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Cimeira da Líbia em Berlim: O primeiro passo para a paz?

Christoph Hasselbach
18 de janeiro de 2020

O Governo alemão convidou as partes em conflito na Líbia e os seus parceiros internacionais para um encontro na chancelaria, em Berlim, no domingo (19.01), visando a estabilidade na região. Mas o caminho ainda é longo.

Foto: picture-alliance/dpa/A. Salahuddien

O objetivo do Governo alemão, a longo prazo, é "uma Líbia soberana" e um "processo interno de reconciliação", segundo o convite para a conferência deste domingo, em Berlim. Mas o país ainda tem um longo caminho pela frente.

Em Tripoli, há um Governo reconhecido internacionalmente, liderado por Fayez Sarraj, mas que controla apenas uma pequena parte da Líbia. Entretanto, o general rebelde Khalifa Haftar e as suas milícias colocam cada vez mais pressão militar sobre o Governo. Haftar controla a maior parte do país, incluindo a maioria dos seus campos petrolíferos.

A situação torna-se ainda mais complicada com a intervenção estrangeira. A Turquia, por exemplo, apoia o Governo em Tripoli e acaba de enviar soldados para a Líbia. Por outro lado, países como o Egito, a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos apoiam Haftar, tal como a Rússia.

Até a União Europeia está dividida na questão da Líbia. França é tida como apoiante de Haftar, enquanto que Itália, antigo poder colonial, estará mais próxima de Sarraj.

Depois de vários encontros preliminares, o Governo alemão convidou agora os mais altos representantes para um encontro em Berlim: os dois rivais, Sarraj e Haftar, os chefes de Estado e de Governo dos principais países envolvidos direta ou indiretamente, bem como representantes da União Europeia, da União Africana e da Liga Árabe.

Uma vez que a cimeira terá lugar sob a égide das Nações Unidas, o secretário-geral da ONU, António Guterres, também marcará presença.

Khalifa Haftar e Fayez Sarraj

A chave para toda a região

Mas o que poderá ser alcançado com esta cimeira? Segundo Rainer Breul, porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros alemão, o foco ainda não está nas negociações de paz. "O objetivo é que os atores internacionais cheguem a acordo sobre as condições para reduzirem a sua influência no terreno", afirma.

"Enquanto os fornecimentos militares continuarem a chegar do exterior, os combates não vão parar", terá dito a chanceler alemã Angela Merkel aos deputados, na terça-feira. E, enquanto isso acontecer, não haverá uma solução política. Para Merkel, é um bom sinal o facto de os presidentes russo, Vladimir Putin, e turco, Recep Tayyp Erdogan, cujos países estão em lados opostos no conflito líbio, terem prometido ir ao encontro.

O peso da conferência de Berlim vai além da Líbia. Segundo Jürgen Hardt, especialista em política internacional na CDU de Angela Merkel, a pacificação do país é "a chave para a estabilização da África do Norte e Ocidental. Conseguirmos levar a Líbia a um futuro pacífico seria um marco para toda a região".

Bijan Djir-Sarai, porta-voz de política externa do Partido Democrático Livre (FDP), acredita que a Rússia, em particular, tem aqui responsabilidade. "A Rússia, como apoiante de Haftar, tem de convencer urgentemente o general a assumir um papel construtivo na criação de um plano de paz, e a participar na cimeira da Líbia em Berlim", disse à DW.

No entanto, Sevim Dagdelen, do partido A Esquerda, acredita que o Governo alemão não é um mediador credível. "Lamentar a violação ao embargo de armas no caso da Líbia, enquanto se continua a fornecer aramas às partes envolvidas no conflito líbio, como a Turquia, o Qatar, o Egito e os Emirados Árabes Unidos, é uma hipocrisia", afirma.

Heiko Maas e Khalifa Haftar em BenghaziFoto: imago images/photothek/X. Heinl

Como se comportará Haftar?

Uma questão crucial é se os dois rivais líbios, Sarraj e Haftar, vão mesmo a Berlim e, se forem, se vão encontrar-se cara a cara. Numa conferência em Moscovo, na terça-feira (14.01), uma reunião planeada entre os dois não teve lugar, devido à recusa de Haftar.

Depois disso, o ministro dos Negócios Estrangeiros da Turquia, Mevlut Cavusoglu, chegou mesmo a questionar a finalidade da conferência de Berlim. "Se Haftar continuar a agir desta forma, não adianta haver conferência em Berlim", disse, num vídeo divulgado na imprensa turca.

Erdogan, no entanto, tenciona participar, mesmo que o seu apoio militar ao Governo da Líbia contrarie exatamente aquilo que o Governo alemão exige. Além disso, o Presidente turco classificou Haftar como um "golpista" que "receberia uma lição" se continuasse com as ações militares contra o Governo de Tripoli.

Na quinta-feira, o ministro dos Negócios Estrangeiros alemão, Heiko Maas, conseguiu algum progresso. Num encontro com Haftar, no seu bastião de Benghazi, o general garantiu a Maas que estava preparado para implementar um cessar-fogo.

Maas voltou a frisar a mensagem mais importante do Governo alemão: "Ninguém pode sair vencedor deste conflito pela via militar. Pelo contrário – está agora a abrir-se uma janela para livrar o conflito de influência internacional".

Vladimir Putin e Recep Tayyp Erdogan em IstambulFoto: picture-alliance/dpa/Presidential Press Service

Influência alemã limitada

Apesar dos esforços de Berlim com vista à estabilidade na Líbia, Tim Eaton, especialista no Norte de África na Chatham House, duvida que a Alemanha, entre todos os Estados, tenha sucesso.

Países que têm estado envolvidos diretamente e por via militar na Líbia e que têm cooperado diretamente com uma das partes em conflito teriam muito maior influência no processo político, considera o investigador. A Alemanha não está a fazer "nem uma  coisa nem outra".

Tim Eaton nota ainda que os esforços de mediação são difíceis também porque a comunidade de países e mesmo os parceiros europeus da Alemanha estão muito divididos na questão da Líbia. A Turquia e a Rússia, em particular, têm desempenhado um papel muito importante no país e espera "um retorno" do seu compromisso em forma de acordos comerciais com a Líbia, como fornecedor de energia. Eaton acredita que isto significa que a Alemanha terá muitas dificuldades na aceitação das suas ideias.

O Governo alemão está ciente dos desafios: "A cimeira da Líbia em Berlim não é o fim, é apenas o início de um processo político conduzido sob a égide das Nações Unidas. Os problemas da Líbia não podem ser resolvidos num só dia", diz Ulrike Demmer, porta-voz do Governo alemão.

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04:54

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