De 2000 a 2017, Pequim concedeu empréstimos a Estados e empresas africanas no valor de 143 mil milhões de dólares americanos. Críticos internacionais acusam chineses de empurrar os países africanos para a dívida.
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A China é, atualmente, o maior credor de África sendo, frequentemente, criticada pelo ocidente. Os críticos internacionais afirmam que o país liderado pelo Presidente Xi Jinping empurra os países africanos para a dívida, criando assim uma dependência exagerada.
A China refuta. Em 2018, o Presidente Xi Jinping prometeu cancelar parte da dívida de alguns Estados africanos mais pobres. Pequim perdoou parte da dívida a países como os Camarões e a República Centroafricana.
Em 2017, o Fundo Monetário Internacional (FMI) classificou nove Estados da África Subsaariana, incluindo Camarões, Etiópia e Zâmbia, como países com alto risco de endividamento. De acordo com o FMI, seis outros países estão profundamente endividados. São eles: Chade, República do Congo, Eritreia, Moçambique, Sudão do Sul e Zimbabué.
Annalisa Prizzon, investigadora principal do think tank britânico Overseas Development Institute, constata que a "China é o credor principal de apenas três dos 17 países da África Subsaariana classificados pelas instituições internacionais como de alto risco, nomeadamente, o Djibuti, a República Democrática do Congo e a Zâmbia". Ou seja, continua, não pode ser considerada a principal responsável pela dívida de toda a África.
China em África: bons ou maus credores?
Os EUA são o maior investidor do continente, com 54 mil milhões de dólares em investimento direto estrangeiro. Estima-se que 600 empresas americanas desenvolvem atividades apenas na África do Sul, incluindo algumas das maiores empresas americanas.
A União Europeia (EU), por outro lado, é o maior parceiro comercial de África e representa 36% de todas as exportações. Durante a quinta Cimeira UE-África em Abidjan, em 2017, a UE comprometeu-se igualmente a mobilizar mais de 54 mil milhões de dólares em investimentos "sustentáveis" em África até 2020.
Responsabilidade é dos governos
Lucy Corkin, gerente do banco sul-africano Rand Merchant Bank Africa, diz ser um erro ver a política chinesa apenas como uma exploração da fraqueza africana. À DW explica que "na maioria dos casos, se há alguma exploração, é em termos de falta de responsabilidade por parte de certos governos em relação ao seu próprio povo. O que se passa dentro de um país é fundamentalmente da responsabilidade do Estado soberano". Lucy Corkin diz, por isso, que "não se pode estar sempre a transferir culpas. Os governantes africanos deviam ser responsabilizados, porque muitas vezes são eles que pedem empréstimos à China e negoceiam os termos".
Segundo o representante do Rand Merchant Bank Africa, alguns governantes têm em conta os interesses nacionais e o bem-estar dos cidadãos. Mas outros pensam apenas na sua vantagem pessoal. A "responsabilidade pelo desenvolvimento de um país não pode ser constantemente transferida para atores externos", acrescenta.
Alguns países já ativaram o travão de emergência. É o caso da Serra Leoa que, em outubro de 2018, anulou o acordo fechado por um Governo anterior com a China para a construção de um novo aeroporto, considerado projeto de prestígio desnecessário.
Para a investigadora Annalisa Prizzon, nestes casos, não existem "os bons e os maus. Há credores". "O que me parece importante é que os países que contraem empréstimos tenham os instrumentos para fazê-lo de forma esclarecida. Que sejam capacitados de reconhecer se os investimentos se adequam às necessidades do país", conclui.
China em África: maldição ou benção?
A China quer mudar a sua imagem: de país explorador das matérias-primas africanas, para agente de desenvolvimento. Fazemos uma viagem pela história das relações sino-africanas.
Foto: AFP/Getty Images
Parceiros igualitários?
A China leva estradas asfaltadas, grandes estádios de futebol e internet de banda larga para África. Ao mesmo tempo, pede ao continente petróleo e outras matéria-primas. A China já é o maior parceiro comercial de África. Até 2020, o país pretende duplicar o volume de negócios para 400 mil milhões de dólares. Os críticos temem que haja apenas um vencedor nestes negócios: a China.
