Ciclone Chido: Ajuda ainda não chegou às populações
DW (Deutsche Welle)
9 de janeiro de 2025
Vítimas do ciclone Chido em Mecufi e Pemba, na província de Cabo Delgado, reclamam demora na chegada de apoio. Situação agrava-se num momento em que chove constantemente na região. Governo provincial reconhece atrasos.
Abdul Selimane, residente na aldeia de Saçalane, sede distrital de Mecúfi, perdeu tudo durante a passagem do ciclone, estando agora a viver em condições precárias. À DW, diz estar "de mãos atadas".
"Não tenho emprego. Não consigo ir à praia porque o material foi arrastado pela água e não tenho nada para comer", conta.
Eusebio Rachid, também residente na mesma aldeia, relata falta de abrigo e alimentação deficitária.
"Não temos lugar para dormir. Não temos boas refeições porque a nossa mandioca molhou com o ciclone. Está tudo destruído”, lamenta.
Rachid sublinha ainda que "ainda não viu qualquer ajuda do Governo", desde o ocorrido.
Ajuda ainda não chegou
Algumas famílias afetadas pelo devastador ciclone afirmam que se registaram para receber apoio humanitário, mas alegam que a ajuda ainda não chegou.
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No bairro municipal de Mahate, em Pemba, capital provincial de Cabo Delgado, há igualmente famílias sem meios para se recomporem.
"Eu tinha três casas, uma onde albergava crianças, outra era ocupa por locadores e uma maior onde vivia. Tudo foi destruído e não sei como voltar a construir”, desabafa a residente Ana Maria.
Chuva agrava situação
Grande parte das famílias que perderam as suas casas estão a reaproveitar chapas de zinco e outros materiais danificados para cobrir parte das paredes e, assim, obter algum espaço para se acomodarem. No entanto, quando chove, o pouco que restou fica submerso pela água da chuva.
António Supeia, secretário de Estado de Cabo Delgado, reconhece a necessidade de acelerar a assistência às vítimas do temporal e frisa que a prioridade está na entrega de abrigos.
“Ainda estamos com essa questão porque estamos no período chuvoso em que se precisa de alguma proteção [para as vítimas]. Encorajamos as equipas do terreno e os nossos parceiros a fornecerem material para abrigos".
António Supeia assume ainda que são "muito baixas" as percentagens de apoio nesta vertente em Metuge, Chiúre e também em Pemba.
"É preciso aumentarmos a nossa velocidade [de assistência às populações]”, admite o secretário de Estado de Cabo Delgado.
A Agência de Desenvolvimento Integrado do Norte (ADIN) juntou-se à assistência às vítimas do ciclone, fornecendo material de construção aos Governos distritais de Metuge e Pemba.
Incêndios, ciclones e temperaturas recorde: como estão as alterações climáticas a afetar o planeta?
São cada vez mais fortes e mais recorrentes os fenómenos extremos provocados pelas alterações climáticas. Em todo o planeta, ciclones, secas ou incêndios deixam milhares desalojados ou em condições de insegurança.
Foto: Esa Alexander/REUTERS
Incêndios na Europa
Uma vaga de incêndios atinge a Europa em 2023. Mais de 230 mil hectares arderam em toda a União Europeia nos primeiros meses do ano. A Grécia e Itália foram os estados-membros mais afetados. Só em Itália terão ardido 51 mil hectares desde o início de 2023. Na Grécia terão sido registados cerca de 60 focos por todo o país, levando à evacuação de milhares de pessoas.
Foto: Spyros Bakalis/AFP
Temperaturas recorde
Julho bateu o recorde do mês mais quente de sempre, registando um valor 0,33ºC superior a julho de 2019, último detentor do recorde. Itália registou temperaturas que rondaram os 48ºC. Em Espanha, os termómetros atingiram os 47ºC, deixando mais de metade do país sob alerta vermelho. A onda de calor provocou diversas mortes, incêndios e outros fenómenos extremos no continente europeu.
Foto: Guglielmo Mangiapane/REUTERS
Calor extremo faz-se sentir por todo planeta
No Vale da Morte, nos EUA, um dos lugares mais quentes do planeta, os termómetros chegaram aos 54ºC. Já o Canadá notificou mais de 880 incêndios ativos, só no mês de julho, e mais de 10 milhões de hectares ardidos desde o início do ano. Na Ásia as temperaturas elevadas também se fizeram sentir, tendo tanto a China como o Japão registado valores históricos.
Foto: Patrick T. Fallon/AFP
África: o continente mais afetado pelas alterações climáticas
África é o continente mais afetado pelas alterações climáticas, apesar de representar apenas 4% das emissõespoluentes no mundo. A sua localização geográfica e a falta de recursos deixam o continente vulnerável aos fenómenos extremos. Na zona leste, vive-se uma das maiores crises alimentares da história. Já no sul do continente, as inundações e os ciclones são cada vez mais frequentes.
Foto: DW
Uma localização geográfica perfeita para o desastre
As alterações climáticas afetam o planeta na sua totalidade, mas há países mais vulneráveis que outros. Moçambique é um destes. Segundo a ONU, Maputo é uma das 13 cidades do mundo que mais será afetada pela subida do nível da água do mar. Nos últimos anos, Moçambique foi alvo de cinco ciclones e duas tempestades tropicais, sem esquecer o ciclone Freddy, que assolou o país por duas vezes este ano.
Foto: JACK MCBRAMS/AFP/Getty Images
A pior seca dos últimos 40 anos
Os fenómenos extremos são distintos em cada país, sobretudo no continente africano. Em Angola, a seca é um dos maiores fatores de preocupação, e fala-se que esta seja a pior dos últimos 40 anos. Dados científicos apontam que a frequência e a intensidade destes fenómenos vai aumentar.