Cimeira França-África discute impacto económico da Covid-19
Mimi Mefo
16 de maio de 2021
Os Presidentes de Moçambique e de Angola estão entre os convidados da cimeira que visa a estimular o crescimento económico. Analistas divergem sobre os reais objetivos da evento e criticam França.
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Na terça-feira (18.05), o Presidente francês, Emmanuel Macron, será o anfitrião de vários líderes africanos, incluindo o chefe de Estado moçambicano, Filipe Nyusi, e o Presidente angolano, João Lourenço.
Entre os convidados estão ainda o presidente da Comissão da União Africana e o chefe do Banco Africano de Desenvolvimento, bem como alguns líderes do G7, G20, Fundo Monetário Internacional (FMI) e outras instituições financeiras.
A pandemia de Covid-19 é o principal assunto do momento, mas quando se trata das relações franco-africanas, outras questões ganham prioridade, como os legados coloniais e o franco CFA.
Os critérios usados para convidar os participantes da cúpula foram considerados controversos.
"O Presidente Macron enviou convites para as economias africanas mais significativas e certamente para aquelas que fazem parte da francofonia", disse à DW Roland Marchal, um dos maiores especialistas em relações franco-africanas da Universidade Sciences Po, em Paris.
"Será um erro supor que o objetivo de França é apenas reunir seus clientes, membros da francofonia, seus clientes tradicionais no continente", acrescentou o analista.
Para além da francofonia
Segundo Roland Marchal, o Presidente francês, assim como seus antecessores, François Holland e Nicholas Sarkozy, tentam estender laços de amizade com países que a França não colonizou, como Etiópia, Quénia, Nigéria e África do Sul, considerados os países mais emergentes do continente africano.
"Há a questão das ex-colónias por trás disso", diz o deputado francês Sébastien Nadot. "Países com disputas em andamento com a França não estarão presentes, caso contrário, isto seria percebido como uma provocação para a diáspora na França. Por exemplo, Sassou Nguesso [Presidente da República do Congo] não estará lá", disse Nadot à DW.
Oportunismo?
O objetivo principal da cúpula é "dar um grande impulso” aos países atingidos pela Covid-19. "Claro, é uma oportunidade para África, pois, neste momento, o mundo inteiro, especialmente o continente africano, está no limite", disse Albert Rudatsimburwa, especialista do Ruanda sobre a região dos Grandes Lagos.
Para a analista camaronesa Bergeline Ndoumou, há questões mais urgentes que afetam o continente e que a atual cúpula não aborda. "É apenas mais uma reunião inútil, uma perda de tempo e de recursos, e que é mais benéfica para França do que para África", afirma.
"Eles têm realizado inúmeras cúpulas, mas como essas cúpulas beneficiaram África? Temos água potável? Boas escolas ou instalações médicas? Como as cúpulas impactaram a governança em nossos países africanos? Ainda temos maus líderes", disse Ndoumou, sublinhando que tais reuniões são uma forma de França lembrar aos países de África que ainda são colónia.
"É apenas uma manobra de Macron para solidificar seu domínio no continente africano”, acrescentou.
Não há uma indicação clara se a cúpula vai discutir questões políticas, sociais e de governança no continente africano.
"A respeito da Covid-19, não tenho certeza se haverá qualquer discussão significativa sobre isso em Paris. Sei que a Organização Mundial da Saúde não estará presente. O Fundo Monetário Internacional estará lá, mas não sabemos quem. É óbvio que a Covid-19 não é a prioridade", disse o parlamentar francês Sébastien Nadot.
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Fio de esperança
"Atualmente, França não tem poder financeiro suficiente para ajudar os Estados africanos", disse Roland Marchal, da Universidade Sciences Po, ao sublinhar a necessidade de França contar com o suporte de outras potências ocidentais.
"Usaremos esta oportunidade para examinar os Estados africanos que têm dívidas enormes com a China. Países como Zâmbia e Djibouti estão em apuros. O Quénia estará em apuros em breve. Portanto, estamos a tentar ajustar o défice comercial dos países africanos com a China", explicou o analista.
O deputado francês Sébastien Nadot acusa França de ser pretensiosa ao tentar resolver os problemas de África ao mesmo tempo em que não consegue resolver os seus próprios e acrescenta que pode haver um vislumbre de esperança para os africanos, especialmente no que diz respeito ao cancelamento da dívida e à questão do franco CFA.
"Mas os líderes africanos têm que organizar por unanimidade seus países para encontrar uma moeda alternativa que possam usar. Se estão a esperar uma solução de França ou da Europa, será uma solução de fora e não claramente apenas para os interesses dos países de África", diz.
Os chefes de Estado há mais tempo no poder
São presidentes, príncipes, reis ou sultões, de África, da Ásia ou da Europa. Estes são os dez chefes de Estado há mais tempo no poder.
