Especialista em gestão de recursos hídricos denuncia falha no lançamento do alerta vermelho sobre ciclone Idai. Autoridades negam o facto e lembram que em setembro já havia previsões de desastres naturais.
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O especialista em gestão de recursos hídricos, Carmo Vaz, diz ter havido falhas de comunicação no lançamento do alerta vermelho face à chegada do ciclone Idai no centro de Moçambique.
Carmo Vaz disse em entrevista a rádio privada moçambicana Rádio Mais que o alerta foi transmitido tardiamente porque "o Instituto Nacional de Gestão de Calamidades (INGC), nas últimas cheias no rio Revúbue, estava na míngua em termos de recursos."
O especialista acrescenta que o INGC tinha igualmente enfrentado idêntica situação na cidade da Beira, província central de Sofala, em Nicoadala e no rio Licungo, província central da Zambézia.
Governo nega falhas de comunicação
O diretor de Gestão dos Recursos Hídricos, Messias Macie, nega tal fato e lembrou que em setembro foi prevista a ocorrência de chuvas acima do normal e com risco de cheias no centro do país.
"Quando o INAM anunciou que uma depressão tropical se aproximava da costa e que iria entrar no nosso país pela província de Sofala e Manica e mais tarde no Zimbabué, quer a DNRH [Direção Gestão dos Recursos Hídricos] quer o INGC, penso que em cinco ou seis dias antes do evento foram tomadas medidas", recorda Macie.
A Direção Nacional de Gestão de Recursos Hídricos acrescentou que as autoridades fizeram tudo em função da informação disponível com base nas previsões.
Segundo Messias Macie, "se as condições do ponto de vista de disponibilidade de informação para fazer as previsões mais apuradas nos permitissem dar intervalos de tempo maiores que este, claro que podíamos ter tomado todas as medidas com este intervalo. Mas se eu me lembro o alerta vermelho foi decretado a 19 de março e o efeito foi seis dias depois o que é tempo razoável, considerando experiência anteriores que o país teve."
INGC sempre esteve a postos?
Ciclone Idai deixa rasto de destruição
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O Instituto Nacionalde Gestão de Calamidades refere por seu turno que sempre esteve preparado para este tipo de cenários. A porta-voz do INGC, Rita Almeida, acrescentou que os alertas chegam a população através de vários meios de informação: "Aquilo que temos feito tal como acontece nos outros momentos, nós fizemos descer os avisos até aos comités locais de risco."
"Portanto, esta informação tem que descer até a população. Como há acesso à comunicação social e às redes sociais, ou seja, tudo que é meio de comunicação usamos para que a informação chegue a população", finaliza Rita Almeida.
Nesta quarta-feira (20.03) o edil da Beira, cidade mais atingida pelo ciclone Idai, Daviz Simango, em declarações à DW África, queixou-se da falta de coordenação na gestão da catástrofe originada pelo ciclone Idai.
O Instituto de Gestão de Calamidades fala de um trabalho positivo e notável, infirmando que "já foram salvas 40 mil pessoas, através de equipas que estão no terreno. Estamos a contar com barcos, helicópteros, fragatas." O INGC fez saber ainda que são agora mais de 350 mil pessoas que necessitam urgentemente de assistência.
Ciclone Idai causa mortes e destruição
Ciclone Idai faz mais de 200 mortos em Moçambique, no Zimbabué e no Malawi. Cerca de 90% da cidade moçambicana da Beira foi destruída com a passagem do ciclone Idai, segundo a Cruz Vermelha.
Foto: picture-alliance/AP/C. Haga
Ciclone Idai faz mais de 200 mortos
A passagem do ciclone Idai afetou mais de 1,5 milhões de pessoas em Moçambique, no Zimbabué e no Malawi, de acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU). Mais de 200 pessoas morreram nos três países e milhares estão desalojadas. O levantamento do número de vítimas está por concluir, dado que há locais de difícil acesso devido à subida do nível dos rios.
Foto: picture-alliance/AP/C. Haga
Beira é a cidade mais atingida de Moçambique
Há pelo menos 84 mortos em Moçambique, segundo os últimos dados. Mas o Presidente Filipe Nyusi afirma que "tudo indica que poderemos registar mais de mil óbitos". A cidade da Beira foi a mais afetada. Os ventos e chuvas fortes deixaram a cidade parcialmente destruída, sem luz nem telecomunicações.
Foto: Getty Images/AFP/A. Barbier
Ciclone visto do espaço
Esta imagem de satélite feita pela NASA mostra a passagem do ciclone Idai pelos países africanos. "A situação é terrível, a magnitude da devastação é enorme", disse o líder da equipa de avaliação da Cruz Vermelha na Beira, Jamie LeSueur. "Enquanto o impacto físico do Idai começa a emergir, as consequências humanas ainda não estão claras", lê-se num comunicado.
