Cimeira do Clima de fundamental importância para Moçambique
Lusa
5 de setembro de 2023
O Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, destacou hoje, em Nairobi, a "fundamental importância" da Cimeira de Ação Climática em África, que decorre no Quénia, e recordou as consequências que o país já atravessa.
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"Esta reunião é de fundamental importância para o continente num contexto em que os efeitos das mudanças climáticas se fazem sentir com maior intensidade, particularmente no nosso país, que, ciclicamente, é abalado por eventos extremos", destacou Filipe Nyusi, à chegada à cimeira.
O Presidente moçambicano participa, a partir de hoje, na Cimeira de Ação Climática em África, que decorre no Quénia e que junta mais de 20 chefes de Estado.
"Faremos deste evento uma oportunidade para colher as diversas experiências na gestão de fenómenos decorrentes das mudanças climáticas, mas também para mostrar a nossa posição, como Moçambique, sobre esta realidade que é cada vez mais preocupante para a segurança dos povos", destacou.
O evento, organizado pela União Africana e pelo Governo do Quénia, irá juntar Chefes de Estado e de Governo africanos e outros líderes mundiais, "num debate com enfoque para as mudanças climáticas, energias renováveis e desenvolvimento da economia azul", explicou anteriormente a Presidência da República de Moçambique.
À lupa: África na rota das alterações climáticas
07:09
Moçambique entre os mais afetados
Moçambique é considerado um dos países mais severamente afetados pelas alterações climáticas no mundo, enfrentando ciclicamente cheias e ciclones tropicais durante a época chuvosa, que decorre entre outubro e abril.
O período chuvoso de 2018/2019 foi dos mais severos de que há memória em Moçambique: 714 pessoas morreram, incluindo 648 vítimas dos ciclones Idai e Kenneth, dois dos maiores de sempre a atingir o país.
No final da cimeira, que decorre até quarta-feira (06.09) e que conta com a presença de mais de 20 chefes de Estado e de Governo africanos, bem como de líderes de outras regiões do mundo e de organizações internacionais, está prevista a adoção da chamada "Declaração de Nairobi", um documento que procura articular uma posição comum africana para diferentes fóruns globais.
Os participantes querem ter uma perspetiva unificada do continente para a sua participação na cimeira do clima COP28, no Dubai, marcada para o final do ano, na Assembleia Geral da ONU, perante o Grupo dos Vinte (G20, bloco de economias ricas e em desenvolvimento) ou junto das instituições financeiras internacionais.
África abriga alguns dos países mais afetados pelas alterações e fenómenos climáticos, onde se inclui, por exemplo, Moçambique, quando os países africanos estão entre os menos responsáveis pela crise climática global.
Incêndios, ciclones e temperaturas recorde: como estão as alterações climáticas a afetar o planeta?
São cada vez mais fortes e mais recorrentes os fenómenos extremos provocados pelas alterações climáticas. Em todo o planeta, ciclones, secas ou incêndios deixam milhares desalojados ou em condições de insegurança.
Foto: Esa Alexander/REUTERS
Incêndios na Europa
Uma vaga de incêndios atinge a Europa em 2023. Mais de 230 mil hectares arderam em toda a União Europeia nos primeiros meses do ano. A Grécia e Itália foram os estados-membros mais afetados. Só em Itália terão ardido 51 mil hectares desde o início de 2023. Na Grécia terão sido registados cerca de 60 focos por todo o país, levando à evacuação de milhares de pessoas.
Foto: Spyros Bakalis/AFP
Temperaturas recorde
Julho bateu o recorde do mês mais quente de sempre, registando um valor 0,33ºC superior a julho de 2019, último detentor do recorde. Itália registou temperaturas que rondaram os 48ºC. Em Espanha, os termómetros atingiram os 47ºC, deixando mais de metade do país sob alerta vermelho. A onda de calor provocou diversas mortes, incêndios e outros fenómenos extremos no continente europeu.
Foto: Guglielmo Mangiapane/REUTERS
Calor extremo faz-se sentir por todo planeta
No Vale da Morte, nos EUA, um dos lugares mais quentes do planeta, os termómetros chegaram aos 54ºC. Já o Canadá notificou mais de 880 incêndios ativos, só no mês de julho, e mais de 10 milhões de hectares ardidos desde o início do ano. Na Ásia as temperaturas elevadas também se fizeram sentir, tendo tanto a China como o Japão registado valores históricos.
Foto: Patrick T. Fallon/AFP
África: o continente mais afetado pelas alterações climáticas
África é o continente mais afetado pelas alterações climáticas, apesar de representar apenas 4% das emissõespoluentes no mundo. A sua localização geográfica e a falta de recursos deixam o continente vulnerável aos fenómenos extremos. Na zona leste, vive-se uma das maiores crises alimentares da história. Já no sul do continente, as inundações e os ciclones são cada vez mais frequentes.
Foto: DW
Uma localização geográfica perfeita para o desastre
As alterações climáticas afetam o planeta na sua totalidade, mas há países mais vulneráveis que outros. Moçambique é um destes. Segundo a ONU, Maputo é uma das 13 cidades do mundo que mais será afetada pela subida do nível da água do mar. Nos últimos anos, Moçambique foi alvo de cinco ciclones e duas tempestades tropicais, sem esquecer o ciclone Freddy, que assolou o país por duas vezes este ano.
Foto: JACK MCBRAMS/AFP/Getty Images
A pior seca dos últimos 40 anos
Os fenómenos extremos são distintos em cada país, sobretudo no continente africano. Em Angola, a seca é um dos maiores fatores de preocupação, e fala-se que esta seja a pior dos últimos 40 anos. Dados científicos apontam que a frequência e a intensidade destes fenómenos vai aumentar.