Foto: Jack Taylor/Getty Images
Do golpe de Estado até hoje - Teodoro Obiang Nguema
Teodoro Obiang Nguema Mbasogo assumiu a Presidência da Guiné Equatorial em 1979, ainda antes de José Eduardo dos Santos. Teodoro Obiang Nguema derrubou o seu tio do poder: Francisco Macías Nguema foi executado em setembro de 1979. A Guiné Equatorial é um dos países mais ricos de África devido às receitas do petróleo e do gás, mas a maioria dos cidadãos não beneficia dessa riqueza.
Foto: DW/R. Graça
O Presidente que adora luxo - Paul Biya
Paul Biya é chefe de Estado dos Camarões desde novembro de 1982. Muitos dos camaroneses que falam inglês sentem-se excluídos pelo francófono Biya. E o Presidente também tem sido alvo de críticas pelas despesas que faz. Durante as férias, terá pago alegadamente 25 mil euros por dia pelo aluguer de uma vivenda. Na foto, está acompanhado da mulher Chantal Biya.
Foto: Reuters
Mudou a Constituição para viabilizar a reeleição - Yoweri Museveni
Yoweri Museveni já foi confirmado seis vezes como Presidente do Uganda. Para poder concorrer às eleições de 2021, Museveni mudou a Constituição e retirou o limite de idade de 75 anos. Venceu o pleito com 58,6% dos votos, reafirmando-se como um dos líderes autoritários mais antigos do mundo. O candidato da oposição, Bobi Wine, alegou fraude generalizada na votação e rejeitou os resultados oficiais.
Foto: Getty Images/AFP/I. Kasamani
"O Leão de Eswatini" - Mswati III
Mswati III é o último governante absolutista de África. Desde 1986, dirige o reino de Eswatini, a antiga Suazilândia. Acredita-se que tem 210 irmãos; o seu pai Sobhuza II teve 70 mulheres. A tradição da poligamia continua no seu reinado: até 2020, Mswati III teve 15 esposas. O seu estilo de vida luxuoso causou protestos no país, mas a polícia costuma reprimir as manifestações no reino.
Foto: Getty Images/AFP/J. Jackson
O sultão acima de tudo - Haji Hassanal Bolkiah
Há quase cinco décadas que o sultão Haji Hassanal Bolkiah é chefe de Estado e Governo e ministro dos Negócios Estrangeiros, do Comércio, das Finanças e da Defesa do Brunei. Há mais de 600 anos que a política do país é dirigida por sultões. Hassanal Bolkiah, de 74 anos, é um dos últimos manarcas absolutos no mundo.
Foto: Imago/Xinhua/J. Wong
Monarca bilionário - Hans-Adam II
Desde 1989, Hans-Adam II (esq.) é chefe de Estado do Liechtenstein, um pequeno principado situado entre a Áustria e a Suiça. Em 2004, nomeou o filho Aloísio (dir.) como seu representante, embora continue a chefiar o país. Hans-Adam II é dono do grupo bancário LGT. Com uma fortuna pessoal estimada em mais de 3 mil milhões de euros é considerado o soberano europeu mais rico.
Foto: picture-alliance/dpa/A. Nieboer
De pastor a parceiro do Ocidente - Idriss Déby
Idriss Déby (à esq.) foi Presidente do Chade de 1990 a 2021. Filho de pastores, Déby formou-se em França como piloto de combate. Apesar do seu autoritarismo, Déby foi um parceiro do Ocidente na luta contra o extremismo islâmico (na foto com o Presidente francês Macron). Em abril de 2021, um apenas dia após após a confirmação da sua sexta vitória eleitoral, Déby foi morto num combate com rebeldes.
Foto: Eliot Blondet/abaca/picture alliance
Procurado por genocídio - Omar al-Bashir
Omar al-Bashir foi Presidente do Sudão entre 1993 e 2019. Chegou ao poder em 1989 depois de um golpe de Estado sangrento. O Tribunal Penal Internacional (TPI) emitiu em 2009 um mandado de captura contra al-Bashir por alegada implicação em crimes de genocídio e de guerra no Darfur. Em 2019, foi deposto e preso após uma onda de protestos no país.
Foto: Getty Images/AFP/A. Shazly
O adeus - José Eduardo dos Santos
José Eduardo dos Santos foi, durante 38 anos (de 1979 a 2017), chefe de Estado de Angola. Mas não se recandidatou nas eleições de 2017. Apesar do boom económico durante o seu mandato, grande parte da população continua a viver na pobreza. José Eduardo dos Santos tem sido frequentemente acusado de corrupção e de desvio das receitas da venda do petróleo. A sua família é uma das mais ricas de África.
Foto: picture-alliance/dpa/P.Novais
Fã de si próprio - Robert Mugabe
Robert Mugabe chegou a ser o mais velho chefe de Estado do mundo (com uma idade de 93 anos). O Presidente do Zimbabué esteve quase 30 anos na Presidência. Antes foi o primeiro-ministro. Naquela época, aconteceram vários massacres que vitimaram milhares de pessoas. Também foi criticado por alegada corrupção. Após um levantamento militar, renunciou à Presidência em 2017. Morreu dois anos mais tarde.