Empresas de recolha de lixo na capital da província da Huíla, em Angola, estão paralisadas há dezoito meses por falta de pagamento. A cidade do Lubango está cada vez mais imunda.
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A situação alastra-se desde os finais de 2014, altura em que as empresas de recolha de resíduos sólidos da cidade do Lubango, capital da província angolana da Huíla, renunciaram a tarefa por falta de verbas.
Com as chuvas que se fazem sentir a situação tornou-se mais complicada, principalmente quando se sabe que a falta de saneamento básico concorre para o aumento do surgimento de doenças diarreicas agudas e outras. Daí que os munícipes temem pelo agravamento da situação.
Citadinos agastados
Sérgio Miranda, de vinte e cinco anos de idade, reclama da situação: ¨Este lixo é um atentado a saúde publica e está mesmo no centro da cidade, é feio. Seria bom que as autoridades resolvessem a situação, porque para além das crianças que brincam à volta do lixo, há moradores que vivem próximo do local. E neste tempo chuvoso nem há valas de drenagem. Apelo a administração municipal que coloque contentores para se depositar o lixo.¨
Américo Jorge Tchicolomuenho, morador do bairro comercial, diz que desde 2014 a recolha de lixo na sua zona é deficitária. Ele acusa a Administração Municipal do Lubango de ter recolhido os contentores onde se depositava o lixo: ¨Este lixo já esta aí desde o ano de 2014, [a cidade] está mesmo muita suja. Vimos que a administração Municipal do Lubango o começou a recolher os contentores de lixo no ano passado, mas ninguém sabe onde colocou-os. Agora o lixo é atirado para o chão e fica ao ar livre, o que é muito mau.¨
Osvaldo Clementino Safeca diz que a situação da cidade do Lubango é uma lástima, depois de no passado a cidade ter sido considerada o jardim de Angola: ¨ É triste, mesmo. Do jeito que a cidade está agora com este nosso novo governador é uma lástima. Em frente ao Comando Provincial de Bombeiros há um montão de lixo desde o ano antepassado, até aqui não se consegue por fim ao problema do lixo. E não é só aqui [que há lixo], há também nos arredores da cidade.¨
mmt 19.01.17 Lixo Lubango - MP3-Mono
Autoridades assumem que faltam verbas
O administração municipal do Lubango reconhece os problemas e apela para a participação dos munícipes na resolução. Francisco Barros diz que não tem verbas para remunerar as empresas: "Temos dificuldades de o fazer [recolha do lixo], o acumular dos resíduos sólidos é cada vez mais visível sobretudo nas periferias. As empresas apresentam atrasos no cumprimento dos contratos em termos de pagamento. Mas estamos a fazer de tudo, infelizmente ainda não atingimos o que poderíamos considerar um trabalho de excelência."
A DW África procurou as empresas de recolha de lixo, mas estas preferiram não falar sobre o assunto.
Transformar lixo em artesanato
A organização moçambicana ALMA produz artesanato do lixo que recolhe no Tofo, Moçambique. Por exemplo, de jornais usados fabricam-se bases para tachos. Os artigos são vendidos em Moçambique e no estrangeiro.
Foto: DW/J. Beck
Esta base para tachos foi feita de jornais
A organização moçambicana ALMA - Associação de Limpeza e Meio Ambiente produz uma variada gama de produtos de artesanato do lixo que recolhe no Tofo, uma aldeia na costa da província de Inhambane, no sul de Moçambique, que é famosa pelas suas praias e pelos locais de mergulho. Por exemplo, de jornais usados fabricam-se bases para tachos. Os artigos são vendidos em Moçambique e no estrangeiro.
Foto: DW/J. Beck
ONG faz a recolha do lixo
Com o apoio da Câmara Municipal de Inhambane (CMI), a ALMA é responsável pela recolha do lixo no bairro Josina Machel, onde também se situa a localidade do Tofo. A aldeia é um centro do turismo ecológico em Moçambique. Muitos turistas procuram esta parte da costa do Oceano Índico para mergulhar com raias jamanta e tubarões baleia que são encontrados com frequência.
Foto: DW/J. Beck
As praias limpas do Tofo
Para além da recolha normal de lixo, que é feita duas vezes por semana, os membros da ALMA limpam as ruas e as praia. "Uma vez por mês fazemos uma limpeza geral", conta Gito Nhanombe, o coordenador da ALMA. "Sem a ALMA o Tofo não estaria tão limpo", diz Nhanombe. A limpeza torna o Tofo mais atrativo para turistas. "E menos lixo na praia, significa também menos lixo no mar", diz o coordenador.
