Número de vítimas da tempestade em Moçambique continua a aumentar. Ministra da África do Sul questiona capacidade da SADC de lidar com estas catástrofes naturais e Alemanha disponibiliza mais ajuda.
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O ministro da Terra e do Planeamento Territorial, Celso Correia, disse na quinta-feira (21.03) que o total de vítimas mortais do ciclone Idai registados até ao momento é de 242 em todo o país. A maior parte dos mortos registou-se em Sofala, a província mais afetada pela tempestade tropical.
No entanto, milhares de pessoas - principalmente na província central de Sofala, como na região de Búzi - ainda estão à espera de ajuda, muitos refugiaram-se em tetos de edifícios ou árvores. Aguardam a chegada de barcos pesqueiros ou dos poucos helicópteros que operam no país. Na quarta-feira (20.03), Celso Correia tinha estimado que estavam ainda em risco cerca de 15 mil pessoas.
O ciclone Idai é uma das maiores catástrofes naturais desde a independência de Moçambique em 1975, ultrapassado apenas pelas cheias desastrosas no início ano de 2000 que vitimaram cerca de 700 pessoas no país.
Mais ajuda anunciada pela Alemanha
A Alemanha disponibiliza mais um milhão de euros de ajuda humanitária imediata às pessoas afetadas pelo ciclone Idai e inundações no centro. "Estes fundos deverão ser usados para cobrir as necessidades humanitárias mais urgentes", anunciou a embaixada alemã em Maputo.
A chanceler alemã, Angela Merkel, endereçou as suas mais sentidas condolências ao Presidente da República de Moçambique, Filipe Nyusi.
O embaixador da Alemanha em Moçambique, Detlev Wolter, disse que "a Alemanha está desolada com as destruições devastadoras causadas pelo ciclone Idai e pelas massivas inundações que fustigaram as províncias do centro de Moçambique. Neste momento de dor, nos juntamos a Moçambique e os nossos pensamentos e compaixão estão com as pessoas afetadas e com os familiares das vítimas."
Ciclone Idai devasta cidade da Beira
01:12
África Austral está preparada para este tipo de desastres?
A chefe da diplomacia sul-africana, Lindiwe Sisulu, disse no Parlamento da África do Sul que os países da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC) não têm capacidade para responder a catástrofes naturais como o ciclone Idai. "Nós, como coletivo, como SADC, temos de aumentar a capacidade de deteção das alterações climáticas porque estávamos completamente despreparados. A SADC dependia da capacidade da África do Sul", afirmou.
A passagem do ciclone em Moçambique, Malawi e Zimbabué – os três países membros da SADC – provocou mais de 400 mortos, segundo balanços provisórios divulgados pelos respetivos governos. No Zimbabué, as autoridades contabilizaram aproximadamente 100 mortos, enquanto no Malawi as estimativas apontam para cerca de 56 mortos.
Nos três países, e de acordo com números divulgados nesta quinta-feira (21.03) pelo Programa Mundial Alimentar (PAM) das Nações Unidas, em Genebra, o ciclone Idai atingiu pelo menos 2,8 milhões de pessoas. A Cruz Vermelha Internacional indicou que aproximadamente 400.000 pessoas estão desalojadas na Beira.
A economia de Moçambique também vai sofrer
Ciclone Idai: O que faz Daviz Simango?
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Tiago Dionísio, o economista-chefe da consultora Eaglestone, considera que rasto de destruição do ciclone Idai no centro de Moçambique vai levar ao abrandamento do crescimento económico de Moçambique. "As infraestruturas do país, nomeadamente as linhas de caminho de ferro que ligam a região de Tete (onde é extraído o carvão do país) ao porto da Beira, terão sido muito danificadas; isto poderá ter um forte impacto nas exportações de carvão, que em 2018 representaram quase 35% das exportações totais do país", disse o economista.
O ciclone e os seus impactos serão "um enorme desafio para o Governo", disse Dionísio. O economista acha que os danos vão obrigar o Governo de Moçambique a interromper temporariamente a consolidação orçamental: "Estes acontecimentos deverão levar a um aumento da despesa pública nos tempos mais próximos e, assim, interromper temporariamente os esforços de consolidação orçamental necessários para reduzir os elevados níveis de dívida pública do país", disse Tiago Dionísio em declarações à Lusa, a agência de notícias portuguesa.
"Depois do forte abrandamento da atividade económica, e de um período marcado por uma elevada volatilidade, registado após a divulgação de dívidas ocultas em Abril 2016, a economia moçambicana tem vindo a demonstrar alguns sinais de estabilização nos últimos trimestres, contudo, este trágico acidente deverá ter um impacto muito significativo na economia do país", acrescentou o economista-chefe da consultora Eaglestone.
Moçambique: Cheias em Tete deixam rasto de destruição
Pelo menos, seis pessoas morreram vítimas das inundações na província moçambicana de Tete, nos últimos dias. Dezenas de casas ficaram destruídas. Centenas de famílias procuram refúgio em centros de acolhimento.
