Mesmo que haja resultados positivos na cimeira do clima de Paris daqui a um mês, o aquecimento global já não pode ser parado. A Beira, em Moçambique, é uma das cidades africanas mais vulneráveis às alterações climáticas.
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Mudanças climáticas: motivo de mais chuvas e inundações na Beira
A Beira está ameaçada pelas alterações climáticas. A segunda maior cidade de Moçambique tem de se adaptar, já que as inundações são cada vez mais frequentes. Para isso, conta com o apoio da Alemanha.
Foto: DW/J. Beck
A força do mar
O quebra-mar destruído no bairro das Palmeiras mostra a força das ondas do Oceano Índico, na costa da Beira, a segunda maior cidade de Moçambique. Mesmo em condições normais, o nível do mar varia sete metros entre maré baixa e maré alta. Quando há ciclones e ondas criadas por tempestades, essa diferença é ainda maior. E as mudanças climáticas elevam ainda mais o nível do mar.
Foto: DW/J. Beck
Bairros inteiros ameaçados
Alguns bairros da cidade da Beira já estão tão perto do mar que algumas casas já nem podem ser habitadas. É o que acontece em Ponta-Gêa e Praia Nova. As residências já foram parcialmente destruídas pelas ondas. Segundo o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU (IPCC), o nível do mar deverá subir de 40 a 80 centímetros até 2100.
Foto: DW/A. Sebastiao
Aposta na proteção
Novos canais e mais cancelas, como aqui no bairro das Palmeiras, deverão proteger a Beira de inundações nas partes baixas da cidade. Em caso de chuvas fortes, a cancela abre-se e auxilia na drenagem da água. Até agora, a água das chuvas ficava acumulada - por vezes durante semanas. Um local ideal para a reprodução dos mosquitos transmissores de malária.
Foto: DW/J. Beck
Centro da cidade protegido de inundações
Está a ser construída mais uma cancela perto do porto de pesca. A ideia é melhorar o controlo da entrada e saída das águas na foz do rio Chiveve. O canal de entrada no porto já não precisará de ser dragado com tanta frequência. O projeto de cooperação para o desenvolvimento é financiado pelo banco estatal alemão de desenvolvimento KfW. O valor é 13 milhões de euros.
Foto: DW/J. Beck
Daviz Simango quer mudar a Beira
A luta do edil Daviz Simango para conseguir o dinheiro necessário para a transformação do rio Chiveve levou mais de cinco anos. O presidente da Câmara da Beira, que é do Movimento Democrático de Moçambique (MDM), da oposição, queixou-se várias vezes da falta de apoio do Governo de Maputo.
Foto: DW/J. Beck
Limpar e mudar o percurso do rio
O rio Chiveve deverá ser limpo e o seu percurso mudado, de forma a passar por um parque urbano. A ideia é que o rio assuma melhor o seu papel natural na drenagem da cidade. Isso protegerá a Beira de inundações, após fortes chuvas, ajudando também a cidade a adaptar-se às mudanças climáticas.
Foto: DW/J. Beck
Área verde no centro da cidade
Depois do rio, a próxima fase do projeto será fazer um parque em torno do Chiveve. O rio é o único espaço verde no centro da cidade da Beira, que tem cerca de 600 mil habitantes - o que a torna a segunda maior cidade de Moçambique. Localizada no centro do país, a Beira tem sido considerada cinzenta e desinteressante.
Foto: DW/J. Beck
Arborizar os mangais
Para fazer as planeadas mudanças no rio, foi necessário retirar muitas árvores dos mangais. Por isso, é necessário um reflorestamento após o final do projeto. Mudas de diferentes espécies já estão a ser cultivadas para esse fim. Elas são muito importantes para a preservação do ecossistema local. Apenas estas espécies sobrevivem tanto em água doce quanto salgada.
Foto: DW/J. Beck
Construtora chinesa
A empresa chinesa CHICO (China Henan International Cooperation Group ) venceu o concurso para pôr em prática os planos para o rio Chiveve. Os meios vêm do banco estatal alemão de desenvolvimento KfW e da cidade da Beira. Além de engenheiros chineses, a CHICO também emprega diversos moçambicanos, tanto homens como mulheres.
Foto: DW/J. Beck
Poluição no rio continua
O projeto de limpeza no rio Chiveve pode estar ameaçado. Não muito longe do centro fica o bairro informal do Goto. Parte do lixo e esgotos dos quase 12 mil habitantes dessa localidade vão parar ao rio. A tão sonhada área verde poderá nunca existir.
