Ciclone Idai: Eminente ameaça de fome em Moçambique
Lusa | ni
17 de maio de 2019
Mais de 530 mil famílias de 103 distritos correm risco de enfrentar fome por causa dos ciclones Idai e Kenneth, da estiagem e pragas, anunciam as autoridades. E o FMI faz previsões negativas para o país depois do Idai.
Publicidade
873 mil hectares de culturas diversas foram destruídas, das quais 684.171 hectares pelo ciclone Idai nas províncias centrais de Sofala, Manica, Tete e Zambézia.
No Sul, a seca provocou a destruição de 125.855 hectares de culturas alimentares. O total de terra devastada - uma porção já com culturas na fase de colheita - representa 13% da área semeada no país.
Segundo o ministro da Agricultura de Moçambique, Higino de Marrule, "estima-se que mais de 60 por cento das culturas [nas áreas devastadas] foram perdidas, podendo colocar as populações em situação de insegurança alimentar".Marrule disse ainda que o setor pecuário perdeu 5.400 bovinos, 10.300 pequenos ruminantes, 3.172 bovinos e 123 mil aves, afetando cerca de 15 mil criadores, além da destruição de infraestruturas importantes nas regiões inundadas pelo Idai
"Há necessidade de continuarmos a refletir sobre como elevar os níveis de produção e produtividade face aos atuais obstáculos que se prendem com as mudanças climáticas que estão cada vez mais acentuadas, com impacto significativo no setor agrário", alerta o ministro da Agricultura.
As previsões do FMI depois do Idai
Os ciclones que devastaram várias regiões do país entre março e abril afetaram a economia já debilitada.
E o Fundo Monetário Internacional (FMI) prevê que o crescimento da economia moçambicana caia de 3,8% previstos para este ano para 1,8%, devido aos ciclones, antevendo um ressalto para uma taxa de 6% em 2020, segundo um análise divulgada esta sexta-feira (17.05.)."Espera-se que o crescimento recupere e a inflação desacelere em 2020, graças aos esforços de reconstrução e condições de normalização dos setores económicos mais afetados pelo ciclone", nomeadamente a agricultura, refere um relatório do fundo, em linha com as previsões das autoridades do país.
O relatório surge a propósito da concessão de um financiamento de 105 milhões de euros ao país, livre de juros, anunciado em abril, para permitir enfrentar os efeitos do Idai que matou 603 pessoas e afetou 1,5 milhões de pessoas.
O FMI prevê ainda que a inflação seja mais alta que o previsto este ano (8,5% em vez de 5,5%) devido ao "choque provocado pel ciclone Idai na disponibilidade de alimentos na região da Beira, que representa cerca de um quinto do Índice de Preços do Consumidor". No anos seguintes, deverá estabilizar em 5,5%, acrescenta.
Macomia: Uma das vilas mais destruídas pelo ciclone Kenneth em Moçambique
O distrito de Macomia é uma das vilas mais afetadas pela passagem do ciclone Kenneth em Cabo Delgado, província nortenha de Moçambique. Casas e infraestruturas do Estado foram destruídas ou parcialmente danificadas.
Foto: DW/A. Chissale
Cenário da destruição
A vila de Macomia, a norte da província de Cabo Delgado, em Moçambique, é uma das que mais regista prejuízos após a passagem do ciclone Kenneth, que chegou quinta-feira (25.04) à região. Em todos os bairros do distrito, o cenário é bem semelhante: casas bastante danificadas, pertences das vítimas espalhados e quase ninguém no local.
Foto: DW/A. Chissale
Árvores tombadas
Em todos os bairros há árvores, chapas de zinco que já foram telhados espalhadas por todo o lado, dobradas, prova de que foram arrancadas pela ventania.
Foto: DW/A. Chissale
Sem eletricidade
Além das árvores, também muitos postes de eletricidade foram tombados pelo ciclone Kenneth. O que piorou a situação dos residentes daquela localidade, que estão sem energia elétrica desde que a subestação elétrica que alimentava Macomia e outros quatro distritos também foi afetada pelo desastre.
Foto: DW/A. Chissale
Acesso prejudicado
As estradas que dão acesso ao distrito de Macomia estão bloqueadas por causa das árvores ou postes de energia que foram tombados, tal como esta na localidade de Chai. Também algumas pontes da região foram danificadas. Segundo o correspondente da DW África na região, Arlindo Chissale, a principal estrada que dá acesso à Tanzânia também está bloqueada.
Foto: DW/A. Chissale
"Mais de 60% das casas destruídas"
O correspondente da DW África, Arlindo Chissale, informou também que mais de 60% das residências de Macomia foram destruídas ou parcialmente danificadas após a passagem do ciclone Kenneth na região.
Foto: DW/A. Chissale
Maternidade danificada
Várias infraestruturas do Estado foram destruídas por árvores. Na foto, vê-se a maternidade da vila de Macombia parcilamente danificada.
Foto: DW/A. Chissale
Comando da polícia
Também o comando da polícia foi prejudicado após a queda de postes de eletricidade, fios elétricos e árvores. Também vê-se chapas de zinco espalhadas pelo vento. A polícia transferiu pelo menos 40 presos depois do ciclone, mas, por falta de comunicação, não há informação para onde os detentos foram levados.
Foto: DW/A. Chissale
Sede do Governo distrital
A sede do Governo local de Macomia teve o telhado parcialmente danificado. De acordo com o correspondente da DW no local, Arlindo Chissale, vários documentos foram danificados. Além deste edifício público, a bomba do principal posto de combustível da vila foi arrancada do chão, tal como o edifício de um dos principais bancos do distrito.
Foto: DW/A. Chissale
Difícil comunicação
Esta é a sede da rádio comunitária de Nacedje, em Macomia. O local também foi comprometido após a passagem do ciclone Kenneth. Outras infraestruturas de comunicação, tal como as antenas de telefonia móvel, também foram prejudicadas.