Chivukuvuku quer acabar com "42 anos de sofrimento"
Lusa | tms
20 de agosto de 2017
Candidato da CASA-CE discursou para milhares de pessoas este domingo (20.08) durante o comício de encerramento da sua campanha eleitoral, em Luanda. Juventude dominou o evento.
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O candidato da Convergência Ampla de Salvação de Angola - Coligação Eleitora (CASA-CE) às eleições gerais angolanas de 23 de agosto, Abel Chivukuvuku, mostrou-se este domingo (20.08) convicto de que aquela força será, pelo menos, parte do novo Governo.
No comício de encerramento de sua campanha eleitoral em Luanda, o candidato disse que, se for eleito, uma prioridade será "usar os recursos do país em benefício de todos os cidadãos". Ele também pediu a confiança dos angolanos para pôr um fim a "42 anos de sofrimento e má governação".
Chivukuvuku ainda falou numa "coligação à angolana" com União para a Independência Total de Angola (UNITA). Além disso, assegurou que uma eventual aliança com o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) só seria possível se o atual partido no poder tivesse "mais patriotismo e, sobretudo, mais sensibilidade para com os cidadãos" – "um MPLA diferente", ressaltou.
"Geringonça angolana"
"Nós já anunciamos no ano passado que a CASA-CE tem probabilidade de ser Governo. Se não for Governo, no mínimo vai ser parte do Governo", afirmou Abel Chivukuvuku, confrontado pelos jornalistas com a disponibilidade já demonstrada pelo presidente e candidato UNITA, Isaías Samakuva, para um entendimento pós-eleitoral.
"Por Angola, pela mudança, temos que por todas as portas abertas", admitiu Chivukuvuku, classificando esse hipotético entendimento como uma "gerigonça angolana".
Questionado pela agência Lusa sobre se se referia a um MPLA (no poder desde 1975) com líderes diferentes dos atuais (o presidente do partido, José Eduardo dos Santos, e o vice João Lourenço), Abel Chivukuvuku respondeu negativamente. "O que conta não são as pessoas, o que conta são as atitudes, o compromisso com os cidadãos", disse o líder CASA-CE.
"42 anos de sofrimento e má governação"
Enquanto falava a milhares de pessoas que se aglomeravam desde as primeiras horas da manhã no Largo das Escolas, no centro da capital, Abel Chivukuvuku pediu que os angolanos confiassem num Governo de mudança, que trabalhe "para todos os cidadãos".
"Foram 42 anos de sofrimento e de má governação. Não podemos ser um país potencialmente rico, mas habitado por cidadãos pobres", disse.
A CASA-CE, segundo o candidato, trabalhará "para fazer um país sério, com um Governo patriótico, sensível ao sofrimento do cidadão". "Sobretudo um Governo que vai estar sob a vossa responsabilidade. (...) Nós não queremos a mudança pela mudança, não queremos o poder pelo poder. Se for assim, que fiquem lá eles", sublinhou.
Sobre as suas prioridades caso vença as eleições de quarta-feira, Abel Chivukuvuku apontou a necessidade de trabalhar em benefícios de "todos os cidadãos".
"Acabar com a corrupção, acabar com o desperdício. Acabar com a insensibilidade", disse o cabeça-de-lista da CASA-CE, que deixou ainda uma palavra para a grande maioria de jovens presentes no comício da tarde deste domingo.
"A maioria da nossa população é jovem. Quem quiser realizar Angola tem de apostar na juventude. Não tenho dúvidas de que a juventude angolana saberá dizer 'Pronto!' nodia 23", realçou.
Juventude domina comício em Luanda
O comício de encerramento da campanha eleitoral da CASA-CE, com grande participação da juventude, demonstrou a força jovem conquistada pelo partido. Patrícia Beatriz veio do bairro de Cazenga com a irmã e acredita que Chivukuvuku pode fazer a diferena caso ganhe as eleições.
"Acho que ele é um bom líder, merece. Para nós que vivemos nos bairros, nos guetos, haverá mais escolas, posto de saúde, água para todos e energia", diz a jovem de 22 anos, vestida a rigor com uma camisa amarela com a cara do candidato.
Para Patrícia, que se estreia a votar, o MPLA já não é solução, com ou sem o histórico José Eduardo dos Santos. "O MPLA? Talvez no princípio [pudesse fazer o que é preciso], mas depois vai continuar tudo o que já era", afirma.
Um pouco à frente, Manuel Adão Pedro, de 22 anos, aproveita o recinto do comício para "vender picolé" (gelados).
"Sou da província do Cuanza Norte e é a primeira vez que estou em Luanda. O meu pai morreu, a minha mãe morreu. A família vendeu a casa dos meus pais e eu estou na rua. Saí da província e vim para Luanda para poder sustentar o meu irmão", disse à reportagem da Lusa.
"Vendo picolé para ver se consigo sustentar a minha família, mas durmo na rua, como na rua", diz, apontando para o pequeno carrinho, decorado com duas bandeiras do CASA-CE, amarela com o mapa de Angola a azul e 18 estrelas brancas, uma por cada província do país.
Eleições angolanas
As eleições gerais em Angola acontecem na próxima quarta-feira, 23 de agosto. Além da CASA-CE, MPLA e UNITA, também concorrem o Partido de Renovação Social (PRS), Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA) e Aliança Patriótica Nacional (APN).
A Comissão Nacional Eleitoral de Angola constituiu 12.512 assembleias de voto, que incluem 25.873 mesas de voto, algumas a serem instaladas em escolas e em tendas por todo o país, com o escrutínio centralizado nas capitais de província e em Luanda, estando 9.317.294 eleitores em condições de votar.
