O 67º Festival Internacional de Cinema de Berlim arranca esta quinta-feira (9.02), na capital alemã, e apresenta uma novidade para a indústria cinematográfica em África.
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A cidade de Berlim volta a ser invadida pelo cinema. De 9 a 19 de fevereiro, 399 filmes marcam presença na 67ª edição do Festival Internacional de Cinema de Berlim, marcada por temas como a coragem e a confiança mas também o humor. É desta forma que o director da Berlinale, Dieter Kosslick, resume o programa deste ano. 18 dos filmes em exibição estão na corrida para vencer o Urso de Ouro.
A Berlinale 2017 dá também destaque a África com uma novidade. Pela primeira vez, o Festival Internacional de Cinema de Berlim apresenta uma plataforma dedicada exclusivamente à indústria cinematográfica africana: o Berlinale Africa Hub é uma iniciativa do Mercado Europeu do Cinema (EFM, na sigla em inglês), o epicentro dos negócios do festival.
"Em África há mais jovens do que em qualquer parte do mundo. Há muitos jovens com menos de 30 anos que querem ver todo o conteúdo online nos seus telemóveis. Muito mudou nos últimos anos", começa por explicar Matthijs Knol, diretor do EFM.
O Mercado Europeu do Cinema, afirma Knol, "quer tornar estas mudanças visíveis no mercado cinematográfico". "Este ano teremos muitos realizadores e produtores africanos jovens, mas também experientes e já reconhecidos no mercado cinematográfico europeu.”
A iniciativa é financiada pelo Ministério alemão dos Negócios Estrangeiros. A ideia é divulgar ao máximo a indústria cinematográfica africana, bem como juntar os cineastas do continente. O Berlinale Africa Hub vai encontrar-se em todos os dias do festival para debater produções, conteúdos e canais de distribuição, entre outros temas.
De África para os écrãs da Berlinale
O cinema africano está bem representado também nas diversas secções da Berlinale. Destacam-se filmes como "Maman Colonelle”, de Dieudo Hamadi – uma homenagem à coronel Honorine Munyole, que protege mulheres e crianças vítimas de abusos e violações no leste da República Democrática do Congo. Ou "The Wound", a primeira longa-metragem do realizador sul-africano John Trengove, sobre os rituais de iniciação dos jovens Xhosa. Sem esquecer "Felicidade", do franco-senegalês Alain Gomis, um filme que conta a história de uma cantora congolesa disposta a tudo para pagar uma operação do seu filho.
9.02 Berlinale - África - MP3-Stereo
Para Dieter Kosslick, diretor da Berlinale, este filme, como muitos outros do programa do festival, apresenta uma solução para uma situação trágica.
"Trata-se de estruturas familiares, mas não no sentido clássico do termo. Falamos da necessidade que as pessoas têm de se encontrarem em estruturas que conhecem bem, de estarem com pessoas em quem podem confiar", considera.
Também na categoria de "caça-talentos", Berlinale Talents, para jovens cineastas, há uma forte presença de realizadores e atores africanos. Desta vez, o tema é "Coragem", um dos lemas deste festival.
Tal como no ano passado, sublinha Dieter Kosslick, a Berlinale continua empenhada na integração de refugiados na Alemanha, organizando actividades com e para refugiados e promovendo doações e patrocínios.
Cinemas únicos em Angola
São obras únicas vistas pela lente do fotógrafo angolano Walter Fernandes - cinemas e cine-esplanadas desconhecidos de muitos. As fotos foram reunidas em livro e estão em exposição em Lisboa, a partir desta semana.
Foto: Walter Fernandes/Goethe-Institut Angola
"Uma ficção da liberdade"
O Cine Estúdio do Namibe inspira-se nas obras do arquiteto Oscar Niemeyer. É um dos edifícios únicos de Angola destacados no livro "Angola Cinemas - Uma Ficção da Liberdade" e fotografados por Walter Fernandes. Esta é uma das imagens em exposição no Goethe-Institut de Lisboa que revelam uma arquitetura desconhecida por muitos de cinemas construídos antes do fim do domínio colonial português.
