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Cidadãos iranianos acusados de apoiarem terroristas

Leonel Matias (Maputo)
11 de novembro de 2020

O Ministério Público moçambicano acusa 12 cidadãos iranianos de terem transportado armas para alegado grupo jihadista na província de Cabo Delgado. Analistas alertam para a necessidade de reforçar o setor de segurança.

Fotografia de arquivoFoto: DW/A. Chissale

Segundo o Ministério Público, os 12 iranianos pertencem a uma organização terrorista. O grupo foi detido em dezembro de 2019 quando se fazia transportar numa embarcação na baía de Pemba com metralhadoras AK47, caçadeiras, pistolas e munições, binóculos, uma motorizada e um cartão de crédito, afirma o Ministério Público em comunicado.

Os cidadãos são acusados dos crimes de terrorismo, associação para delinquir, porte de armas proibidas e crime de organização contra o Estado, ordem e tranquilidade públicas.

O Ministério Público considera que os arguidos devem continuar detidos, dada a natureza das infrações de que são indiciados e por receio de fuga.

Reforçar a segurança e defesa

À DW África, o analista João Colaço diz que o caso evidencia, mais uma vez, a importância de proteger as fronteiras terrestres, aéreas e marítimas.

"O Governo tem que continuar a fazer isso de modo a que conheça, de facto, quem sai e quem entra dentro do território moçambicano", refere. Esse trabalho é importante para evitar que "pessoas ou grupos de pessoas não autorizadas" transportem "objetos ou artefactos que possam pôr em perigo a segurança nacional".

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No passado, várias pessoas levadas a tribunal indiciadas de participação ou colaboração com o grupo jihadista em Cabo Delgado foram inocentadas, alegadamente por falta de provas.

No entanto, Calton Cadeado espera um "tratamento diferente" deste caso.

Segundo o professor, ligado à área da paz e conflitos, hoje já há mais elementos e mais sensibilidade, quer política quer jurídico-judicial, para lidar com o assunto. A polícia também tem uma maior capacidade investigativa nestas matérias, refere Cadeado.

Violência aumenta

Notícias postas a circular deram conta de um massacre, no fim de semana passado, de dezenas de pessoas, em Muidumbe, um distrito de Cabo Delgado, facto que já foi alvo de condenação por parte da comunidade internacional, incluindo o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres.

Para o analista João Colaço, os novos desenvolvimentos no teatro de operações em Cabo Delgado refletem "mais uma estratégia de guerra por parte dos insurgentes no sentido de criar possivelmente uma maior pressão" junto das autoridades moçambicanas, quiçá para alguma "reivindicação".

O analista observa, no entanto, que Moçambique está perante um dilema – o grupo de insurgentes ainda não tem rosto ou desconhece-se a sua liderança, o que torna muito difícil para o Governo estabelecer contactos na tentativa de aproximação com a parte beligerante.

Calton Cadeado defende, porém, que a atual situação "exige um aumento da força militar". "Tem que se dar maior poder às forças militares no seu todo, incluindo à dimensão de fronteira que, no nosso país, neste momento é da responsabilidade da polícia", afirma Cadeado em entrevista à DW África.

"A segunda coisa tem a ver com a dimensão de inteligência, tem que ser feita para fora de Moçambique, para nós lidarmos com os locais de provável proveniência desta violência terrorista. Em terceiro lugar, é preciso desenvolver uma inteligência muito forte, quer ao nível político, quer ao nível das Forças de Defesa e Segurança."

Por último, a comunicação é também um elemento fundamental para cortar as linhas de radicalização, incluindo nos pontos de fácil recrutamento de jovens para o jihadismo, acrescenta Calton Cadeado.

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