Sete pessoas morreram e seis ficaram feridas desde o início do ano devido às chuvas fortes na província da Zambézia, no centro de Moçambique. Milhares de pessoas foram afetadas e falta comida em centros de acomodação.
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O mau tempo já afetou duas mil famílias em vários distritos do norte e centro da província da Zambézia, segundo dados divulgados esta segunda-feira (06.01) pelo Instituto Nacional de Gestão de Calamidades (INGC).
Ficou cortado o acesso a localidades dos distritos de Milange, Molumbo e Gurué e centenas de casas ficaram destruídas: "Temos um total de 2.015 casas destruídas parcialmente e 367 casas destruídas totalmente. Temos 76 salas de aula destruídas parcialmente e 20 salas destruídas totalmente", indicou Milton Barbosa, responsável do INGC na Zambézia.
Falta de alimentos
Namacurra e Maganja da Costa são dois dos distritos mais afetados na província.
Carlos Baptista, administrador de Maganja da Costa, garante, no entanto, que a situação está controlada: "Neste momento, estamos a recolher pessoas sitiadas", disse Baptista em entrevista por telefone à DW África. "Já conseguimos evacuar mais de 84 famílias que estavam na zona de risco [por terem resistido a sair] e acomodámo-los nas zonas de reassentamento."
De acordo com o administrador, há centros de acomodação prontos para realojar as famílias afetadas pelas inundações. No entanto, faltam alimentos.
Chuvas fortes deixam rasto de destruição na Zambézia
"Ontem, já tivemos um reforço de 'kits' de abrigo. Já colocámos tendas nesses centros e agora estamos à espera que o Programa Alimentar Mundial nos garanta o fornecimento de alimentos. Há défice, mas, até este momento, o Governo já conseguiu mobilizar alguns insumos alimentícios - 84 sacos de arroz e feijão - para suportarmos a população que se encontra nesses locais, para pelo menos um dia sentir-se bem", afirma Carlos Baptista.
O administrador espera que a ajuda do Programa Alimentar Mundial chegue ainda esta semana.
Entretanto, o alerta de mau tempo continua. As previsões meteorológicas indicam que haverá chuva e ventos fortes nas próximas 24 horas, acompanhados de trovoadas, para oito distritos da região norte da Zambézia, nomeadamente Gurué, Alto Molocué, Morrumbala, Milange, Íle, Gilé, Namarrói e Molumbo.
Esta segunda-feira, o coletivo do INGC na Zambézia esteve reunido para delinear estratégias para enfrentar as consequências do mau tempo nos próximos dias. Foram alocadas pequenas embarcações para a busca e resgate de famílias afetadas pelas inundações.
Moçambique: A polémica exploração de areias pesadas na Zambézia
A exploração de areias pesadas em Inhassunge, na província da Zambézia, continua a gerar polémica. Residentes não querem deixar as suas terras, mas muitos cedem à pressão do Governo e da empresa responsável.
Foto: DW/M. Mueia
Concessionária chinesa
A Africa Great Wall Meaning Company Development, uma empresa de capitais chineses, é a concessionária na prospeção e exploração das areias pesadas na província da Zambézia desde 2014. Segundo o Governo local, a Africa Great Wall atua nos distritos de Inhassunge e Chinde, onde detém propriedades de uso e aproveitamento da terra.
Foto: DW/M. Mueia
Moradores têm que deixar suas terras
A presença da empresa chinesa é polémica. Depois de confrontos violentos com a polícia, que resultaram na morte de pelo menos 4 pessoas em julho de 2018, a população de Inhassunge, que basicamente vive da agricultura, diz que aceita por imposição abrir mão das suas terras para a exploração das areias pesadas.
Foto: DW/M. Mueia
Terras rejeitadas
No entanto, o plano de reassentar as famílias abrangidas pelo projeto de exploração de areias pesadas fracassou. A população recusa-se a mudar para o novo espaço porque, segundo os moradores, as terras são áridas e não servem para a produção de qualquer alimento. Alé disso, não há no local condições para desenvolver a pesca, tal como existem nas suas zonas de origem.
Foto: DW/M. Mueia
"Recuso-me a ceder o meu espaço"
Albrinho Veloso vive na ilha de Mualane e não vê com bons olhos o projeto de exploração das areias pesadas pelos chineses: "Recuso-me a ceder o meu espaço. Há um ditado popular, na língua local, que diz que 'o futuro não é confiável', por isso, quero continuar a viver na minha terra com as condições favoráveis para a minha sobrevivência".
Foto: DW/M. Mueia
Sem energia elétrica
Há um ano, o Governo da Zambézia estendeu uma linha elétrica que parte de Quelimane, capital provincial, para a região de Inhassunge. Porém, a linha de média tensão ainda não cobre todos os lugares, como, por exemplo, as áreas onde estão a ser feitas as explorações de areias pesadas. Mais um problema que os habitantes põem em cima da mesa.
Foto: DW/M. Mueia
Acesso às ilhas
A vida nas ilhas daquela região não é fácil. Para chegar à Olinda e Mualane, em Inhassunge, onde as areias pesadas são exploradas, a principal portagem está ao lado de Quelimane, capital da Zambézia. Os bilhetes são vendidos por agentes da polícia marítima e alguns operadores privados que têm pequenas embarcações a motor. A viagem pode custar até 300 meticais (pouco mais de 4 euros).
Foto: DW/M. Mueia
Barcos de carga
As canoas a remo são os primeiros e únicos meios de transporte de mercadoria e carga para as ilhas. Os produtos de primeira necessidade para a população das ilhas em Inhassunge são adquiridos em Quelimane e transportados pelas canoas por jovens naturais do distrito. A viagem demora de 8 a 10 horas no mar.
Foto: DW/M. Mueia
Transporte de passageiros
Além do transporte de mercadorias, as canoas também são usadas para transportar passageiros. O custo deste transporte ronda entre 10 a 30 meticais (entre 0,10 e 0,40 cêntimos de euro). Além disso, há também serviços de aluguer diário de canoas, cujo preço é mais caro.