Psicólogos de Maputo estão na região centro de Moçambique para apoiar as vítimas do Idai, segundo o Ministério da Saúde. Médicos dizem que assistência alimentar é fundamental para a saúde mental.
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É urgente a assistência alimentar às vítimas do Idai no centro de Moçambique, para que se evite o desgaste psicológico, alertam psicólogos. Os profissionais já estão no terreno, juntamente com outros parceiros, e o foco é trabalhar os sintomas psicológicos, anunciou o Ministério da Saúde.
Segundo a psicóloga clínica Palmira Santos, investigadora em saúde mental no Ministério da Saúde, os profissionais deste setor estão a lidar com cenários em que os afetados apresentam desgaste psicológico por falta de alimentos. Por isso, diz a psicóloga, é urgente alocar bens de primeira necessidade, para permitir trabalhar mais facilmente com os sintomas psicológicos, "porque numa situação de luta pela sobrevivência, o ser humano tende a agir de forma impulsiva para tentar garantir o seu direito mais básico".
"Nesta situação, a equipa de saúde mental tem um papel fundamental para ajudar a diminuir esses conflitos", sublinha.
Na zona centro do país, a distribuição de comida para os afetados tem sido um a autêntica dor de cabeça, com denúncias de desvios de bens à mistura.
Há relatos de pessoas que já estão a abandonar os centros de acomodação devido à falta de produtos de primeira necessidade. Palmira Santos não tem dúvidas: "Nesta primeira fase, é preciso dar apoio no sentido de tranquilizar as pessoas e orientá-las em relação aos recursos disponíveis que estão a ser criados pelas várias instituições como o INGC, parceiros e Ministério da Saude".
Crianças são grupo de risco
A especialista em saúde mental teme que as crianças e adolescentes não sejam contemplados pela campanha de assistência psicológica, dada a escassez de recursos humanos. No entanto, garantiu que os profissionais no terreno vão tentar garantir assistência aos grupos sociais mais vulneráveis.
"Há um grupo de profissionais de saúde mental, voluntários, estudantes, técnicos de psiquiatria, que estão focados na atenção a estas crianças. Normalmente, os sintomas mais visíveis são os terrores noturnos, pesadelos, insónias…a maioria das crianças apresenta comportamentos regressivos. Ficam mais infantilizadas do que já eram", explica a psicóloga do Ministério da Saúde.
Ciclone Idai: A falta de alimentos e o desgaste psicológico
Palmira Santos lança ainda o alerta aos profissionais de saúde mental e outros que estão envolvidos em diversas operações, para que sejam salvaguardados os interesses dos afetados: "Se a pessoa não tiver esses sinais nesta altura, é preciso informar, porque em algum momento, esses sintomas podem surgir. Esta é uma informação importante, não só para psicólogos, técnicos de psiquiatria, mas também para todos os profissionais de saúde e todos os intervenientes que estão a apoiar estas vítimas".
Em Sofala, há zonas onde as comunidades ainda não receberam alimentação básica. Aos olhos de Hermenegildo Celso, psicólogo no terreno, é urgente a assistência a essas pessoas, mas não só: "Não é apenas a população, mas também os governantes precisam da intervenção dos psicólogos para darem o seu ponto de vista. Não resolvemos apenas a parte comunitária, mas a todo o nível, como do básico até ao superior".
Moçambique: Vítimas de ciclone tentam o regresso à normalidade após Idai
Na província de Tete as famílias vítimas do ciclone Idai, aos poucos, vão acordando do pesadelo para encarar a nova realidade. Lutam pela sobrevivência e tentam ao mesmo tempo recuperar os seus pertences.
Foto: DW/A. Zacarias
Rasto de destruição
Estima-se que mais de cinco dezenas de casas ficaram completamente destruídas pelas inundações dos rios Rovúbwe e Zambeze, na cidade de Tete. Foram mais 9 mil pessoas afetadas pelas cheias em toda província de Tete. Muitas das quais, foram desalojadas das suas casas.
Foto: DW/A. Zacarias
Ainda há casas inundadas
Há também muita água estagnada no interior de algumas casas. Muitos bens perdidos. Contabilizam-se também muitos prejuízos materiais.
