Número de vítimas fatais do ciclone Idai no centro de Moçambique subiu para 446, anunciaram neste domingo (24.03) as autoridades moçambicanas. Junto com Zimbabué e Malawi, total de mortos já ultrapassa 700.
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A informação foi avançada pelo ministro da Terra e do Ambiente, Celso Correia, que falava no centro de operações de socorro instalado no aeroporto da cidade da Beira.
O novo número representa um acréscimo de 30 mortos em relação ao balanço divulgado no sábado. Segundo o ministro, os números refletem a recolha de informação a partir de várias áreas antes isoladas.
Ainda de acordo com Celso Correia, o número de pessoas afetadas subiu para 531 mil. Este total "não significa que estejam em risco de vida. São pessoas que perderam as casas" ou que estão "em zonas isoladas e que precisam de assistência", explicou.
O número de salvamentos faz com que os centros de acolhimento continuem a encher e registem já 109.000 entradas, das quais 6.500 dizem respeito a pessoas vulneráveis - por exemplo, idosos e grávidas que recebem assistência particular.
Sistema de ensino comprometido
Celso Correia referiu também que há 90.756 alunos que, por várias razões, não vão à escola e que o sistema de educação está comprometido devido ao rasto de destruição. "Já temos mais unidades organizadas" e a "conquistar mais território", realçou o ministro.
Com a descida das águas, muitas pessoas alcançadas por equipas de socorro preferem receber alimentos e outros tipos de assistência (médica, por exemplo) nos sítios onde estão e assim recomeçar as suas vidas, nas suas terras.
"Muitas pessoas preferem ficar onde já têm condições" e até pedem sementes para voltar a cultivar as suas 'machambas' (hortas) para garantir alimentação, disse Celso Correia.
Em outros locais são entregues tendas para substituir casas danificadas, mas onde se verifica que há risco, é feita a retirada compulsiva da população, acrescentou.
A vila de Buzi, no distrito mais alagado com as cheias, já há médicos, alimentos e tendas, destacou o ministro moçambicano, pelo que "é normal que as famílias comecem a regressar" para as suas áreas, deixando centros de acolhimento temporário sobrelotados e onde a comida escasseia.
Ainda assim, esta presença de apoios em Buzi verifica-se nas zonas mais altas, pois grande parte do distrito continua submerso.
Estrada Nacional 6 reaberta
O ministro Celso Correia também referiu que "a grande vitória de ontem foi colocar a EN6 [Estrada Nacional número seis] a funcionar".
A estrada tinha sido cortada no sábado, dia 16, quando as cheias provocaram correntes que arrastaram pontes, terrenos que sustentam a via e asfalto em diferentes troços - além de viaturas com várias pessoas, algumas das quais entre as vítimas mortais provocadas pelo ciclone.
A Estrada Nacional 6 é a espinha dorsal da região centro de Moçambique: atravessa as província de Sofala e Manica, ligando a Beira ao Zimbabué.
Além de Moçambique, Zimbabué e Malawi também registam mortos por causa da passagem do ciclone Idai. No segundo mais afetado pelo fenómeno, o Zimbabué, morreram pelo menos 259 pessoas. Enquanto no Malawi, foram 56. No total, o ciclone Idai já fez mais de 700 vítimas fatais nessa região de África.
Ciclone Idai: Crise humanitária no centro de Moçambique
Pelo menos 447 pessoas morreram e centenas de milhares ficaram desalojadas devido a ciclone Idai. É a "pior crise humanitária na história recente de Moçambique", diz a Cruz Vermelha. Autoridades temem eclosão de doenças.
Foto: Reuters/S. Sibeko
Tragédia em Moçambique
Todos os dias continuam a chegar pessoas a centros de acolhimento, todos os dias são anunciados mais mortos no centro de Moçambique. A extensão dos danos provocados pelo ciclone Idai ainda não é totalmente conhecida. O último balanço das autoridades aponta para, pelo menos, 447 mortos e centenas de milhares de pessoas afetadas.
