Desde as 8 horas da manhã de quarta-feira (27.03), a Beira registou 139 casos de cólera. OMS avança com campanha de vacinação para conter a doença.
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O registo de 139 casos da doença infecciosa foi feito em várias unidades sanitárias da Beira, anunciou Ussein Isse, director nacional de saúde de Moçambique, numa conferência de imprensa na cidade da Beira. Desde as cheias do ciclone Idai, quadros de saúde e parceiros nacionais e internacionais lutam para evitar o surgimento da doença. A passagem do ciclone Idai deixou a cidade da Beira sem água potável. Há três dias, que o abastecimento de água nas torneiras e por camiões cisternas voltou a funcionar. Mas a população é apelada a não consumir água sem ferver, recomendando-se também a comprar água mineral ou usar produtos químicos ou filtros mecanicos para purificar a água.
Campanha de vacinação contra a cólera
A Organização Mundial da Saúde (OMS) vai promover uma campanha de vacinação contra a cólera no centro de Moçambique onde as autoridades já detetaram cerca de 2.500 casos de diarreias.
A campanha arranca na segunda-feira (01.04) e vai ser feita em nove centros de vacinação contra a cólera, cinco dos quais na cidade da Beira, dois no Dondo, outro em Búzi e outro ainda em Nhamatanda, distritos mais afetados pelas cheias na província de Sofala.
"Nós temos 900 mil vacinas a chegar ao país [no sábado] e isso vai fazer com que tenhamos, pelo menos, três doses para cada pessoa, mas é muito provável que nos próximos meses tenhamos de reforçar essas doses para evitar a propagação", afirmou em conferência de imprensa David Wichtwick, líder da equipa da OMS na cidade da Beira.
O líder da equipa da OMS admite que existam ainda muitas comunidades que precisam de assistência, considerando que é preciso tempo para chegar a todas as áreas afetadas pelo ciclone Idai. "Não estamos satisfeitos com o que foi possível fazer até agora, estamos conscientes de que precisamos de fazer mais e acreditamos que é possível chegar a mais lugares onde as pessoas precisam de ser assistidas", declarou.
Beira: Vida difícil após ciclone Idai
A Beira foi a cidade moçambicana mais afetada pelo ciclone Idai. Milhares de pessoas ficaram desalojadas e agora a vida está bastante mais cara. Autoridades apelam à solidariedade de todos para reconstruir a região.
Foto: DW/A. Sebastião
Beira após ciclone
O ciclone Idai destruiu mais de 90% da cidade da Beira, no centro de Moçambique, segundo a Cruz Vermelha. Milhares de pessoas ficaram desalojadas. Muitas estão em centros de acomodação, outras refugiaram-se em edifícios no centro da cidade. Estas famílias viviam no bairro pesqueiro da Praia Nova, inundado pelas águas, e refugiaram-se aqui.
Foto: DW/A. Sebastião
Medo de doenças
Aqui, nos escombros de um edifício onde havia uma loja de colchões, vivem mais de 180 pessoas, incluindo crianças. Dormem em cima de plásticos, sem redes mosquiteiras. E o risco de contrair malária é grande. As autoridades locais estão preocupadas com a possível eclosão de doenças, também por causa das águas paradas e da falta de saneamento básico. Foram confirmados cinco casos de cólera na Beira.
Foto: DW/A. Sebastião
À espera de realojamento
Elisa morava no bairro da Praia Nova e vive agora na antiga loja de colchões. O Instituto Nacional de Gestão de Calamidades Naturais (INGC) prometeu realojar as pessoas que aqui estão, e chegou a registar os seus nomes, conta Elisa. Mas, até agora, ela e os outros continuam à espera.
Foto: DW/A. Sebastião
Começar do zero
Pedro vende produtos alimentares: arroz, bolachas, sal, tomates. Mas perdeu toda a sua mercadoria com o ciclone Idai. Como este comerciante, muitos outros habitantes da região perderam as suas fontes de rendimento - na agricultura, por exemplo. A ONU pede apoios para estas pessoas. Pedro tinha uma pequena poupança e, entretanto, já conseguiu comprar produtos para vender na Praça do Município.
Foto: DW/A. Sebastião
Vida mais cara
Os preços dos alimentos e dos materiais de construção subiram depois da passagem do ciclone Idai. E as filas são grandes para comprar produtos básicos como arroz, farinha ou óleo alimentar. Nos centros de acomodação, as vítimas do ciclone alertam que a comida não chega. Uns conseguem arranjar comida distribuída pelas autoridades ou por parceiros, outros não.