Foto: DW/A. Zacarias
Limpeza das famílias
Várias famílias estão a regressar aos poucos às zonas de origem, mesmo que sejam consideradas de risco. No Bairro Chingodzi, unidade 03 de Fevereiro as poucas casas que resistiram à fúria das águas do rio Rovúbwe, ainda continuam cheias de lama. Os proprietários esforçam-se em limpezas. Em algumas casas a lama chegou a atingir um 1 metro de altura. Acabando por soterrar muitos bens.
Foto: DW/A. Zacarias
Regressar a casa mesmo que seja em zona de risco
Tatos Fernando, 29 anos de idade. Teve uma casa completamente alagada. Não desmoronou mas tem muitas fissuras. Agora está a construir uma nova casa. Reconhece que está numa zona de risco. Está disponível a abandonar a zona caso o município de Tete e o governo lhe dê um espaço numa zona segura.
Foto: DW/A. Zacarias
Muitas aulas perdidas
Nino Alferes – é um rapaz de 12 anos de idade. Hoje a sua grande preocupação é recuperar as aulas perdidas. Até porque sabe que não será nada fácil. “Perdi todos os meus livros e muita matéria está perdida”, diz Nino. A semelhança de Nino há muitas crianças que perderam tudo e estão a começar do zero.
Foto: DW/A. Zacarias
Medo de Crocodilos e Erosão
Francisco Martinho é um dos sobreviventes. Teve a sua casa alagada, mas resistiu. Tenta recuperar muitos documentos e livros que se molharam devido a invasão das águas. A sua casa corre sérios riscos de desabar devido a erosão sobre o rio Rovúbwe, mas também tem medo de crocodilos, “basta dar 18 horas toda família fica dentro da casa, porque de repente podem aparecer aqui crocodilos”, relatou.
Foto: DW/A. Zacarias
Centro de Reassentamento de Chimbonde
Neste momento, está a ser montado um centro de reassentamento, na região de Chimbonde, cerca de 15 Km do centro da cidade e Tete. No local já estão alojadas mais de 80 famílias. Foram igualmente demarcados mais de 140 talhões. Mas há ainda talhões por demarcar, segundo Richard Baulene. O outro centro será montado no bairro Mpádue.
Foto: DW/A. Zacarias
Garantidos serviços básicos em Chimbonde
No centro de reassentamento de Chimbonde, cada família recebe uma tenda, feita com lonas, fixadas em estacas, num talhão de 15/20 metros. No local estão garantidos alguns serviços básicos, como água, saneamento de meio, serviços sanitários e está para breve a eletrificação da zona.
Foto: DW/A. Zacarias
Chegam mais famílias no Chimbonde
Não obstante os desafios que lhes esperam pela frente de reiniciar a vida numa nova zona os reassentados de Chimbonde mostram-se felizes por considerar o local seguro. No centro, a DW ÁFRICA encontrou mais de 30 voluntários da Cruz Vermelha que estão ajudando na construção das tendas improvisadas para os reassentados.
Foto: DW/A. Zacarias
Famílias continuam abrigadas
Na cidade de Tete, mais de 600 famílias estiveram abrigadas no Centro de Acomodação da Escola Comercial e Industrial de Matundo. Em Tete foram montados 5 centros dos quais 3 nos distritos de Mutarara e Doa. Continuam abrigadas no centro da Escola Industrial de Matundo mais de 200 famílias, cerca de 1000 pessoas. Algumas famílias estão em tendas, mas outras dormem num salão multi-uso da escola.
Foto: DW/A. Zacarias
Erosão Pós-cheias
Jorge Mafalauzi, tem 30 anos de idade. É pai de 4 crianças. Sabe que tinha uma casa de 3 quartos. A água levou tudo. Pior ainda, agora não consegue chegar onde era sua casa, porque devido à erosão o lugar foi invadido pelo leito do rio Rovúbwe. Mafalauzi vive numa tenda oferecida pelo INGC, próximo da sua antiga casa, nas bermas do rio Rovúbwe e fala de falta de mais apoios do Instituto.