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Desastres

Ciclone Idai: 271 casos de cólera na Beira

Lusa
30 de março de 2019

Autoridades e organizações humanitárias estão preocupadas com surto de cólera na sequência do ciclone Idai e das cheias no centro de Moçambique. ONU dá início a programa de vacinação na quarta-feira.

Área residencial inundada na cidade da Beira, a 23 de março.Foto: Getty Images/W. De Wet

O número de casos de cólera detetados na cidade da Beira subiu para 271, anunciou Ussene Isse, Diretor Nacional de Assistência Médica de Moçambique, no mais recente balanço divulgado na sexta-feira (29.03).

Entre quinta e sexta-feira "foram detetados 132 casos, 90 no bairro da Munhava", detalhou, no que classifica como "um surto" que já tinha sido previsto pelas autoridades, depois do ciclone Idai e das cheias que se seguiram no centro do país.

O número de casos de cólera na cidade da Beira tem crescido de dia para dia: na quarta-feira foram reportados oficialmente os primeiros cinco casos e no dia seguinte a contagem subiu para 139.

Ussene Isse referiu que não há mortes confirmadas por cólera. "Estamos em prontidão máxima do ponto de vista da vigilância", que está a ser instalada noutros pontos da região centro de Moçambique, acrescentou. 

A doença é propagada através de água e alimentos contaminados e o risco aumentou devido às inundações e à destruição de infraestruturas provocada pelo ciclone.

"Grande preocupação" com doenças transmitidas pela água

Também esta sexta-feira, a organização não-governamental Médicos Sem Fronteiras (MSF) revelou "grande preocupação" com as doenças transmitidas pela água na Beira, devastada pelo ciclone Idai, que provocou 501 mortes no centro do país, segundo o último balanço das autoridades, numa altura em que foi dada como concluída (desde quinta-feira) a fase de salvamento e resgate.

"Não é surpreendente que casos de cólera tenham sido confirmados na cidade da Beira. Após um desastre natural desta magnitude, as doenças transmitidas pela água são de grande preocupação. O desafio agora é tratar os pacientes que já estão doentes", referiram os MSF, em comunicado.

A organização não-governamental, que está a informar a população da Beira sobre medidas a tomar para evitar o surto de cóleranuma altura em que está retomado o fornecimento de água potável, sublinhou que "já existem enormes necessidades médicas e de saúde pública".

Clínica móvel dos Médicos Sem Fronteiras no bairro da Praia Nova.Foto: MSF/Pablo Garrigos

"Esperamos que essas necessidades aumentem nas próximas semanas com cólera e outras doenças transmitidas pela água, infecções da pele, infecções do trato respiratório e malária a espalharem-se por toda a comunidade, devido à falta de abrigo, más condições de higiene e acesso limitado à comida", notou a ONG.

Os Médicos Sem Fronteiras alertaram para "os extensos danos nas infraestruturas de saúde" e sublinharam que "será necessário um enorme apoio para atender às necessidades de saúde das pessoas nas áreas afetadas".

"As consequências imediatas do ciclone exigirão uma enorme resposta, mas o funcionamento normal do sistema de saúde também deve ser mantido", considerou a organização, assinalando que "as mães precisam de entregar os bebés com segurança e outras pessoas ainda precisam de medicação vital para doenças, como a sida".

A MSF acorreu às zonas afetadas pelo ciclone Idai, inicialmente na região da Beira, depois noutros distritos das províncias de Sofala e Manica, onde inundações causaram "destruição generalizada e as necessidades são enormes, em termos de comida, água, abrigo e cuidados de saúde. 

"Temos mais de 70 elementos em Moçambique e mais de 200 funcionários moçambicanos no terreno afetado pelas cheias e temos de ter novos reforços", acentuou a MSF, a trabalhar com o Ministério da Saúde de Moçambique e outros organismos para enfrentar um surto de cólera.

Elementos da MSF estão a trabalhar no Centro de Tratamento da Cólera de Macurungo, na Beira, e reabilitaram o centro de saúde no Búzi.

ONU promove campanha de vacinação

A Organização das Nações Unidas (ONU) vai dar início, na quarta-feira, em Moçambique, a um programa de vacinação oral contra a cólera, de 900 mil unidades, segundo o coordenador adjunto da assistência ao país africano.

Sebastian Rhodes Stampa, nomeado coordenador-adjunto da ONU da operação de assistência a Moçambique, na sequência do ciclone Idai, afirmou, por via telefónica em conferência de imprensa para a ONU, que um programa de 900 mil vacinas orais contra a cólera vai ser iniciado naquele dia.

Casa coberta de lama em Búzi, a 23 de março, depois da passagem do ciclone Idai.Foto: Getty Images/AFP/Y. Chiba

Segundo o coordenador, baseado na Beira, cada vacina reforça a imunidade de uma pessoa contra a cólera por três meses. O programa vai continuar, passados três meses, com mais vacinas, o que não significa uma solução para o problema, mas o controlo e a redução dos riscos de contágio, adiantou Sebastian Rhodes Stampa.

O coordenador-adjunto explicou que a equipa de assistência se mantém muito atenta à evolução dos casos de cólera e diarreia e está a agir com vista a ultrapassar os problemas de forma eficaz, com uma capacidade quase igualada ao Ministério da Saúde de Moçambique.

O responsável da ONU garantiu que estão "prontos" para enfrentar surtos de doenças, com um plano de emergência contra a cólera e com a montagem de infraestruturas para responder a uma eventual emergência de saúde pública.

Deste modo, estão a ser montados centros de tratamento para a cólera. Os centros de acolhimento da ONU contam com cerca de 400 camas improvisadas para os doentes, enquanto os centros de tratamento, espalhados pelas áreas afetadas serão de dimensão mais pequena, com 50 camas.

Estão a ser montadas cozinhas para dar comida, num primeiro momento, a 20 mil pessoas e entre 150 a 200 estações de hidratação vão estar disponíveis, assim como equipamentos de purificação de água.

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