Além de não funcionarem, os equipamentos dão uma falsa segurança a quem os usa, avisam especialistas em saúde pública.
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Cidadãos de Nampula, no norte de Moçambique, estão desapontados com inoperância de alguns túneis de desinfeção instalados em locais considerados estratégicos na cidade de Nampula, a terceira maior do país. Atualmente encontram-se instalados seis túneis. Uma parte não funciona e os restantes operam com irregularidade.
Um túnel que raras vezes funciona está instalado na entrada do mercado central de Nampula, um dos maiores daquela cidade nortenha. Os cidadãos estão revoltados com a situação. Para Cremildo Jamal, vendedor no mercado central de Nampula, desde que o equipamento foi instalado, não está a funcionar. "Trouxeram esta coisa há muito tempo, mas não funciona desde o primeiro dia. Pedimos que removam o túnel daquele local, ou, se não, pelo menos façam a manutenção”, exigiu o vendedor.
Pedro Patola é comerciante no mercado dos Belenenses, onde também está instalado um túnel. Diz que as pessoas se estão a aglomerar no mercado e o túnel não funciona. "Por isso é melhor removê-lo e colocarem pessoas para pelo medir as temperaturas com aquelas máquinas [manuais]”, disse à DW África.
A funcionalidade dos túneis
O chefe do mercado central de Nampula, Branquinho Miguel, confirmou que o túnel instalado nunca funcionou. Miguel já contactou as autoridades municipais, mas, segundo ele, a edilidade diz não ser da sua responsabilidade fazer a manutenção, embora também não diga quem é o responsável.
O chefe do mercado lamenta a situação por verificar que contribui para o aglomerado de pessoas nos acessos ao mercado. "A população para passar ali é difícil. Pessoas que entram e saem no mercado cruzam naquele lugar e por causa do aglomerado podem contagiar-se”.
Para Branquinho Miguel, é preciso verificar a funcionalidade do equipamento no mercado. "Nós não estamos a ver a função daquele túnel. Somente colocaram na entrada para impedir a circulação de pessoas. O nosso pedido é a remoção ou a manutenção para o funcionamento”, disse à DW África.
Contactadas epla DW, as autoridades de saúde na província de Nampula recusaram-se a comentar a situação. Mas, recentemente o ministro da saúde, Armindo Tiago, reconheceu que os túneis de desinfecção massiva que estão a ser instalados em quase todo o país, não são eficazes para proteger as pessoas contra o novo coronavírus.
Críticas ao comportamento dos cidadãos
A especialista em saúde pública e docente universitária, Cecília Boaventura, sugere que o dinheiro gasto na aquisição dos túneis deve ser aplicado na sensibilização das populações, sobretudo em zonas mais remotas, bem como na aquisição de outros materiais de prevenção da pandemia que sejam úteis.
"Não acho correto [os túneis] por vários motivos. Os túneis de desinfeção podem dar uma falsa sensação de segurança. A pessoa ao entrar no túnel pode pensar que está completamente segura e não tomar as outras medidas de desinfeção e boas praticas, neste caso o uso da mascara”, disse a especialista.
Em Moçambique os casos de contaminação continuam a subir. Cecília Boaventura entende que a situação se deve à falta de colaboração dos cidadãos com as medidas de contenção. "Há resistência por parte dos cidadãos. Como sabe, as escolas fecharam e neste momento os alunos estão em casa. Mas ao invés de ficarem em casa a estudar, saem as ruas [de forma desnecessária]”, criticou Cecília Boaventura.
De capulanas a máscaras: alfaiatarias de Moçambique inovam em tempos de Covid-19
Em Moçambique, a grande procura levou muitas pessoas a investirem na produção e no comércio de máscaras faciais feitas de capulana.
Foto: DW/R. da Silva
As máscaras de capulana
As pessoas procuram pelas máscaras na tentativa de conter a propagação do coronavírus no país. O uso da máscara é também uma recomendação do Governo e, em alguns casos, obrigatório. As müascaras feitas de capulana estão a ganhar o mercado, conquistar os clientes e render um bom dinheiro.
Foto: DW/R. da Silva
Nova utilidade da capulana
É a capulanas como estas que muitos produtores recorrem para fabricar o seu mais novo produto: máscaras faciais. A capulana passou a ter mais esta utilidade por causa do coronavírus. O preço da capulana continua a ser o mesmo, custando entre o equivalente a 1,20 a pouco mais de 4 euros, dependendo da qualidade.