Foto: DW/J. Beck
Recolha do lixo com carrinhos de mão
Com a ajuda da agência alemã do desenvolvimento GIZ, a Beira implantou um sistema de recolha de lixo no bairro do Goto. Até agora, os moradores tinham que levar o lixo para os arredores do bairro, para depositá-lo em contentores próprios. Agora, funcionários munidos de carrinhos de mão vão até às ruas estreitas do bairro e recolhem-no. O objetivo é que menos lixo vá parar ao rio.
Foto: DW/J. Beck
Adaptação às alterações climáticas, saúde e parque
No entanto, ainda é difícil imaginar como o Chiveve estará após a finalização do projeto em 2016. Se tudo correr bem, a Beira estará mais preparada para lidar com as mudanças climáticas e sofrerá menos com doenças como a malária. Além disso, o centro seria mais bonito com áreas arborizadas e um parque em torno do Chiveve.
Foto: DW/J. Beck
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A Beira é quase toda contornada pelo Oceano Índico. É o mar que dá a esta cidade as suas características: praias longas e marginais largas. Há ainda um porto de transbordo, ponto de partida do corredor da Beira, através do qual passam muitas exportações e importações de e para o centro de Moçambique, Zimbabué e Malawi. Mas o Oceano também representa um perigo para a Beira. A maioria das habitações situa-se apenas ligeiramente acima do nível do mar e está sempre exposta a enchentes. As chuvas torrenciais são outro risco.
"Os estudos todos confirmam a Beira como a cidade mais vulnerável do país; é uma das cinco cidades mais vulneráveis em África", diz o edil Daviz Simango. "É uma cidade muito propícia a inundações, que trazem consigo doenças endémicas, sobretudo cólera e malária."
Simango ocupa o cargo de presidente da Câmara desde 2003. É também o líder do segundo maior partido da oposição, o Movimento Democrático de Moçambique (MDM), e, nesta qualidade, um dos políticos mais influentes do país. Mas também Simango teve que assistir impotente às cheias que submergiram, durante semanas, grandes troços da cidade, após as chuvas de 2013. Os canais naturais de drenagem, como o rio Chiveve, estavam entupidos com lixo, pelo que as águas levaram muito tempo a escorrer.
Travar as águas
É precisamente para evitar que a história se repita que o banco estatal alemão de desenvolvimento, KfW, colocou à disposição da Beira 13 milhões de euros para um projeto de saneamento urbano. A autarquia participa com 2,8 milhões de euros nesta iniciativa que pretende prepará-la para as consequências do aquecimento global. Ao mesmo tempo, deverá ser criado um novo espaço de lazer no centro da cidade.
Os trabalhadores já limparam o rio do lixo e começaram a plantar árvores. Está ainda em curso a construção duma cancela na foz do Chiveve para impedir a enchente de entrar pelo rio dentro e chegar ao centro da cidade.
"Quando a enchente do mar e as chuvas torrenciais acontecem ao mesmo tempo, podemos fechar as cancelas. Deste modo, a enchente não chega à cidade e, simultaneamente, o rio pode receber a água da chuva", explica o responsável do KfW pelo projeto, Christof Griebenow. "Quando a maré vaza, as cancelas são abertas e a água da chuva escorre para o mar."
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O projeto do KfW não prevê apenas a instalação de uma drenagem adequada. Está também planeada a criação de um parque no centro da cidade, em redor do rio Chiveve. Trata-se de um projeto particularmente importante para o centro da Beira com os seus bairros cinzentos: aqui o Chiveve é o único espaço verde.
Limpar o lixo
Os trabalhadores concluíram a limpeza dos últimos quatro quilómetros do rio. Mas, mais acima, no bairro informal do Goto, o Chiveve continua cheio de lixo e plástico. E os esgotos ao céu aberto que passam por entre as choupanas com telhados de chapa ondulada e as casas simples vão desaguar diretamente no rio.
A agência alemã do desenvolvimento GIZ juntou-se à autarquia para resolver esta situação. O lixo é recolhido com carrinhos de mão. Os habitantes poupam o caminho até aos depósitos na periferia do bairro. Futuramente, o esgoto será canalizado por tubos de cimento, para impedir que se misture com a água potável. A esperança é limitar também os surtos de doenças como a cólera.
Além disso, o grupo de teatro local "Kasamuka" tenta sensibilizar os habitantes do Goto e outros bairros para o problema do lixo. A campanha desenrola-se em português e nas duas línguas locais, ndau e sena.
Se tudo der certo - ou seja, se for possível manter o rio limpo de lixo e as cancelas funcionarem bem - de futuro, a Beira poderá estar melhor precavida do que até agora contra chuvas torrenciais, enchentes do mar e os desafios da mudança do clima.
O autor viajou para a Beira a convite do Ministério alemão para a Cooperação Técnica e do banco de desenvolvimento KfW.