Cimeira Ravalomanana-Rajoelina discute soluções para a crise no Madagascar
25 de julho de 2012O ex-presidente malgache Marc Ravalomanana, deposto em 2009, chegou na terça-feira às Seychelles, onde se reune esta quarta feira (25.07) com o seu rival Andry Rajoelina, num frente-a-frente decisivo com vista a pôr termo à crise na qual o Madagascar se encontra mergulhado há três anos.
O presidente da transição malgache, Andry Rajoelina, chegou ao arquipélago das Seychelles ao fim da tarde de segunda feira (23.07), no dia seguinte à repressão de um motim na base militar de Antananarivo e que fez três mortos e alguns feridos.
O encontro entre Rajoelina e Ravalomanana, previsto à porta fechada é organizado pelos medidadores da SADC, Comunidade de Desenvolvimento da África Austral. O presidente sul-africano, Jacob Zuma, também participará no encontro, na qualidade de presidente da troika da SADC.
Políticos malgaches esperam poucos resultados palpáveis do encontro das Seychelles
O atual primeiro ministro Jean Omer Beriziky, em entrevista à DW África, considerou a reunião das Seychelles de muito importante para a população do Madagascar. "Esperamos deste encontro uma solução para a atual crise. Penso que a situação evoluiu desde o início da crise em fevereiro de 2009. Hoje, vivemos uma nova etapa porque existe um quadro novo para a saída da crise, ou seja, um plano de ação".
Depois de lembrar que no passado muitas tentativas falharam, Omer Beriziky espera que desta vez "algo de novo surja porque esta crise já demorou muito e por consequêcia provocou situações dramáticas na vida da população".
Segundo Omer Beriziky, as partes já conseguiram ir longe, mas esses avanços são ainda insuficientes dada a amplitude da crise. " Com este plano de acção, várias instituições de transição foram criadas e já estão a funcionar. Se regressássemos à estaca zero seria um insulto à população malgache", concluiu.
Marc Ravalomanana e Andry Rajoelina devem tentar ultrapassar os bloqueios para que sejam realizadas eleições no Madagascar, cujo calendário será publicado no próximo dia 1 de agosto. O escrutínio deverá permitir à grande ilha do Oceano Índico sair da crise aberta com o derrube de Ravalomanana no início de 2009 por Andry Rajoelina, na altura presidente da câmara de Antananarivo, ajudado pelo exército.
Pela primeira vez vai haver um frente-a-frente Rajoelina-Ravalomanana
Rajoelina e Ravalomanana já se encontraram várias vezes desde a tomada do poder pelo primeiro, mas a reunião desta quarta feira é considerada pelos observadores como um "encontro inédito" visto estar previsto um frente-a-frente, sem a presença de outras entidades políticas e longe dos media.
Mas, o antigo presidente malgache Albert Zafy, que participou na maioria das anteriores discussões sobre a crise no Madagascar, não espera que grandes decisões saiam do encontro, porque "Andry Rajoelina está interessado na presidência e desta forma em eternizar-se o mais tempo possível nesta transição - 2, 3 ou quatro anos -um pouco como Gbagbo na Costa do Marfim".
E o ex-presidente Zafy, avança o que considera ser uma eventual solução para a crise malgache: "Excluir Rajoelina desta transição pura e simplesmente, ou então que ele permaneça no seio desta transição de forma simbólica e nunca no executivo. A maioria dos malgaches defende uma nova transição, mas sem Rajoelina. Caso contrário o Madagascar não vai conseguir ultrapassar a crise em que se encontra, destacou.
A Comunidade de desenvolvimento da África Austral (SADC), que organizou o encontro e apadrinha o processo do regresso à ordem constitucional no Madagascar, tem pressionado os dois protagonistas para que concluam um acordo final até 31 de julho.
Autor: Brahima Tounkara / António Rocha
Edição: António Cascais