A época chuvosa em Angola já provocou 41 mortos, destruiu mais de mil casas e afetou 2.498 famílias, num total de 11.990 pessoas, informou a Comissão Nacional de Proteção Civil.
Publicidade
Segundo o coordenador da Comissão Nacional de Proteção Civil, o ministro do Interior, Eugénio Laborinho, de agosto de 2019 à presente data, as chuvas destruíram 12 igrejas e quatro pontes e deixaram parcialmente destruídas 1.145 residências, havendo ainda o registo de 975 casas inundadas.
Os dados avançados esta quinta-feira (09.01) na primeira reunião da Comissão Nacional de Proteção Civil dão conta ainda que, das 18 províncias do país, 12 foram afetadas: Luanda, Bié, Benguela, Huambo, Cuanza Norte, Cuanza Sul, Lunda Norte, Lunda Sul, Malanje, Namibe, Uíje e Zaire.
Eugénio Laborinho disse que as chuvas estão igualmente a causar problemas a nível de ravinas, de forma mais preocupante na Lunda Norte, Lunda Sul, Uíje, Zaire, Moxico, Cuando Cubango, Malanje e Bié, onde "estão a progredir de forma assustadora, ameaçando o corte da movimentação por estradas, destruição de infraestruturas, bem como o desenvolvimento destas localidades".
Mudanças climáticas afetam mais as mulheres
01:21
"Contornos alarmantes" da seca
O coordenador da Comissão Nacional de Proteção Civil abordou também a questão da seca severa, que Angola registou em 2019 na parte sul do país, nomeadamente nas províncias do Cunene, Huíla, Namibe, Cuando Cubango, parte do Cuanza Sul e Benguela, afetando 1.789.376 pessoas e 2,3 milhões de cabeças de gado bovino e 1,2 milhões de gado caprino e ovino, resultando na morte de 30.823 animais.
De acordo com Eugénio Laborinho, a situação da seca atingiu nas regiões afetadas "contornos alarmantes", sobretudo das famílias das zonas rurais.
O governante angolano frisou que, apesar dos esforços do Governo para minimizar a situação, através da prestação dos apoios necessários, "continua-se a registar, nas províncias mencionadas, um índice elevado de desnutrição aguda, o abandono escolar e o absentismo dos alunos".
Nesse sentido, o coordenador da Comissão Nacional de Proteção Civil apelou à sociedade civil para continuar a prestar as ajudas necessárias às vítimas da seca e outras calamidades, realçando que quem recebe os bens deve encaminhá-los a quem necessita, "caso contrário serão responsabilizados, de acordo com os normativos legais".
Jovem zambiana luta contra as alterações climáticas
03:35
This browser does not support the video element.
Prevenção
Face a essas preocupações, prosseguiu o coordenador da comissão, alcançar comunidades resilientes no país é a prioridade, pelo que, com vista a melhorar as atividades realizadas, está em curso a adoção de uma nova abordagem da atividade de proteção civil em Angola.
De acordo com Eugénio Laborinho, pretende-se realizar ações e planos que visam evitar a criação de novos riscos, redução dos existentes, garantir uma gestão de crise e emergência eficaz, inclusiva e participativa, assim como desenvolver ações que visam reconstruir melhor, razão pela qual está em curso a atualização da lei de bases da Proteção Civil.
A comissão pretende atualizar também o plano nacional e provinciais de preparação, contingência, resposta e recuperação de desastres e calamidades, reativar o Centro de Coordenação Operacional, com o objetivo de melhorar a articulação nas ações de planeamento e resposta aos desastres entre os diferentes setores da Comissão Nacional de Proteção Civil.
Entre as ações a serem realizadas, Eugénio Laborinho destacou a necessidade de um trabalho intensivo de sensibilização das comunidades para evitarem a construção em zonas de risco, com vista a melhorar a capacidade nacional de prevenção e socorro da população.
A reunião serviu para analisar danos e perdas na presente época chuvosa, o grau de intervenção das autoridades, os apoios prestados e os meios disponíveis e utilizados, bem como as perspetivas dos setores na presente época chuvosa e perfil de risco de desastres de inundação e seca em Angola.
