Uma nova página nas relações entre Rússia e África
rl | Lusa | AFP | Reuters
25 de outubro de 2019
O Presidente russo, Vladimir Putin, anunciou que a cimeira Rússia-África passará a realizar-se de três em três anos. No encerramento do encontro, voltou a frisar que quer duplicar as trocas comerciais com o continente.
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"Fazendo o balanço destes dois dias, podemos dizer desde já que este evento abriu, de facto, uma nova página nas relações da Rússia e os Estados do continente africano", disse Vladimir Putin no final da primeira cimeira Rússia-África. Um encontro que reuniu, na cidade russa de Sochi, mais de 40 chefes de Estado e de Governo de países africanos.
E para que esta nova página comece a ser reescrita, o Presidente russo fez saber que a cimeira Rússia- África é para continuar e passará a realizar-se de três em três anos. Nos próximos cinco anos, a Rússia espera que as trocas comerciais com o continente africano cheguem aos 40 mil milhões de dólares.
Um objetivo ambicioso, diz Olga Kulkova, investigadora do Instituto de Estudos Africanos da Academia de Ciências da Rússia: "A Rússia quer encontrar o seu nicho e a sua direção com parcerias em África. O objetivo é ambicioso: nos próximos cinco anos, o volume do comércio deverá duplicar de 20 mil milhões de dólares americanos (2018) para 40 mil milhões."
Com vista ao cumprimento desta meta, foram assinados, durante a Cimeira, acordos de cooperação em várias áreas. Em matéria nuclear, a Rússia acordou com a Etiópia a construção de uma central nuclear e, com o Ruanda, a construção de um centro de investigação.
Venda de armas vai continuar
A venda de armamento a países africanos continuará a ser uma aposta de Vladimir Putin. O que não surpreende, uma vez que África representa, atualmente, 40% do volume das vendas de armas e equipamentos militares deste país.
"Atualmente, contamos com cerca de 12 mil milhões de dólares em contratos assinados e já pagos. Vinte países africanos estão atualmente a cooperar connosco", confirma Alexandre Mikheev, presidente da empresa pública de venda de armamento da Rússia, Rosoboronexport.
Uma nova página nas relações entre Rússia e África
Entre estes 20 países estão Angola e Moçambique. Alguns analistas dizem que Moscovo tem sabido usar habilmente o seu conhecimento em segurança e a sua influência no que toca à exportação de armas para o país para ganhar terreno na política e economia do continente.
No final dos dois dias de conversações na cidade de Sochi, foram vários os líderes africanos que se mostraram satisfeitos e esperançosos com o aumento do investimento da Rússia no continente africano.
Amigos de longa data
O Presidente da Nigéria, Muhammadu Buhari, foi um deles."Podemos aprender muito com a experiência das reformas em curso na Rússia com vista à transição de uma economia dependente do petróleo para uma economia moderna, diversificada e inclusiva", declarou.
Também Cyril Ramaphosa, Presidente da África do Sul, se mostrou confiante. "É nossa esperança que esta cimeira abra o novo e promissor capítulo sobre as relações entre a Federação Russa e o continente africano. O povo russo é nosso amigo de longa data, apoiou as nossas lutas pela libertação e independência", disse.
Na primeira cimeira Rússia-África, esteve também em destaque a exploração de recursos minerais. Neste domínio foram assinados acordos com o Ruanda, o Sudão do Sul e a Guiné Equatorial. Segundo o chefe de Estado moçambicano, Filipe Nyusi, empresários russos também manifestaram interesse em investir no setor dos recursos minerais e nos transportes.
Ainda na quinta-feira (24.10), Vladimir Putin ofereceu-se para mediar o impasse para a construção da barragem no Nilo que, nos últimos dias, tem feito aumentar a tensão entre o Egito e a Etiópia.
Putin e Merkel: Uma relação de altos e baixos
A relação entre a Rússia e a Alemanha atravessa tempos difíceis. No fim de semana, a chanceler alemã, Angela Merkel, esteve no Azerbaijão à procura de um novo parceiro para reduzir a dependência do gás russo.
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Líderes em ascensão
Em 2002, Angela Merkel era líder do então principal partido da oposição na Alemanha, a União Democrata Cristã (CDU). Putin era o novo Presidente de uma nova e moderna Rússia. Depois de se encontrar com Putin no Kremlin, conta-se que Merkel terá dito aos seus assessores que passou no "teste da KGB" de manter o olhar fixo - uma alusão à carreira anterior de Putin nos serviços secretos soviéticos.
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A nova chanceler
Vladimir Putin construiu uma amizade com o antecessor de Angela Merkel, Gerhard Schröder, que se mantém até hoje. No final de 2005, já era claro que Merkel iria destronar o social-democrata Schröder. Numa conversa com Merkel na Embaixada russa em Berlim, Putin prometeu aumentar os laços entre os dois países. Merkel descreveu o diálogo como "muito aberto".
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Um "ouvido amigo" para Putin
Cerca de um ano depois, Putin partilhou as suas impressões sobre a mulher que se tornou chanceler da Alemanha: "Não nos conhecemos a nível muito pessoal, mas estou impressionado com a sua capacidade de ouvir", disse Vladimir Putin à emissora pública alemã MDR de Dresden, acrescentando que ouvir era uma qualidade rara entre as mulheres na política.
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Quando Merkel conheceu o cão de Putin...
É conhecido o medo que a chanceler alemã tem de cães. No entanto, Putin deixou que o seu cão, Konni, passeasse livremente em Sochi, no local em que recebeu Merkel, em janeiro de 2007. Tentativa de intimidação? Merkel parece pensar que sim. "Acho que o Presidente russo sabia muito bem que eu não estava entusiasmada com a ideia de conhecer o cão dele, mas ainda assim trouxe-o com ele", disse.
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E a liberdade de imprensa?
Em 2012, Vladimir Putin assumiu uma posição mais dura em relação à imprensa e aos dissidentes políticos. Questionada sobre a liberdade de imprensa, quando estava em São Petersburgo, Angela Merkel respondeu: "Se eu ficasse irritada todas as vezes que abro um jornal, não duraria três dias como chanceler".
Foto: picture-alliance/dpa
Diálogo na idade do gelo
As relações entre Moscovo e o Ocidente pioraram após a anexação da Crimeia, em 2014. No entanto, Putin disse à imprensa alemã que ainda mantinha uma "relação de negócios" com a chanceler alemã. "Eu confio nela. É uma pessoa muito aberta. Ela, como qualquer outra pessoa, está sujeita a certas limitações, mas está a tentar resolver as crises de forma honesta", disse ao jornal alemão "Bild".
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Sem querer ofender, mas...
"Não pretendo insultar ninguém, mas a declaração de Merkel é a explosão de uma raiva acumulada há muito sobre a soberania limitada", disse Putin à imprensa em São Petersburgo, em 2017, comentando um discurso da líder alemã em Munique, durante a campanha eleitoral. Angela Merkel pediu aos europeus que confiassem em si próprios, numa altura de disputas com o Presidente norte-americano, Donald Trump.
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"Temos de conversar um com o outro"
Quando Merkel chegou a Sochi, em 2018, Putin recebeu-a com um ramo de flores. Uma oferta de paz? Um galenteio? Sexismo? A chanceler apareceu depois ao lado de Putin e disse que o diálogo precisava de continuar. "Mesmo que haja graves diferenças de opinião sobre alguns assuntos, temos de conversar um com o outro", disse Merkel.