Cimeira deverá lançar "novo começo" entre UE-África
Lusa
15 de fevereiro de 2022
É o que dizem esperar os presidentes do Conselho Europeu, Charles Michel, e da União Africana, Macky Sall, numa nota conjunta, divulgada esta terça-feira (15.02).
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Os presidentes do Conselho Europeu, Charles Michel, e da União Africana (UA), Macky Sall, disseram, esta terça-feira (15.02), esperar um "novo começo" entre a União Europeia (UE) e África, com a cimeira desta semana.
"A pandemia é, evidentemente, uma das razões pelas quais já passou tanto tempo desde a nossa última reunião, [mas] reforça ainda mais a dimensão excecional que ambas as partes desejam dar a esta cimeira. O objetivo é nada menos do que lançar conjuntamente as bases de uma parceria renovada entre os nossos dois continentes, um novo começo que está em construção há já algum tempo", referem Charles Michel e Macky Sall, numa posição conjunta, divulgada esta terça-feira (15.02).
"O crescimento, a prosperidade partilhada e a estabilidade são os principais objetivos desta parceria", acrescentam os responsáveis dos dois blocos, dias antes de os dirigentes da UE e da UA, bem como dos respetivos Estados-membros, se reunirem em Bruxelas para a sexta cimeira conjunta.
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"Solidariedade internacional"
Após o "teste causado pela pandemia", os líderes da UE e a da UA defendem desde logo que a "solidariedade internacional sobre pandemias e grandes crises sanitárias deve ser organizada de forma abrangente, multissetorial e inclusiva", apelando a um tratado internacional sobre pandemia concluído em março de 2024, no âmbito da Assembleia Mundial da Saúde.
Ao mesmo tempo, Michel e Sall querem que África passe a ter "melhor acesso aos recursos [...] a fim de financiar as suas enormes necessidades de desenvolvimento económico e social", o que passa por "uma iniciativa de alívio da dívida dos países pobres, [que] deveria ser posta em prática para apoiar os esforços de resiliência e recuperação dos países africanos".
Ainda no âmbito económico, está previsto que a UE disponibilize "capacidade de investimento público e privado, bem como conhecimentos especializados com as infraestruturas e tecnologias verdes que são vitais para a luta comum contra as alterações climáticas e para a transformação das economias africanas".
E numa altura em que mais de 600 milhões de africanos ainda não têm luz, "apelamos também a uma transição energética justa que tenha em conta as necessidades específicas de África, em particular a industrialização e o acesso universal à eletricidade", vincam Charles Michel e Macky Sall.
Sombras do passado colonial em pleno coração de Berlim
04:18
Paz e a segurança são "prioridade"
Já observando uma "tendência perturbadora" de "ameaça crescente de conflito entre blocos", os dois responsáveis assinalam estar "convencidos de que a África e a Europa podem trabalhar em conjunto para criar um mundo melhor e mais seguro para todos, através do diálogo e da cooperação com respeito uns pelos outros".
Michel e Sall definem ainda a paz e a segurança como "prioridades-chave" desta parceria, adiantando ser necessário "enfrentar estas ameaças comuns em conjunto, incluindo em África, e em particular na luta contra o terrorismo".
O encontro diplomático de alto nível, que se realiza na quinta-feira (17.02) e na sexta-feira (18.02) em Bruxelas, visa estabelecer as bases de uma parceria UA-UE renovada e aprofundada, esperando-se desde logo um pacote de investimento África-Europa, tendo em conta desafios mundiais como as alterações climáticas e a atual crise sanitária da covid-19, não esquecendo questões relacionadas com a estabilidade e a segurança.
No que toca à pandemia, a UE já mobilizou um apoio financeiro de 46 mil milhões de euros para ajudar 130 países, com quase um quarto desse montante - 10 mil milhões - a ser destinado a África. A UE é também uma das maiores doadoras de vacinas a África, tendo mobilizado mais de 130 milhões de doses para os países africanos e intensificado o apoio à administração de vacinas.
África exige justiça ambiental
Cientistas dizem que a Terra poderá aquecer até quatro graus até ao fim do século. A África já sofre com o aquecimento global. Caso não se combata a alteração do clima, as consequências serão desastrosas.
Foto: Getty Images/AFP/S. Maina
Há cada vez menos água em África
Segundo o Banco Mundial, basta um aquecimento do clima de dois graus centígrados para que caia menos um terço de chuva em África. O que terá como consequência um aumento das secas. Na seca extrema de meados de 1990, os pastores etíopes perderam cerca de metade do seu gado.