Aquecimento global: Caminhamos para o fim da agricultura tradicional?
No Corno de África, países como a Eritreia estão a registar padrões meteorológicos cada vez mais irregulares, colocando em causa a subsistência dos agricultores.
Foto: DW/M. Belloni
Agricultura: um modo de vida
As alterações climáticas têm um impacto irreversível nas comunidades que dependem do ambiente natural para as necessidades básicas. Na Eritreia, estima-se que cerca de 80% da população são agricultores de subsistência, que cultivam principalmente sorgo, trigo e milho. Esses agricultores são vulneráveis a mudanças nos padrões climáticos, que podem devastar a produção de alimentos.
Foto: DW/M. Belloni
Colher fora de horas
Durante os últimos anos, a Eritreia, tal como o resto do Sudeste Africano, sofreu flutuações climáticas exacerbadas pela tendência de aquecimento dos oceanos, o chamado "El Niño". As chuvas caíram, inesperadamente, na Eritreia, em outubro do ano passado, o que levou o governo a aconselhar os agricultores a colherem mais cedo.
Foto: DW/M. Belloni
Stock de alimentação vulnerável
"Se não tivessem reagido, ou não tivessem reagido com base na colheita tradicional, provavelmente perderiam a colheita", diz Peter Smerdon, do Programa Mundial de Alimentos. Embora o "El Niño" seja um evento complexo e de ocorrência natural, pesquisas científicas sugerem que o aquecimento global fará com que este evento cíclico ocorra com mais frequência e intensidade.
Foto: DW/M. Belloni
Consenso sobre as alterações climáticas
A maioria das comunidades científicas concorda que mudanças significativas a longo prazo no sistema climático da Terra ocorreram e estão ainda a ocorrer de forma mais célere que no passado. Prevê-se que a continuação das emissões para a atmosfera terrestre provoquem um maior aquecimento, afetando África com temperaturas elevadas e aumentando a variabilidade sazonal das chuvas.
Foto: DW/M. Belloni
Consequências económicas globais
"As pessoas nos países mais ricos devem estar preocupadas com os efeitos da mudança climática no Corno de África", afirma Challiss McDonough, do Programa Alimentar Mundial. "A mudança climática é uma das principais causas da fome global, perdendo apenas para os países doadores. Por isso, investir no clima e na redução do risco de desastres faz sentido do ponto de vista económico".
Foto: DW/M. Belloni
Ainda de pé
A árvore de sicómoro tem um simbolismo significativo na Eritreia. Os anciãos costumavam reunir-se debaixo destas enormes árvores centenárias, para discutir questões importantes e leis comunitárias. Muitas destas árvores foram derrubadas durante a colonização e a guerra. As que ainda restam têm de enfrentar os efeitos da mudança climática.
Foto: DW/M. Belloni
Praias ameaçadas
"Um dos impactos das mudanças climáticas numa região costeira é a elevação do nível do mar, que aumenta a probabilidade de desastres relacionados com inundações, como marés altas, que podem eliminar uma safra inteira", diz Smerdon. Além disso, acrescenta, "a intrusão de água salgada devido à mudança climática pode aumentar a erosão e a salinidade dos solos, prejudicando a fertilidade da terra."
Foto: DW/M. Belloni
Corais em perigo
A costa deslumbrante da Eritreia inclui recifes de coral, um fator potencial de turismo, se sobreviverem no estado actual. "Até há alguns anos atrás, este pedaço de mar estava cheio de corais, mas no ano passado morreram todos", revela um mergulhador da Eritreia à DW. "A temperatura do mar estava muito alta. Ao mesmo tempo, os pescadores dependem dos recursos do oceano para comércio.
Foto: DW/M. Belloni
À procura de um caminho
As alterações climáticas na Eritreia são evidentes noutros locais. "Enquanto trabalhava na América Central, na África Oriental e no Médio Oriente, falei sempre com pessoas mais velhas, especialmente agricultores, e a mensagem deles é comum", diz Sam Wood, da Save the Children na Etiópia. "Os padrões climáticos estão a tornar-se menos previsíveis e, quando vem a chuva, é muito ou muito pouco."