Angola: Os contrastes de um gigante petrolífero
O "boom" do petróleo ainda não é para todos. Ao mesmo tempo que Angola oferece oportunidades de investimento a empresas nacionais e estrangeiras, mais de um terço da população vive com menos de um dólar por dia.
Foto: DW/R. Krieger
Lama no cotidiano
O bairro Cazenga é o mais populoso de Luanda – ali, vivem mais de 400 mil pessoas numa área de 40 quilômetros quadrados. Em outubro de 2012, chuvas fortes obrigaram muitos habitantes a andar na lama. Do Cazenga saíram muitos políticos do partido governista angolano MPLA. "Uma das prioridades de políticos pobres é a riqueza rápida", diz o economista angolano Fernando Heitor.
Foto: DW/R. Krieger
Dominância do MPLA
Euricleurival Vasco, 27, votou no MPLA nas eleições gerais de agosto de 2012: "É o partido do presidente. Desde a guerra civil, ele tenta deixar o poder, mas a população não deixa". Críticos dizem que José Eduardo dos Santos não cumpriu nenhuma promessa eleitoral, como acesso à água e à eletricidade. Mas o governo lançou um plano de desenvolvimento em novembro para dar esses direitos à população.
Foto: DW/R. Krieger
Economia informal em Angola
Muitos angolanos esperam riqueza do chamado "boom" do petróleo. Mas grande parte da população é ativa na economia informal, como estas vendedoras de bolachas na capital, Luanda. Segundo a ONU, 37% da população vivem com menos de um dólar por dia. Elias Isaac, da organização de defesa dos direitos humanos Open Society, considera este um "contrassenso" entre "crescimento e desenvolvimento".
Foto: DW/R. Krieger
Uma infraestrutura de fachada?
A capital angolana Luanda é considerada uma das cidades mais caras do mundo. Um prato de sopa pode custar cerca de 10 dólares num restaurante, o aluguel de um apartamento mais de cinco mil dólares por mês. A Baía de Luanda é testemunho constante do "boom" do petróleo: guindastes e arranha-céus disputam quem é mais alto.
Foto: DW/Renate Krieger
O "Capitólio" de Angola
Próximo à Baía de Luanda, surge a nova sede do parlamento angolano. O partido governista MPLA vai ocupar a maior parte dos 220 assentos: elegeu 175 deputados em agosto de 2012. Por outro lado, o MPLA perdeu 18 assentos em comparação à eleição de 2008. A UNITA, maior partido da oposição, ganhou 32 assentos em 2012 – mas tem pouco espaço...
Foto: DW/R. Krieger
O presidente no cotidiano de Luanda
…porque, segundo críticos, o presidente José Eduardo dos Santos (numa foto da campanha eleitoral) "domina tudo": o poder Executivo, o Judiciário e o Legislativo, diz o economista Fernando Heitor. José Eduardo dos Santos também parece dominar muitas ruas de Luanda: em novembro de 2012, quase todas as imagens eram da campanha do partido no poder, o MPLA.
Foto: DW/R. Krieger
Dormir nos carros
Os engarrafamentos são frequentes em Luanda. Por isso, muitos funcionários que moram em locais mais afastados já partem para a capital angolana de madrugada. Ao chegarem em Luanda, dormem nos carros até a hora de ir trabalhar – juntamente com as crianças que precisam ir à escola. A foto foi tirada às 06:00h da manhã perto do Palácio da Justiça em novembro de 2012.
Foto: DW/R. Krieger
A riqueza em recursos naturais de Angola
Angola é o segundo maior produtor de petróleo da África, mas também tem potencial para se tornar um dos maiores exportadores de gás natural. A primeira unidade de produção de LNG – Gás Natural Liquefeito, em inglês – foi construída no Soyo, norte do país, mas ainda está em fase de testes. A fábrica tem uma capacidade de produção de 5,2 milhões de toneladas de LNG por ano.
Foto: DW/Renate Krieger
Para acabar com a dependência do petróleo...
A diversificação da economia poderia ser uma solução, diz o Fundo Monetário Internacional (FMI). O governo angolano criou um fundo soberano do petróleo para investir no país e no estrangeiro, e para ter uma reserva caso haja oscilações no preço do chamado "ouro negro". Uma alternativa, segundo especialistas, poderia ser a agricultura, já que o petróleo só deve durar mais 20 ou 30 anos.
Foto: DW/R. Krieger
Angola atrai estrangeiros
Vêem-se muitas placas em chinês e empresas chinesas em Angola. Os chineses são a maior comunidade estrangeira no país. Em seguida, vêm os portugueses, que em parte fogem à crise económica europeia. Depois, os brasileiros, por causa da proximidade cultural. Todos querem uma parte da riqueza angolana ou investem na reconstrução do país.
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Homem X Asfalto
Para o educador Fernando Pinto Ndondi, o governo angolano deveria investir "no homem e não no asfalto". Há cinco anos, Fernando e sua famíla foram desalojados da ilha de Luanda por causa da construção de uma estrada. Agora vivem nestas casas precárias. O governo constrói novas casas para a população. Porém, os preços, a partir de 90 mil dólares, são altos demais para a maior parte dos angolanos.
Foto: DW/Renate Krieger
Para onde vai o dinheiro?
O que aconteceu com 32 mil milhões de dólares lucrados pela empresa petrolífera estatal angolana Sonangol entre 2007 e 2011? Um relatório do FMI constatou, em 2011, que faltava essa soma nos cofres públicos. A Sonangol diz ter investido o dinheiro em infraestrutura. Elias Isaac, da Open Society, diz que o governo disponibiliza mais informações – o que "não é sinônimo de transparência".