Foto: Reuters/S. Sibeko
Vítimas esperam e desesperam
Há pessoas nos telhados à espera de ajuda, mais de uma semana depois da passagem do ciclone Idai. E a ajuda muitas vezes "não chega", diz Anabela Lemos, da organização não-governamental moçambicana Justiça Ambiental. "O povo precisa de uma resposta de emergência agora mesmo para sobreviver a esta crise", conclui.
Foto: Reuters/M. Hutchings
Destruição
O ciclone Idai destruiu uma área superior a 3.000 quilómetros quadrados (cerca de dez vezes a área da cidade de Maputo), estimam as autoridades moçambicanas. Dezenas de milhares de casas ficaram destruídas. O ciclone destruiu ainda estradas e pontes, e árvores e postes caíram nas vias, impedindo a circulação de veículos.
Foto: Reuters/M. Hutchings
"Emergência de mais alto nível"
O Programa Alimentar Mundial (PAM) das Nações Unidas diz que a situação no centro de Moçambique é "uma emergência de mais alto nível". A Beira foi a cidade mais afetada. O Governo e organizações não-governamentais têm distribuído ajuda à população. O PAM já deu assistência alimentar de emergência a mais de 115 mil pessoas. Mas as vítimas continuam a alertar que falta comida.
Foto: Reuters/S. Sibeko
Acesso a comida e água potável
A diretora-executiva da UNICEF Portugal alertou que a situação em Moçambique é "avassaladora". Segundo Beatriz Imperatori, há "milhares de crianças desamparadas e que necessitam de apoio alimentar, de abrigo e de condições de saneamento com caráter de urgência". Helicópteros lançam biscoitos energéticos em zonas isoladas pelas águas. A falta de acesso a água potável é também uma preocupação.
Foto: Reuters/Josh Estey/Care International
Receio de eclosão de doenças
As autoridades temem a eclosão de doenças devido às águas paradas e à falta de saneamento básico. Daviz Simango, edil da Beira, disse em entrevista à agência de notícias Lusa que há registo de várias mortes com sintomas de cólera. E teme-se um "pico" de casos de malária. A Organização Mundial de Saúde aprovou o envio para a região de 900 mil vacinas orais contra a cólera. E são precisas latrinas.
Foto: Reuters/M. Hutchings
Extensão das inundações
A vermelho é possível ver a extensão das inundações na zona da Beira. A UNICEF alerta que os países afetados pelo ciclone Idai - Moçambique, Zimbabué e Malawi - não conseguem dar conta dos estragos. Por isso, as Nações Unidas pedem que os apoios externos sejam canalizados para a reconstrução de infraestruturas e para o "repensar da economia", diversificando as fontes de rendimento dos cidadãos.
Foto: ESA
Resgate e apoio financeiro
As operações de resgate continuam para encontrar sobreviventes do ciclone em zonas remotas. As Nações Unidas pediram 282 milhões de dólares para apoiar Moçambique nos próximos três meses - para água potável, saneamento, educação e reabilitação dos meios de subsistência dos populares.
Foto: Getty Images/AFP/M. Vermaak
Esforço conjunto
Todos os dias, pessoas são resgatadas. Camiões tentam levar ajuda humanitária a quem precisa, apesar das más condições das estradas na cidade da Beira. Há também um esforço para reconstruir esta localidade o mais depressa possível: a autarquia da Beira autorizou a reconstrução de casas e infraestruturas destruídas pelo ciclone Idai, sem ser necessária uma licença prévia das autoridades.
Foto: pictur- alliance/AP Photo/CARE/J. Estey
Gestão da ajuda às vítimas
A Cruz Vermelha diz que está a ser montado um hospital de campanha na Beira e há outro a chegar. Deverá também chegar um sistema de saneamento e uma unidade de purificação de água para milhares de pessoas. A cidade tem recebido ajuda um pouco de todo o lado. O Centro de Integridade Pública pede que a sociedade civil ajude a gerir os apoios às vítimas do ciclone Idai, para garantir transparência.