Foto: DW/A. Sebastião
Especulação de preços
O preço do tomate aumentou para quase o triplo do habitual. Antes, um quilo rondava 70 meticais (quase um euro); agora, pode custar entre 180 e 200 meticais (2,80 euros). As vendedeiras alegam que os fornecedores aumentaram o preço da caixa de tomate. As autoridades avisam, no entanto, que, se alguém for apanhado a especular preços, será punido com "mão dura".
Foto: DW/A. Sebastião
Reconstrução
Depois da passagem do ciclone Idai, o edil Daviz Simango disse em entrevista à DW que a Beira se tornou uma "cidade fantasma". Segundo Simango, recuperar a cidade e voltar à normalidade é um "desafio enorme". O Governo moçambicano apelou esta quarta-feira (27.03) ao setor privado, à sociedade civil e aos parceiros internacionais para continuarem a apoiar a reconstrução da região afetada.
Foto: DW/A. Sebastião
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O que é a cólera?
A cólera é uma infeção do intestino delgado causada por bactérias. Os sintomas mais evidentes são uma grande quantidade de diarreia aquosa com duração de alguns dias, como também vómitos e cãibras musculares. A manifestação de sintomas tem início entre duas horas e cinco dias após a infeção. A diarreia pode causar em poucas horas grave desidratação e distúrbio eletrolítico. Isto pode levar a que os olhos se afundem nas órbitas, à diminuição de elasticidade da pele e ao enrugamento das mãos e dos pés.
A passagem do ciclone Idai em Moçambique, no Zimbabué e no Malawi fez pelo menos 786 mortos e afetou 2,9 milhões de pessoas, segundo dados das agências das Nações Unidas. Moçambique foi o país mais afetado, registando até ao momento 468 mortos e 1.522 feridos, segundo as autoridades moçambicanas, que dão ainda conta de mais de 135 mil pessoas a viverem atualmente em centros de acolhimento, sobretudo na região da Beira.
Ciclone Idai: Onda de solidariedade alemã para com Moçambique
Na Alemanha, o ciclone Idai provocou uma onda de solidariedade. O Governo da Alemanha aumentou a ajuda humanitária para um total de 5 milhões de euros. Organizações humanitárias e igrejas cristãs pedem donativos.
Foto: Aktionsbündnis Katastrophenhilfe
Cruz Vermelha Alemã: Unidade sanitária móvel para a Beira
A cidade da Beira vai receber uma unidade sanitária móvel para 20.000 pessoas e um sistema de água potável para fornecer 15.000 pessoas, anunciou a Cruz Vermelha Alemã (DRK). Esta organização que coopera com a Cruz Vermelha de Moçambique já conseguiu angariar em termos de donativos individuais 50.000 euros até ao momento. A recolha de fundos ainda está activa.
Foto: Reuters/IFRC/RCRC Climate Centre
Cruz Vermelha Alemã: Já esteve ativa na prevenção
Ainda antes do ciclone Idai atingir o território moçambicano houve uma campanha de prevenção para ajudar a população a enfrentar o ciclone. Foram distribuídos comprimidos para purificar a água e kits de primeiros socorros. Além desta ajuda também foram fornecidos cobertores, lonas, colchões e utensílios de cozinha.
Foto: Reuters/Red Cross Red Crescent Climate Centre/D. Onyodi
Caritas Alemanha: distribui alimentos
A Caritas alemã, organização da igreja católica, pede donativos no seu site e também já está em Moçambique. Um dos parceiros locais em Moçambique é a Associação Esmabama. Têm distribuído na Beira alimentos como farinha, feijão e óleo para cozinhar e água potável. Também distribuíram produtos de primeira necessidade como roupa, cobertores, sabonetes, kits de primeiros socorros e baldes.
Foto: Caritas International
Diocese de Friburgo: donativo de 100.000 euros
O bispado de Friburgo no sudoeste da Alemanha fez um dos maiores donativos. Deram cem mil de euros à Caritas para ajudar as vítimas do ciclone. "As notícias que nos chegam dos nossos parceiros locais em Moçambique são dramáticas", disse Oliver Müller, director da organização de ajuda da Caritas. Disse que estão a fornecer "alimentos, água potável, artigos de higiene, cobertores e vestuário".