Foto: DW/R. da Silva
Tradição em capulanas
Na baixa de Maputo, a "Casa Elefante" é uma das mais antigas casas de venda de capulana da capital moçambicana. Vende variados tipos do produto. São muitas as senhoras que se deslocam ao local para a compra deste artigo para a produção das máscaras. As casas de venda de capulana passaram a ter muita afluência para responderem à grande procura pelos artigos por causa do coronavírus.
Foto: DW/R. da Silva
Produção caseira
Esta alfaiataria caseira funciona há cerca de 15 anos, em Maputo. Antes, a proprietária dedicava-se a costurar uniformes escolares. Por causa do coronavírus, passou a investir mais na produção de máscaras. Ela vende aos informais a um preço de 0,20 euros cada unidade.
Foto: DW/R. da Silva
Aproveitar a demanda
A alfaiataria da Luísa e da Fátima dedica-se à produção de vestuário de noivas e não só, mas também à sua consertação. Quando começou a procura pelas máscaras de produção com recurso à capulana, as duas empreendedoras tiveram que redobrar os esforços para produzi-las sem pôr em causa a confecção habitual. O rendimento diário subiu de cerca de 40 euros para 60 euros, dizem.
Foto: DW/R. da Silva
Produção a todo o vapor
Estes alfaiates, no mercado informal de Xiqueleni, costumam dedicar-se ao ajustamento de roupas de segundam mão, compradas no local. Mas devido à intensa procura pelas máscaras, dedicam a maior parte do tempo a produzir estes protetores faciais à base da capulana. Também eles estão a aproveitar a grande demanda pelo acessório.
Foto: DW/R. da Silva
Informais a vender máscaras
Desde que o Governo determinou a obrigatoriedade do uso de máscaras nos transportes e aglomerações, há pouco mais de uma semana, muitos vendedores informais, mulheres e homens, miúdos e graúdos compraram-nas para a posterior revenda. Um dos principais locais para a venda ao consumidor final são os terminais rodoviários.
Foto: DW/R. da Silva
Máscara para garantir a viagem
Os maiores terminais rodoviários, como por exemplo a Praça dos Combatentes, são os locais de aglomerados populacionais e onde muitos cidadãos acorrem para comprar as máscaras caseiras. Quando um passageiro não tem a máscara, sabe que pode encontrar o produto sem ter que percorrer longas distâncias e garantir o embarque nos meios de transporte.
Foto: DW/R. da Silva
Grande procura em Maputo
Neste "Tchova", carrinho de tração humana, há vários artigos. Os clientes estão a apreciar as máscaras, e não só, que o vendedor informal exibe. Os clientes referem que compram as máscaras não só para evitar a propagação do coronavírus, mas também porque os "chapeiros" exigem o uso das mesmas, sob pena de não permitirem a viagemm de quem não tiver o acessório.
Foto: DW/R. da Silva
Bons rendimentos
Os vendedores informais aproveitam a muita procura pelas máscaras caseiras para juntar ao seu habitual negócio. Jorge Lucas, além de vender acessórios de telefones, diz que "há muita procura" pelas máscaras feitas de capulana e que este negócio está a render "qualquer coisa como 20 euros por dia".
Foto: DW/R. da Silva
Quase 20 euros por dia
António Zunguze vende uma máscara pelo valor equivalente a 0,80 euros. Por dia, diz que consegue levar para casa o equivalente a quase 20 euros e explica que a procura é muita nos mercados informais. António compra as máscaras nas alfaiatarias e vai, posteriormente, revendê-las nos terminais de semi-coletivos.
Foto: DW/R. da Silva
Propaganda, "a alma do negócio"
Este jovem montou um megafone para anunciar que, além das sandálias, já tem igualmente máscaras para a venda. Na imagem, as máscaras podem ser vistas no topo da sombrinha e o megafone instalado no muro. O jovem refere que na sua banca não tem havido muita procura, mas acredita que melhores dias virão.
Foto: DW/R. da Silva
Máscaras até nos salões de beleza
Alguns salões de beleza também não perderam a oportunidade e estão a revender as máscaras. Neste salão, já não há clientes devido ao período de restrições para conter a propagação do coronavírus. O salão também investe na venda de máscaras feitas de capulana.