias. Tão simples como isto.

China e Rússia unidas por inimigos e objetivos comuns

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DW África: A China apresentou recentemente uma lista de 12 pontos para a resolução do conflito na Ucrânia. Estará Pequim interessada nesta pacificação na Ucrânia? Ou estará à procura de tirar ganhos no concerto das nações?

MY: Está claro que a União Europeia não deseja uma paz com a Rússia. Deseja ver uma Rússia enfraquecida na geopolítica mundial, para permitir que a Rússia vergue aos interesses da Europa. Não há também, por parte dos Estados Unidos, um interesse em terminar esta guerra. A China é o único país, até agora, que trouxe uma lista de questões que, ao serem abordadas, poderão levar à paz na zona da Rússia e Ucrânia.

DW África: Significará isso que a própria China quer ser um interlocutor válido neste processo, mantendo ao mesmo tempo boas relações com o Presidente russo, Vladimir Putin?

MY: A China não tem outro posicionamento a tomar em relação a esta guerra que não seja estar do lado do Putin, pelas razões já abordadas. E também pode olhar para o posicionamento de outros Estados africanos em relação ao conflito na Ucrânia e a forma como tendem a favor da Rússia, implícita ou explicitamente. Isto tem a ver com a criação da nova geopolítica, que entende que é importante que haja outros players a decidirem no mundo e não os mesmos [de sempre].

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