Foto: DW/Johannes Beck
Evitar imagens como esta
Com a limpeza regular das ruas e praias do Tofo, a ALMA quer evitar imagens como esta (foto da Indonésia). O lixo plástico no mar é perigoso: pode asfixiar tartarugas que confundem sacos plásticos com medusas e tentam comê-los. Mas o plástico nos oceanos também ameaça a saúde dos homens, pois após a sua decomposição entra na cadeia alimentar através do consumo de peixes que comeram o granulado.
Foto: picture alliance/WILDLIFE
Separação de lixo
Em alguns lugares, como aqui em frente da esquadra local da Polícia da República de Moçambique no Tofo, existem vários contentores de lixo. Cada um serve para diferentes tipos de lixo. Neste caso para separar plástico do lixo comum para facilitar a reciclagem. Um sistema que já é amplamente usado em países como a Alemanha.
Foto: DW/J. Beck
Triagem do que pode ser reutilizado
Os membros da ALMA separam do lixo tudo o que podem usar para o fabrico de artesanato ou para a reciclagem. Guardam as tampas de garrafas de cerveja e de refrigerantes numa caixa. Guardam também papel, cavilhas de latas e pacotes de bebidas. Neste momento não há recolha de plástico, mas a ALMA espera encontrar um novo comprador para as grandes quantidades de plástico reciclado.
Foto: DW/J. Beck
Tampas como base
As tampas de garrafas são forradas com restos de capulanas, que são fornecidos por um alfaiate de Inhambane. No total, 11 pessoas trabalham nos dois setores de limpeza e artesanato da ALMA: seis mulheres e cinco homens. A venda do artesanato e do material reciclado permite à organização não-governamental criar empregos e pagar salários.
Foto: DW/J. Beck
Bases para tachos
Depois de forrarem as tampas, os artesãos juntam várias destas caricas para criar bases para tachos em formato hexagonal. Um conjunto destas bases custa 250 meticais moçambicanos (equivalente a 6,25 euros) e pode servir para colocar tachos, garrafas e copos na mesa.
Foto: DW/J. Beck
Jornais usados ganham nova vida
Entre os materiais procurados pelos artesãos da ALMA estão os jornais. Se não chegarem muito sujos à ALMA, podem ser processados. O papel dos jornais tem boa textura e, quando é impregnado com cola, pode ser enrolado e transformado em bases. Neste caso, custam 150 meticais (equivalente a 3,75 euros).
Foto: DW/J. Beck
A lixeira da ALMA
Mas mesmo com reciclagem e com o aproveitamento de alguma parte do lixo para artesanato, ainda sobra uma grande parte do lixo recolhido. Este material é depositado numa lixeira a céu aberto no terreno da ALMA junto à estrada principal de acesso ao Tofo. Se houver um comprador para o plástico reciclado, a quantidade de lixo depositado poderá ser reduzida.
Foto: DW/J. Beck
Loja local no Tofo
Os produtos produzidos localmente são vendidos na loja da ALMA. O coordenador da ALMA, o jovem moçambicano Gito Nhanombe (na foto), apresenta os produtos aos interessados e explica os materiais que foram usados. Esta bolsa é feita de pacotes de leite.
Foto: DW/J. Beck
Venda principalmente a turistas
Em vários pontos de Moçambique encontram-se pontos de venda da ALMA. São principalmente turistas os clientes da ALMA, mas alguns moçambicanos também fazem compras. No Restaurante Sul do Tofo (na foto), uma montra junto ao balcão mostra alguns produtos. Também há vendas na Europa através de encomendas. A cooperação alemã GIZ já apresentou trabalhos da ALMA numa exposição em Bona, Alemanha.
Foto: DW/J. Beck
Quem adivinhava que eram anilhas de latas?
À primeira vista, muitas peças da ALMA não fazem pensar em reciclagem de lixo. Estes suportes de copos foram feitos com anilhas de latas de alumínio. Os artesãos moçambicanos uniram-nas com fio de croché, em forma de flor. O artesanato amigo do ambiente cria empregos e contribui para manter uma parte da costa moçambicana limpa.