Foto: picture-alliance/dpa/P. Seeger
Diakonie Katastrophenhilfe: cooperação com igrejas em Moçambique
A Diakonie Katastrophenhilfe, a organização de ajuda de emergência da igreja luterana, foi uma das primeiras ONGs a fazer apelos a donativos logo após o ciclone e já conseguiu angariar 100.000 euros. Em conjunto com a CEDES, Comité Ecuménico para o Desenvolvimento Social, tem dado apoio em várias regiões de Moçambique. A ajuda alimentar desta organização já chegou a 50.000 moçambicanos.
Foto: Diakonie Katastrophenhilfe
Igrejas: colheita de donativos
Foram muitas paróquias que dedicaram as colheitas das missas de domingo às vítimas do ciclone em Moçambique. Uma delas foi esta igreja católica reformada de Colónia, a Christi Auferstehung (Alt-Katholische Kirche Deutschlands). O pastor pediu aos fiéis uma ajuda generosa que iria reverter a favor da campanha da Diakonie Katastrophenhilfe.
Foto: DW/J. Beck
Igrejas: Informação sobre a situação em Moçambique
Na porta da igreja, foi afixado um cartaz com informações detalhadas sobre a situação no centro de Moçambique. Destaque para a cidade da Beira e as destruições causadas na província de Sofala. O cartaz lembra a necessidade de apoiar as vítimas que perderam quase tudo.
Foto: DW/J. Beck
Diakonie Katastrophenhilfe: prioridade assegurar água potável
Uma das principais prioridades da Diakonie Katastrophenhilfe é garantir que haja água potável. Nesse sentido já foram distribuídos medicamentos para purificar a água. O director responsável de África da Diakonie Katastrophenhilfe, Kai M. Henning garante o seguinte, “agora temos de sobretudo fornecer água potável às pessoas, há um grande risco das águas ficarem contaminadas e espalharem doenças.”
Foto: DW/B. Jequete
Action Medeor: foco em medicamentos
“A logística para a área do desastre é difícil porque grande parte das infra-estruturas da região foram destruídas pelo ciclone", relata Bernd Pastors. A fim de poder levar rapidamente os medicamentos para a zona sinistrada, a Action Medeor está a processar as entregas de ajuda urgentemente necessárias através das filiais na Tanzânia e no Malawi.
Foto: Action Medeor
Action Medeor e DMG: parceria com a Universidade Católica
Juntamente com a Sociedade Alemã-Moçambicana (Deutsch-Mosambikanische Gesellschaft - DMG), a Action Medeor está a preparar ajuda médica para a Universidade Católica de Moçambique na Beira. Os doentes da cidade mais gravemente afectados pelo ciclone podem ser tratados através do centro de saúde associado.
Foto: DW/J. Beck
UNICEF Alemanha: foco na educação
O comité nacional da UNICEF, a organização educacional das Nações Unidas, juntou-se ao apoio das vítimas do ciclone. Cerca de 2.600 salas de aulas foram destruídas (foto de escola na Beira) durante o ciclone e há uma grande preocupação em recuperar as escolas rapidamente. Será uma das tarefas principais da UNICEF em Moçambique.
Foto: picture-alliance/dpa/T. Hadebe
Ordem de Malta Internacional: equipa de ajuda no local
Uma equipa da Ordem de Malta Internacional da Alemanha (Malteser International) já viajou para Moçambique para prestar socorros urgentes (foto simbólica). "A situação é confusa. ... As infra-estruturas do país estão muito danificadas e estamos numa corrida contra o tempo", diz Oliver Hochedez, Chefe de Ajuda de Emergência da Ordem de Malta Internacional.
Foto: DW/B. Jequete
Technisches Hilfswerk: 5.000 litros de água por hora
A agência estatal da Alemanha de ajuda técnica, Technisches Hilfswerk (THW), enviou uma equipa a Nhangau, nos arredores da Beira. Na quinta-feira (28.03), já conseguiu instalar uma unidade móvel que fornece 5.000 litros de água potável por hora. "Os 30 poços da região estão contaminados com bactérias de diarreia", conta Jens-Olaf Knapp, que lidera a equipa do THW na província de Sofala.
Foto: THW/Jörg Eger
Technisches Hilfswerk: escola com água saudável
Os responsáveis do THW, que na sua maioria costumam ser voluntários alemães, relatam que ficaram muito contentes com a reação da população local de Nhangau após a instalação da central de água. "Um passo muito importante para manter as crianças saudáveis", comentou Esmeralda Basela, a diretora da escola local, onde foi instalada a unidade móvel de água do THW.