Cibersegurança em Angola: Como prevenir crimes digitais?
26 de setembro de 2025
Nesta sexta-feira (26.09), uma operação da Interpol contra o cibercrime levou à detenção de 260 suspeitos de crimes relacionados com chantagens usando imagens íntimas ou sexualmente explicitas nas redes sociais, em 14 países africanos, incluindo Angola e Guiné-Bissau.
A investigação - Operação Contender 3.0 - resultou também na apreensão de 1.235 dispositivos eletrónicos - emAngolae Guiné-Bissau, mas também no Gana, Senegal e Costa do Marfim, anunciou a Interpol, em comunicado.
Diante da crescente preocupação com os crimes perpetrados no ambiente virtual, o especialista em cibersegurança Ivo Martins apela às autoridades angolanas para reforçarem a prevenção no combate aos crimes informáticos.
Em entrevista à DW, sublinha que os cidadãos precisam aprender a se defender de criminosos que operam na internet. "As pessoas têm de ser a nossa primeira linha de defesa. A tecnologia por si só nunca é suficiente", diz.
"Isto é um esforço duplo. Primeiro, a sensibilização do público em geral. Precisamos de mais campanhas de literacia digital e de literacia de segurança a nível nacional que ensinem as pessoas, os estudantes e até aos mais velhos, a reconhecer e-mails de 'fishing' e outro tipo de fraudes online," acrescenta.
Ivo Martins alerta que Angola deve "criar já a sua própria geração defensora das fraudes digitais que já são uma realidade no país".
As declarações surgem na sequência da operação Serengeti 2.0, coordenada pela Interpol, que deteve 1.200 suspeitos de cibercrimes em África, incluindo em Angola.
Paralelamente, decorre no Tribunal de Comarca de Luanda o julgamento de 50 cidadãos chineses e dois angolanos acusados de vários crimes cibernéticos, incluindo pornografia infantil e exploração ilegal de jogos online.
Segundo a acusação, os arguidos montaram uma empresa fictícia num hotel de Luanda e operavam plataformas de casinos virtuais conhecidas como "jogos do tigrinho", destinadas ao público brasileiro.
Dois deles terão confessado "integramente e sem reservas" serem os autores de sete crimes de que são acusados, lê-se na acusação do Ministério Público.
Julgamento
O julgamento é considerado um dos mais relevantes na luta contra o cibercrime internacional, envolvendo redes transnacionais de exploração digital no país.
Ao mesmo tempo, o Serviço de Investigação Criminal (SIC) intensifica o combate à mineração ilegal de criptomoedas, processo de validação deste tipo de transações.
Entre abril de 2024 e março de 2025, foram desativados 41 centros clandestinos e detidas mais de 100 pessoas, na sua maioria chineses. Foram apreendidos cerca de 17 mil processadores avaliados em quase 17 milhões de dólares (mais 14 milhões de Euros).
Segundo o SIC, estas redes causam elevados prejuízos ao sistema elétrico e estão muitas vezes ligadas a burlas e branqueamento de capitais.
As autoridades prometem manter a fiscalização. O especialista em cibersegurança explica que os criminosos aproveitaram-se da fragilidade no controlo das plataformas digitais.
"O que significa, para nós em Angola, é óbvio: precisamos reforçar a monitorização da rede energética e de comunicações, melhorar nossas defesas, além de capacitar equipas. A boa notícia é que está a ser elaborado um novo centro nacional da cibersegurança, e uma nova lei", disse Ivo Martins.
Martins reforça que Angola precisa de uma estratégia baseada em três pilares: governança, colaboração público-privada e capacitação da população.
"O governo de qualquer país não é dono da internet. Os donos, entre aspas, são as empresas e os provedores de serviço. Precisamos de uma estrutura segura para partilhar informação. Os bancos e outras instituições financeiras precisam de partilhar dados sobre as transações fraudulentas ou suspeitas de serem fraudulentas com a polícia o quanto antes, o mais rapidamente possível", concluiu.