Moçambique está em alerta devido ao mau tempo. Até agora, 70 mil pessoas em todo o país foram afetadas, segundo o Instituto Nacional de Gestão de Calamidades. Inhambane é uma das províncias atingidas.
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Milhares de famílias estão sem abrigo devido às inundações provocadas pelas intensas chuvas dos últimos dias, na província moçambicana de Inhambane.
Residências, machambas e estradas foram destruídas ou inundadas. Entretanto, famílias que se refugiaram nos telhados das suas casas já foram evacuadas. Algumas foram alojadas nas salas do Instituto de Formação de Professores, nos arredores da cidade de Maxixe.
"Ficámos sem nada", diz Carlota Maurício, residente no bairro Mademo, em Maxixe, que foi socorrida depois de se refugiar no telhado da sua casa com os seus quatro filhos. "Onde vivíamos já não há nada."
Muitas pessoas estão sem comida, água potável e até mesmo saneamento.
Ângela Miguel pede comida, roupa e cobertores com urgência: "Só salvámos as nossas vidas, pois todos os nossos bens ficaram dentro da casa. Não conseguimos recuperar nada. Não temos nem o que comer."
Bombeiros sobrecarregados
Os bombeiros confirmam que a situação é crítica em quase todos os bairros. Abdul Ramany, chefe da corporação na cidade da Maxixe, diz que os seus homens estão sobrecarregados, têm de "evacuar a água dentro das casas, nas ruas", além de retirar carros soterrados.
Segundo Ramany, os bombeiros têm começado a trabalhar às cinco horas da manhã "para poderem responder à situação" - a situação mais crítica é no bairro Eduardo Mondlane, na ECMEP (Empresa de Construção e Manutenção de Estradas e Pontes).
Desde o início das chuvas, na madrugada de segunda-feira (16.01), os transportes público nas cidades de Maxixe e Inhambane estão condicionados. Muitos habitantes não conseguem chegar aos seus postos de trabalho.
"Quando a chuva aumenta, não consigo pegar chapa (transporte público). Os motoristas levam muito tempo para circular", conta Daniel Almeida, funcionário público em Inhambane.
19.01.2017 Inhambane-Chuvas - MP3-Mono
70 mil afetados em todo o país
O Instituto Nacional de Gestão de Calamidades (INGC) em Inhambane disse à DW ser prematuro fazer um balanço dos danos causados pelas chuvas, mas prometeu informações à imprensa nos próximos dias.
Ainda assim, segundo o INGC nacional, o mau tempo já afetou 16 mil famílias, num total de 70 mil pessoas, em todo o país. Na madrugada de segunda-feira, pelo menos três pessoas morreram e 236 famílias ficaram desalojadas na capital moçambicana, Maputo, na sequência das fortes chuvas.
Mais de 8 mil pessoas foram afetadas pelas chuvas fortes em Maputo e Matola. Várias infraestruturas ficaram destruídas, principalmente nos bairros periféricos, segundo os dados do INGC.
As autoridades decretaram um alerta laranja para todo o território, depois de o Instituto Nacional de Meteorologia prever a ocorrência de chuvas e ventos fortes até março.
Mudanças climáticas: motivo de mais chuvas e inundações na Beira
A Beira está ameaçada pelas alterações climáticas. A segunda maior cidade de Moçambique tem de se adaptar, já que as inundações são cada vez mais frequentes. Para isso, conta com o apoio da Alemanha.
Foto: DW/J. Beck
A força do mar
O quebra-mar destruído no bairro das Palmeiras mostra a força das ondas do Oceano Índico, na costa da Beira, a segunda maior cidade de Moçambique. Mesmo em condições normais, o nível do mar varia sete metros entre maré baixa e maré alta. Quando há ciclones e ondas criadas por tempestades, essa diferença é ainda maior. E as mudanças climáticas elevam ainda mais o nível do mar.
Foto: DW/J. Beck
Bairros inteiros ameaçados
Alguns bairros da cidade da Beira já estão tão perto do mar que algumas casas já nem podem ser habitadas. É o que acontece em Ponta-Gêa e Praia Nova. As residências já foram parcialmente destruídas pelas ondas. Segundo o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU (IPCC), o nível do mar deverá subir de 40 a 80 centímetros até 2100.