Foto: Walter Fernandes/Goethe-Institut Angola
Património mal preservado
O Cine Tômbwa, também no Namibe, obedece a uma lógica de salas fechadas, mas já apresentava algumas linhas mais modernas. Segundo o fotógrafo Walter Fernandes, o edifício foi construído com materiais "sui generis". Mas o património herdado está muito mal preservado, lamenta o angolano.
Foto: Walter Fernandes/Goethe-Institut Angola
Moçâmedes: A pérola do Namibe
No Cine-Teatro Namibe (antigo Moçâmedes) nota-se bastante a influência da arquitetura do regime ditatorial português, o Estado Novo. Este é considerado um dos cinemas angolanos mais antigos e também aparece no livro "Angola Cinemas - Uma Ficção da Liberdade", apadrinhado pelo Goethe-Institut em Luanda e pela editora alemã Steidl.
Foto: Walter Fernandes/Goethe-Institut Angola
Conceito futurista
O arquiteto Botelho Pereira não só desenhou o Cine Estúdio do Namibe, como também o Cine Impala. Botelho Pereira inspirou-se no movimento deste antílope e planeou espaços abertos e arejados, de forma futurista. O livro "Angola Cinemas - Uma Ficção da Liberdade" também destaca estas cine-esplanadas, que ganharam popularidade a partir de 1960 por se adaptarem mais ao clima tropical do país.
Foto: Walter Fernandes/Goethe-Institut Angola
Cinema-esplanada para as elites
Este é um dos cinemas preferidos de Miguel Hurst, um dos editores do livro "Angola Cinemas". Foi aqui, no Cine Kalunga, em Benguela, que se pensou em fazer a obra. Cine-esplanadas como esta adequavam-se mais ao clima, mas serviam também um propósito do regime português - criar locais de convívio entre as populações locais e os colonos. A elite branca e a pequena burguesia negra vinham aqui.
Foto: Walter Fernandes/Goethe-Institut Angola
A "grande sala"
A "grande sala" de Benguela era o Monumental - pelo menos, ganhou essa reputação. Os colonizadores portugueses construíram o Cine-Teatro nesta cidade costeira pois evitavam o interior do país - normalmente, as companhias portuguesas só atuavam nas grandes cidades da costa angolana.
Foto: Walter Fernandes/Goethe-Institut Angola
Imperium: "Art decó" em Benguela
Aqui, são imediatamente visíveis traços da passagem da "art decó" (um estilo artístico de caráter decorativo que se popularizou na Europa nos anos 20) para o modernismo. O interior do Cine Imperium, fotografado por Walter Fernandes, representa bem essa mistura estética, com os cubos, retas, círculos e janelas. Benguela tinha várias salas, porque era das províncias mais populosas de Angola.
Foto: Walter Fernandes/Goethe-Institut Angola
O arquiteto que pensava as cidades
Este é o interior do Cine Flamingo: mais uma pérola da província de Benguela. A parte de trás é uma esplanada. Sentado, o espetador está em contacto com a natureza, mas não está exposto. Até hoje, a estrutura mantém-se, mas o espaço está um pouco vandalizado. Miguel Hurst sublinha a importância de manter obras como esta do arquiteto Francisco Castro Rodrigues, um homem que pensava cidades.
Foto: Walter Fernandes/Goethe-Institut Angola
Primeiro cine-teatro de Angola
"O Nacional" Cine-Teatro foi a primeira sala construída em Luanda, no início do Estado Novo, nos anos 40. Esta é uma das imagens patentes na exposição no Goethe-Institut em Lisboa. A mostra pretende ser "um testemunho do modo como estes edifícios constituíam um enquadramento elegante que sublinhava uma simples ida ao cinema, promovendo assim a reflexão sobre esta herança sociocultural e afetiva."
Foto: Walter Fernandes/Goethe-Institut Angola
Memória para gerações futuras
Os irmãos Castilho são os principais responsáveis pela introdução das cine-esplanadas em Angola. A primeira da sua autoria foi o Miramar, encostado a uma ribanceira virada para o mar em Luanda. Depois surgiu o Atlântico, na foto. Para os autores do livro "Angola Cinemas - Uma Ficção da Liberdade", este é um documento de memória que pode ser útil para as futuras gerações.