Cerca de 90% dos casos de cólera detetados depois do ciclone Idai foram tratados com sucesso, informa o Ministério da Saúde. Água de bairros problemáticos está a ser analisada e campanha de sensibilização está em curso.
Publicidade
Segundo o Ministério da Saúde (MISAU), foram detetados até ao momento 1.052 casos de cólera, dos quais 949 já tratados, 102 continuam internados e um óbito. O diretor nacional de Assistência Médica, Hussene Isse, afirma que "esta resposta da primeira semana é positiva, se olharmos para a nossa capacidade de gestão e tratamento de casos em cerca de 90%".
Na tarde desta segunda-feira (01.04.), a instituição fez a atualização da situação na província central de Sofala, a mais afetada pelo Ciclone Idai, que atingiu o centro de Moçambique a 14 de março.
Reforço da capacidade hospitalar
Segundo o comunicado, estão em funcionamento 9 centros de tratamento de diarreias e 12 hospitais de campanha distribuídos pela cidade da Beira, distritos de Nhamatanda, Dondo e Buzi. Dos hospitais de campanha, 7 contemplam cuidados de saúde primários e maternidade, enquanto que 5 estão instalados no Hospital Central da Beira, no Centro de Saúde da Ponta Gêa, no Centro de Saúde do Dando, Hospital Rural de Nhamatanda e Hospital Rural de Búzi. Eles agregam serviços de urgência, laboratório, sala de operações e internamentos.
E no Hospital Central da Beira, a maior unidade hospitalar da província, a unidade móvel lá instalada tem capacidade de internamento para 20 pessoas e com 50 médicos disponíveis. Hussene Isse explica que "o hospital de campanha vai funcionar com todos os requisitos de um hospital, com serviços de urgência, laboratório completo, internamento e sala de operação".
Médicos nacionais e estrangeiros de diferentes especialidades vão trabalhar durante seis meses nessa unidade. De acordo com o diretor nacional de Assistência Médica no MISAU, o hospital móvel tem um sistema de fornecimento de água e de energia próprio: "Temos capacidade para responder aos serviços de urgência para a cidade da Beira e temos em carteira a implantação de outros".
Água está a ser analisada
No âmbito de ações de prevenção e de controlo da cólera, equipas do Ministério da Saúde e parceiros continuam a colher amostras de fontes de água em bairros que tenham apresentado casos de cólera, e ainda em conjunto com outros setores do Governo estão a ser realizadas ações de saneamento, educação e mobilização das comunidades, assim como a distribuição de água potável e de Certeza, um produto para a purificação de água.
De acordo com dados atualizados nesta segunda-feira (01.04) pelas autoridades, o número de mortos no contexto do Ciclone Idai subiu para 518.
Ciclone Idai: Viver numa tragédia
Centenas de milhares de pessoas precisam de ajuda urgente no centro de Moçambique, depois do ciclone Idai. Enquanto buscas por vítimas continuam, desalojados sobrevivem como podem.
Foto: DW/B. Jequete
Famílias refugiam-se no asfalto após ciclone
Depois do ciclone Idai, 40.000 pessoas precisam de ajuda na província de Manica, centro de Moçambique. Milhares ficaram sem casa e dezenas de famílias preferem acomodar-se no asfalto da EN6 do que ir para os centros de acomodação do Governo. Dizem que aqui é mais seguro, porque alguns centros estão lotados. Trouxeram para aqui os pertences que conseguiram resgatar, incluindo pilões para o milho.
Foto: DW/B. Jequete
Há casas inundadas até hoje
A extensão da devastação do ciclone Idai é grande. O Governo moçambicano estima que o ciclone destruiu uma área superior a 3.000 quilómetros quadrados. Mais de 90 mil casas foram afetadas; 50 mil ficaram totalmente destruídas. Muitas casas, construídas em zonas pantanosas, continuam inundadas quase duas semanas depois da passagem do ciclone. As autoridades tentam drenar as águas, mas é difícil.
Foto: DW/B. Jequete
Pobres ainda mais pobres
Milhares de pessoas estão em vários centros de acomodação. Quem tem casas de alvenaria foi menos afetado pelo ciclone do que outros cidadãos, com casas precárias, que perderam praticamente tudo e vieram para aqui. Rosa Ferro, uma anciã no centro de acomodação de Matarara, no distrito de Sussundenga, diz que nunca viu algo assim: "O ciclone Idai devastou tudo o que tínhamos. Reduziu-nos a zero."
Foto: DW/B. Jequete
Cada um por si, Deus por todos
No centro de acomodação de Matarara, muitas vezes o lema é "cada um por si e Deus por todos". Cada família cozinha o que tem, e as que não têm comida, na sua maioria, não são servidas quando chega a hora da refeição.
Foto: DW/B. Jequete
Apoio a vítimas vai chegando
O apoio às vítimas do ciclone Idai tem chegado à província de Manica. Tanto apoio de fora, como de dentro de Moçambique. A rede italiana de organizações não-governamentais AIFO acaba de apoiar as vítimas do Idai com víveres e material escolar. A AIFO desembolsou dois mil euros para a compra de donativos para desalojados em dois centros de acomodação.
Foto: DW/B. Jequete
40 toneladas de ajuda
Uma associação de caridade constituída por empresários em Manica, chamada "The All Heart Foundation", já disponibilizou 40 toneladas de produtos básicos, incluindo alimentos, para as vítimas do ciclone Idai nas províncias de Sofala e Manica. Mussa Laher, representante da associação, disse estar a receber o apoio de outros empresários, que ficaram sensibilizados com a causa.
Foto: DW/B. Jequete
Chima com feijão
Nos centros de acomodação, a chima com feijão é o prato mais cozinhado. Não há outra alternativa. As doações que mais chegam aqui são precisamente a farinha de milho e o feijão. Quem não consegue comer, porque está doente, passa fome.
Foto: DW/B. Jequete
Buscas continuam
As buscas por sobreviventes continuam tanto na província de Manica, como na província de Sofala. Só em Manica morreram, pelo menos, 148 pessoas devido ao ciclone Idai. 60 pessoas continuam desaparecidas, segundo o Instituto Nacional de Gestão de Calamidades Naturais (INGC). Vários parceiros de cooperação têm dado apoio nas buscas. Os abutres também têm ajudado a encontrar cadáveres.
Foto: DW/B. Jequete
Utentes da EN6 já respiram de alívio
A EN6, que liga as províncias de Manica e Sofala, já está desbloqueada. Foram feitos desvios, para que os carros pudessem passar. Até domingo passado (24.03), a passagem era feita através de barcaças ou moto-táxis, que cobravam taxas altíssimas.
Foto: DW/B. Jequete
Água dura em pedra dura…
Ninguém pensava que o projeto de ampliação e reabilitação da EN6 acabaria assim. Depois do ciclone Idai, a fúria das águas destruiu quase todas as infraestruturas. Até as pontes tombaram.
Foto: DW/B. Jequete
Sem aulas
A Escola Primária e Completa de Inchope ficou sem tecto devido ao ciclone Idai. Todos os documentos ficaram ensopados, incluindo os processos dos alunos e certificados. Mais de 3 mil alunos estão sem aulas.
Foto: DW/B. Jequete
Perigo de vida
As dezenas de pessoas que estão a viver na EN6 fizeram do asfalto o seu pátio de sua casa. Debulham o milho ou estendem a roupa paredes meias com as viaturas - e correm perigo de vida. Se uma viatura perde a direcção, pode varrer as cabanas à beira da estrada e matar alguém.