Foto: DW/A. Sebastiao
Aposta na proteção
Novos canais e mais cancelas, como aqui no bairro das Palmeiras, deverão proteger a Beira de inundações nas partes baixas da cidade. Em caso de chuvas fortes, a cancela abre-se e auxilia na drenagem da água. Até agora, a água das chuvas ficava acumulada - por vezes durante semanas. Um local ideal para a reprodução dos mosquitos transmissores de malária.
Foto: DW/J. Beck
Centro da cidade protegido de inundações
Está a ser construída mais uma cancela perto do porto de pesca. A ideia é melhorar o controlo da entrada e saída das águas na foz do rio Chiveve. O canal de entrada no porto já não precisará de ser dragado com tanta frequência. O projeto de cooperação para o desenvolvimento é financiado pelo banco estatal alemão de desenvolvimento KfW. O valor é 13 milhões de euros.
Foto: DW/J. Beck
Daviz Simango quer mudar a Beira
A luta do edil Daviz Simango para conseguir o dinheiro necessário para a transformação do rio Chiveve levou mais de cinco anos. O presidente da Câmara da Beira, que é do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), da oposição, queixou-se várias vezes da falta de apoio do Governo de Maputo.
Foto: DW/J. Beck
Limpar e mudar o percurso do rio
O rio Chiveve deverá ser limpo e o seu percurso mudado, de forma a passar por um parque urbano. A ideia é que o rio assuma melhor o seu papel natural na drenagem da cidade. Isso protegerá a Beira de inundações, após fortes chuvas, ajudando também a cidade a adaptar-se às mudanças climáticas.
Foto: DW/J. Beck
Área verde no centro da cidade
Depois do rio, a próxima fase do projeto será fazer um parque em torno do Chiveve. O rio é o único espaço verde no centro da cidade da Beira, que tem cerca de 600 mil habitantes - o que a torna a segunda maior cidade de Moçambique. Localizada no centro do país, a Beira tem sido considerada cinzenta e desinteressante.
Foto: DW/J. Beck
Arborizar os mangais
Para fazer as planeadas mudanças no rio, foi necessário retirar muitas árvores dos mangais. Por isso, é necessário um reflorestamento após o final do projeto. Mudas de diferentes espécies já estão a ser cultivadas para esse fim. Elas são muito importantes para a preservação do ecossistema local. Apenas estas espécies sobrevivem tanto em água doce quanto salgada.
Foto: DW/J. Beck
Construtora chinesa
A empresa chinesa CHICO (China Henan International Cooperation Group ) venceu o concurso para pôr em prática os planos para o rio Chiveve. Os meios vêm do banco estatal alemão de desenvolvimento KfW e da cidade da Beira. Além de engenheiros chineses, a CHICO também emprega diversos moçambicanos, tanto homens como mulheres.
Foto: DW/J. Beck
Poluição no rio continua
O projeto de limpeza no rio Chiveve pode estar ameaçado. Não muito longe do centro fica o bairro informal do Goto. Parte do lixo e esgotos dos quase 12 mil habitantes dessa localidade vão parar ao rio. A tão sonhada área verde poderá nunca existir.
Foto: DW/J. Beck
Recolha do lixo com carrinhos de mão
Com a ajuda da agência alemã do desenvolvimento GIZ, a Beira implantou um sistema de recolha de lixo no bairro do Goto. Até agora, os moradores tinham que levar o lixo para os arredores do bairro, para depositá-lo em contentores próprios. Agora, funcionários munidos de carrinhos de mão vão até às ruas estreitas do bairro e recolhem-no. O objetivo é que menos lixo vá parar ao rio.
Foto: DW/J. Beck
Adaptação às alterações climáticas, saúde e parque
No entanto, ainda é difícil imaginar como o Chiveve estará após a finalização do projeto em 2016. Se tudo correr bem, a Beira estará mais preparada para lidar com as mudanças climáticas e sofrerá menos com doenças como a malária. Além disso, o centro seria mais bonito com áreas arborizadas e um parque em torno do Chiveve.