Foto: Getty Images
TAZARA: o primeiro grande projeto
A cooperação sino-africana começou nos anos 50 e 60. Como sinal da fraternidade socialista, a China financiou a construção de uma linha ferroviária que transportava o cobre da Zâmbia para a cidade portuária da Tanzânia, Dar es Salaam. O projeto baseava-se na amizade inter-étnica e no trabalho solidário. A ferrovia chamda TAZARA " Tanzania-Zambia Railway" funciona até aos dias de hoje.
Foto: cc-by-sa-Jon Harald Søby
Chegaram para fazer negócios
Com a estratégia "Go Global", na década de 90, o Governo chinês muda a sua política para África, começando a apoiar empresas do próprio país a fazerem negócios com o continente. O objetivo: proteger os recursos naturais estratégicos e promover o desenvolvimento económico da China. Ou seja, ter África como um parceiro de negócios e mercado para os bens de consumo chineses.
Foto: AP
Críticas do Ocidente
Com a nova política, a China garante para si campos de petróleo e as minas de metais preciosos, não tendo medo de trabalhar com regimes autoritários e corruptos. O país não é bem visto na Europa e nos Estados Unidos. A China só estaria interessada na exploração de recursos naturais, mas não no bem das pessoas, é a crítica do Ocidente.
Foto: picture-alliance/Tong jiang
Infraestruturas como moeda de troca
A China também faz negócios com o Presidente do Sudão, Omar al-Bashir, procurado pelo Tribunal Penal Internacional por genocídio. O país está a tornar-se o mais importante investidor na indústria de petróleo sudanês. Além disso, a empresa chinesa de petróleo estatal financia a construção da barragem de Merowe, no norte do Sudão.
Foto: picture-alliance/dpa
Oferta de 150 milhões de euros à União Africana
As boas relações com a África são bem pagas pela China. Em 2012, o país financiou a construção da sede da União Africana, em Adis Abeba. "A China vai ajudar os países africanos a ampliar a sua força e independência", disse o chefe da delegação chinesa na cerimónia de abertura.
Foto: Imago
Líder do mercado de telecomunicações
Duas empresas chinesas dominam o mercado africano de telecomunicações: a ZTE e a Huawei. Foi a essas empresas que Governos de todo o continente fizeram as suas grandes encomendas. Na Etiópia, a Huawei e a ZTE constroem uma rede de 3G para todo o país por 1,7 mil milhões de dólares. Na Tanzânia, empresas chinesas instalaram cerca de 10 mil quilómetros de cabos de fibra ótica.
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Concorrentes desagradáveis
As esperanças de melhores oportunidades em África não atraem apenas as grandes empresas, mas também milhares de cidadãos comuns chineses . Eles abrem pequenas lojas onde vendem produtos chineses baratos: utensílios de cozinha, jóias, dispositivos elétricos. "Muitos comerciantes africanos não estão satisfeitos com a nova concorrência", diz o economista queniano David Owiro.
Foto: DW/J. Jaki
À espera de novos postos de trabalho
Seja no comércio de retalho ou na construção de estradas "os africanos raramente lucram com investimentos chineses. As empresas trazem os seus próprios trabalhadores", diz Owiro. Agora, na África do Sul, onde a China acaba de inaugurar uma fábrica de camiões, isso pode mudar. O Governo sul-africano elogia o projeto como um marco para a industrialização africana e espera novos postos de trabalho.
Foto: Imago
De exportador a agente de desenvolvimento?
O primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, ofereceu dois mil milhões de dólares para um fundo de desenvolvimento para África durante a sua visita ao primeiro-ministro da Etiópia, Hailemariam Desalegn, em maio de 2014. A liderança chinesa quer abrir um novo capítulo nas relações China-África, passando de país explorador das matérias-primas para agente de um desenvolvimento sustentável.
Foto: Reuters
Medo pela reputação
"A China teme pela sua reputação no mundo", diz Sun Yun do centro de pesquisa norte-americano "Brookings". As alegações nos média de que a China só estaria interessada nas matérias-primas de África levaram a esta mudança. O Governo publicou recentemente uma lista dos programas de ajuda ao desenvolvimento, que inclui 30 hospitais, 150 escolas, 105 projetos de energia e água renováveis.
Foto: AFP/Getty Images
O charme chinês
Para promover a sua missão em África, a China lançou uma grande campanha mediática. Os meios de comunicação do Governo para o estrangeiro focam claramente os negócios, África é retratada como o continente próspero. Algo que contrasta com décadas de cobertura negativa dos meios de comunicação ocidentais.