Foto: NASA
Deslocados à procura de abrigo
Milhares de pessoas estão desalojadas na zona centro de Moçambique. O Presidente Filipe Nyusi, que sobrevoou a região, indicou que aldeias inteiras desapareceram nas enchentes e que há regiões totalmente incomunicáveis. "Vimos durante o voo corpos flutuando, um verdadeiro desastre humanitário de grandes proporções", assinalou o chefe de Estado.
Foto: DW/B. Chicotimba
Estrada de acesso à cidade da Beira fechada
Com as fortes chuvas, o nível dos rios subiu. Um deles, o rio Haluma, transbordou e cortou a estrada nacional 6, espinha dorsal do centro de Moçambique e única via de acesso à Beira. A cidade ficou isolada. Em entrevista à AFP, o ministro do Meio Ambiente de Moçambique, Celso Correia, afirmou que "este é o maior desastre natural ocorrido no país".
Foto: DW/A. Sebastião
Motoristas isolados na estrada
Isolados na estrada nacional 6, única via de acesso à Beira, moçambicanos aguardam até que a via seja desbloqueada. Formou-se uma longa fila de camiões e outros veículos. Os ventos fortes derrubaram postes.
Foto: DW/A. Sebastião
Noutras vias, mais destruição
A estrada número 260, que liga Chimoio a Mossurize, também não escapou à intempérie. A ponte sobre o rio Munhinga foi arrastada, isolando os dois distritos. Formaram-se enormes buracos nas rodovias, a isolar zonas de Moçambique e a dificultar o acesso às equipas de socorro.
Foto: DW/B. Chicotimba
A fúria das águas
A ponte sobre o rio Haluma, em Nhamatanda, zona central de Moçambique, ficou submersa. É mais uma zona afetada pelas cheias e pelo nível elevado dos rios. Uma camioneta que transportava dez pessoas foi arrastada ao passar pelo local. Seis pessoas morreram e quatro conseguiram salvar-se, penduradas em cima de um camião basculante.
Foto: DW/B. Chicotimba
População precisa de ajuda médica
Mais de cem salas de aulas ficaram destruídas nas regiões mais afectadas pelo ciclone e cheias nos distritos moçambicanos de Chinde, Maganja da Costa, Namacurra e Nicoadalá. Em visita à Zambézia, o Presidente Filipe Nyusi afirmou que, além de bens alimentares, a população necessita também, com prioridade, de assistência médica.
Foto: DW/M. Mueia
Ciclone Idai leva a cancelamento de voos
A passagem do fenómeno também afetou os transportes aéreos. O aeroporto da Beira ficou inoperante entre quinta-feira (14.03.) e domingo (17.03). Todos os voos domésticos foram suspensos. Dezenas de voos previstos para descolar do aeroporto internacional de Maputo, o maior de Moçambique, foram cancelados. O fecho dos aeroportos também dificultou a chegada de ajuda humanitária.
Foto: Getty Images/AFP/E. Josine
Depois de Moçambique, Zimbabué e Malawi
O ciclone Idai atingiu a Beira na quinta-feira (14.03), tendo seguido depois para oeste, em direção ao Zimbabué e ao Malawi, afetando mais milhares de pessoas, em particular nas zonas orientais da fronteira com Moçambique. Casas, escolas, empresas, hospitais e esquadras ficaram destruídas. Estradas e pontes desapareceram, o que dificulta os trabalhos de resgate.
Foto: picture-alliance/S. Jusa
Plantações devastadas pela força do ciclone
No Zimbabué, o número de mortos após a passagem do ciclone Idai chega a 82. O Presidente Emmerson Mnangagwa disse que a resposta do Governo está a ser coordenada pelo Departamento de Proteção Civil através dos comités de Proteção Civil nacional, provincial e de distrito, com o apoio de parceiros humanitários.
Foto: picture-alliance/S. Jusa
Ciclone Idai chega ao Malawi
Os distritos de Chikwawa e Nsanje, no Malawi, ficaram inundados com a passagem do ciclone Idai. Segundo o balanço mais recente do Departamento de Gestão de Riscos, no país foram registadas 56 mortes. Quase 1 milhão de pessoas foram afetadas pela passagem do ciclone. De acordo com a Federação Internacional da Cruz Vermelha, 80 mil viram as suas casas destruídas e estão sem onde se refugiar.
Foto: Getty Images/AFP/A. Gumulira
Cheias nos rios aumentam risco de doenças
A Organização Mundial da Saúde (OMS) já alertou as autoridades para a importância de se levar a cabo um levantamento dos estragos nos serviços de saúde, já que o agravamento das cheias nos próximos dias, devido à continuação de chuvas fortes, aumenta o risco do aparecimento de doenças transmissíveis pela água e pelo ar.