Foto: Getty Images/AFP/S. Maina
Chuva a mais
Futuramente as chuvas poderão aumentar no leste da África. Mas serão chuvas torrenciais concentradas em poucos dias e não regulares e distribuídas pelo ano. Em 2011, a cidade portuária tanzaniana Dar-es-Salam foi surpreendida por fortes quedas de chuva, que submergiram bairros inteiros. Pelo menos 23 pessoas morreram, outras 10 000 tiveram que abandonar as suas casas.
Foto: cc-by-sa-Muddyb Blast Producer
Colheitas falhadas
Em África cerca de 90% dos produtos agrários são cultivados por pequenos agricultores. Caso não se reforce marcadamente a sua resistência contra o aumento de secas e enchentes, mais 20% pessoas do que hoje vão passar fome, alerta a Organização das Nações Unidas.
Foto: Getty Images/AFP/A. Joe
Riscos para a saúde
Já hoje a alimentação deficiente por causa de colheitas fracas representa um problema em muitos países. Muitas pessoas mudam-se para os bairros de lata das grandes cidades, onde doenças como a cólera se espalham rapidamente. Um aumento da temperatura poderá fazer disparar a incidência de doenças como a malária, inclusive nos planaltos africanos, onde, até agora, a maleita não existe.
Foto: Getty Images/S. Maina
Extinção das espécies
O aumento da temperatura influencia eco sistemas completos. Muitos animais e plantas não se conseguem adaptar suficientemente depressa. Segundo um relatório do Conselho Mundial do Clima, entre 20% a 30% de todas as espécies estão ameaçadas de extinção por causa da mudança do clima.
Foto: CC/by-sa-sentouno
O Kilimanjaro sem neve
A manta de neve do monte Kilimanjaro tem 12 000 anos. Nos últimos 100 anos derreteu mais de 80% do seu gelo. Caso prevaleçam as condições atuais, o gelo no Kilimanjaro desaparecerá entre 2022 e 2033, calcula uma equipa de cientistas do Estado federado do Ohio, nos Estados Unidos da América. A seca e a falta de chuva levam a que o gelo derreta rapidamente.
Foto: Jim Williams, NASA GSFC Scientific Visualization Studio, and the Landsat 7 Science Team
Só quando a última árvore for abatida ...
A mudança do clima deve-se, sobretudo, aos carros, centrais de energia e fábricas na Europa, América e Ásia. Mas o abate de árvores em muitas florestas africanas, por exemplo, para produzir carvão vegetal, aumenta o CO2 na atmosfera e contribui para o esgotamento dos solos. Em tempos, um terço da superfície do Quénia era floresta, hoje são apenas 2%.
Foto: Getty Images/AFP/T. Karumba
Muda a muda cresce a floresta
Hoje, muitas pessoas já se aperceberam da necessidade de medidas para contrariar este desenvolvimento nefasto. Há algumas décadas, cidadãos empenhados no Quénia começaram a plantar novas árvores, contribuindo para que a superfície florestal crescesse para 7%. As árvores impedem que a chuva leve a preciosa terra arável e retiram os gases de efeito de estufa da natureza.
Foto: DW/H. Fischer
Proteção através da diversidade
As monoculturas são vulneráveis a secas e animais daninhos. Se forem plantadas diversas frutas lado a lado, a colheita fica assegurada, mesmo que uma espécie falhe. Segundo o Programa Ambiental das Nações Unidas, a agricultura ecológica aumenta também bastante mais a resistência às consequências da mudança do clima do que a agricultura convencional.
Foto: Imago
Menos palavras, mais ação
Reservas subterrâneas de água da chuva, seguros contra o risco de colheitas falhadas: há muitas maneiras de, pelo menos, amenizar as consequências do aquecimento global. A assistência ao desenvolvimento e a protecção do clima não podem ser separadas, exigiram, recentemente, os delegados numa conferência das Nações Unidas. Mas não houve promessas concretas de assistência.
Foto: picture alliance/Philipp Ziser
Paris desperta expectativas
“Justiça ambiental, já!” exigiram os manifestantes na Conferência do Clima das Nações Unidas em Durban, na África do Sul, em 2011. Agora o mundo aguarda a conferência que se realiza em Paris no fim de 2015. Está planeada a assinatura de um acordo global sobre o clima, com o objetivo de limitar o aquecimento global a dois graus centígrados e reduzir as consequências nefastas da mudança do clima.