Foto: DW/A. Zacarias
Mortes e destruição em Tete
As cheias dos últimos dias na província de Tete, centro de Moçambique, fizeram pelo menos seis mortos. Entre as vítimas mortais está um elemento do Serviço Nacional de Salvação Pública, que perdeu a vida em serviço. As enxurradas destruíram 49 casas, segundo o último balanço das autoridades.
Foto: DW/A. Zacarias
Cheias fazem milhares de desalojados
Há muitas habitações que continuam submersas. O rio Rovubué, um afluente do Zambeze, um dos maiores rios de África, transbordou na madrugada de sexta-feira. Milhares de pessoas da cidade de Tete e do distrito de Moatize ficaram desalojadas. Neste momento, os níveis de água nas zonas afetadas estão a baixar e as autoridades temem encontrar mais corpos.
Foto: DW/A. Zacarias
Famílias aguardam tendas
As cheias afetaram mais de 900 famílias. 600 foram acolhidas neste centro de acomodação, no Instituto Industrial e Comercial de Matundo, em Tete. Aqui, as dificuldades são enormes. Faltam tendas. E, enquanto as tendas não chegam, as famílias juntam os seus pertences debaixo de árvores.
Foto: DW/A. Zacarias
Falta comida
Judite Chipala é mãe de cinco crianças. Ela e os filhos procuraram refúgio no centro de acolhimento. Mas ela queixa-se da falta de comida: "Estamos a passar mal. Não estamos a comer como deve ser", afirma.
Foto: DW/A. Zacarias
Pedido de donativos
Muitos dos desalojados são crianças. As autoridades dizem estar cientes das dificuldades no centro de acolhimento, no Instituto Industrial e Comercial de Matundo, e lançaram um apelo à solidariedade para com as vítimas das enxurradas.
Foto: DW/A. Zacarias
Voluntários
No centro de acolhimento, várias voluntárias ajudam na confeção da comida e na sua distribuição. À chegada ao centro, técnicos do Instituto Nacional de Gestão de Calamidades Naturais (INGC) registam os desalojados. Mas quem chega aqui quer sair o mais depressa possível.
Foto: DW/A. Zacarias
À espera de solução
"Aqui não há condições. Eu prefiro voltar a minha casa", queixa-se Sousa Mabore, um dos desalojados no centro de acomodação no Instituto Industrial e Comercial de Matundo. Já Telma Feliciano quer sair do local onde mora e pede às autoridades para lhe darem alojamento fora de zonas propensas a inundações. "Se tivermos ajuda, para nos porem num sítio seguro, não vamos voltar."
Foto: DW/A. Zacarias
Bairros afetados
Muitas das pessoas que ficaram sem casas vêm dos bairros Francisco Manyanga, Filipe Magaia, Samora Machel, Mpádue e Chingodzi, afetados pelas cheias. O Governo provincial e o INGC estão a analisar as condições de segurança no terreno.
Foto: DW/A. Zacarias
Realojamentos?
Richard Baulene, porta-voz do Governo provincial de Tete, diz que as autoridades estão a investigar os pedidos de várias famílias para serem realojadas noutros locais. "Terá que se estudar qual o tratamento a dar às pessoas que vivem nas zonas que forem declaradas propensas a inundações", diz. No terreno, as equipas do Governo continuam à procura de desaparecidos.
Foto: DW/A. Zacarias
Grandes prejuízos
Vários habitantes tentam recuperar alguns dos seus pertences. Assifa Pedro é uma mãe de 35 anos que a DW África encontrou no bairro Chingodzi, em Tete, a tentar recuperar cadeiras que perdeu com as enxurradas. Os prejuízos são muitos. "Não tem uma casa que não caiu. Toda a roupa, o congelador, foi embora… Eu estava a dormir e ouvi água. E consegui tirar as crianças."
Foto: DW/A. Zacarias
Enxurradas incomuns
Artur Chipenhu tenta recuperar as chapas da sua casa, que saíram do lugar com as chuvas. Vários habitantes dizem que não se lembram de enxurradas como estas, nesta zona. Além das casas destruídas, a ponte sobre o rio Rovubué, que separa a cidade de Tete e a vila de Moatize, também ficou danificada.
Foto: DW/A. Zacarias
Ponte interditada a veículos
Na ponte, a circulação de veículos foi interditada. Um dos tabuleiros saiu do lugar. Por enquanto, não se sabe quando os automóveis poderão voltar a circular. A alternativa é a segunda ponte sobre o rio Zambeze (Kassuende). Aqui, no rio Rovubué, os transportadores semicoletivos estão a levar os passageiros até à ponte e estes atravessam-na a pé, apanhando transporte na outra margem.
Foto: DW/A. Zacarias
Mais desalojados
Depois da cidade de Tete e do distrito de Moatize, as cheias atingiram os distritos de Doa e Mutarara. Em Doa, já há registo de mais de 1.400 famílias afetadas e 1 morte. O Instituto Nacional de Gestão de Calamidades Naturais (INGC) garante estar a monitorar a situação.