ONG diz que é um desrespeito à liberdade de expressão. A polícia, por seu lado, nega que esteja a intimidar e justifica que a presença dos agentes policiais nas proximidades do CIP faz parte do seu "giro normal".
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"Acordamos hoje com o escritório cercado por agentes da polícia, alguns fardados e outros a paisana. Achamos isso estranho, porque normalmente não é assim, mas começamos a fazer o nosso trabalho. E como já tínhamos anunciado antes, hoje era o dia que programamos para distribuir camisetas com escritas #EUNAOPAGODIVIDASOCULTAS", começa por relatar Borges Nhamire, pesquisador do Centro de Integridade pública.
E houve mais: "Mas a uma dada altura as pessoas começaram a informar-nos que quando saíam do escritório do CIP, depois de receberem as camisetas e de fazerem os vídeos, eram abordados pelos agentes da polícia para recolherem as camisetas. Eu e uma colega fomos abordados pelos agentes, pediram-nos que despíssemos as camisetas, que não podíamos circular com as camisetas. Perguntamos qual era o fundamento legal disso e alegaram que são ordens superiores."
No passado dia 18 de janeiro a ONG deu início a campanha que tem por objetivo despertar a consciência dos cidadãos para que não paguem as dívidas ocultas. As dívidas, avaliadas em 2 mil milhões de dólares, foram contraídas sem a aprovação do Parlamento e em meio a esquemas de subornos.
Quando confrontada sobre as razões da presença dos agentes nas mediações do CIP a PRM, na voz do responsável pelo gabinete de relações públicas, Orlando Mudumane, justificou que se tratou de simples ações de rotina: "O que nós sabemos é que a polícia está lá a trabalhar, no giro normal, a fazerem o trabalho. Agora, como fazem o trabalho depende da situação que detetam no terreno, não há nenhum trabalho específico da polícia que tenha a ver com essa campanha. E se alguém foi revistado provavelmente tenha sido no âmbito do serviço que a polícia está a fazer."
Direitos previstos na Constituição desrespeitados
A campanha do CIP está a ser largamente difundida nas redes sociais onde a ONG convida os cidadãos moçambicanos a juntarem-se a causa vestindo uma camiseta com os dizeres #EUNAOPAGODIVIDASOCULTAS e posteriormente a fazerem um vídeo.
"Ao optar por distribuir camisetas individualmente, sem organizar uma grande marcha era para evitar que a polícia ataque e atinja cidadãos que estejam a fazer uma manifestação pacífica e para que não haja aproveitamento, como por exemplo a destruição do património público para depois atribuírem culpas aos manifestantes", revela o pesquisador do CIP.
Entretanto a Constituição moçambicana no seu artigo 48 ponto número 1 prevê que "todos os moçambicanos têm o direito à liberdade de expressão, à liberdade de imprensa, bem como o direito à informação. "E no seu ponto 2 diz que "o exercício da liberdade de expressão, que compreende nomeadamente, a faculdade de divulgar o próprio pensamento por todos os meios legais, e o exercício do direito à informação não podem ser limitados por censura."
Intimidação
CIP denuncia intimidação da polícia na sua campanha
Mas estes direitos não foram respeitados, entende o pesquisador do CIP que denuncia que "é acima de tudo uma tentativa de intimidar os moçambicanos, porque as pessoas que vieram cá receber as camisetas, e que a polícia arrancou, são cidadãos deste país, cidadãos simples, vendedores de rua, empregadas domésticas, funcionários do Estado, funcionários bancários, médicos enfermeiros... É a essas pessoas que estão a intimidar, não é a nós [CIP]."
Ea ONG interroga-se: a quem serve a polícia moçambicana? O pesquisador Borges Nhamire lembra que os agentes juraram servir a pátria, que são os moçambicanos, e não aos mandatários daquela intimidação.
A DW África perguntou à polícia se tinha recebido alguma ordem para por fim a campanha do CIP: "A polícia não tem, pelo que eu saiba não tem. Não tenho nenhuma informação nesse sentido."
A maior ponte suspensa de África liga Maputo a Katembe
Ponte que liga Maputo a Katembe foi inaugurada no sábado, 10 de novembro de 2018. Tem cerca de três quilómetros de extensão. Muitas famílias foram realojadas para dar espaço a este projeto no sul de Moçambique.
Foto: DW/R. da Silva
Do lado de Maputo
Esta parte da ponte passa por cima da zona onde se localizam muitas fábricas na baixa da capital, mais descaído para a parte ocidental. Ao fundo, vê-se o porto de Maputo. A ponte que liga Maputo a Katembe foi inaugurada no sábado, 10 de novembro de 2018. Tem cerca de três quilómetros de extensão e será a maior ponte suspensa de África.
Foto: DW/R. da Silva
Até 1.200 meticais para circular na ponte
Esta é a entrada da ponte do lado da Katembe. Com a conclusão das obras, as viaturas deixarão de pagar entre quatro e doze euros pela travessia da baía de Maputo. Já a portagem da ponte custa entre 40 meticais (57 cêntimos) e 1.200 meticais (17,30 euros), anunciou a Maputo-Sul, empresa que gere a infraestrutura.
Foto: DW/R. da Silva
Portagem na Katembe
Esta é a inevitável portagem do lado da Katembe. Quem sai de Maputo, encontra esta barreira para pagar pela circulação na ponte e na estrada. Os automobilistas já se queixam dos preços das portagens. A Maputo-Sul, citada pelo jornal O País, desvaloriza as queixas. Fala em falta de informação e desconhecimento do real valor da obra.
Foto: DW/R. da Silva
Obras demoradas
Deste lado da Katembe, veem-se camiões que transportam materiais para o acabamento das obras. A construção da ponte teve início em 2014 e a conclusão do empreendimento sofreu vários adiamentos desde dezembro. Segundo o Governo, os atrasos resultaram de dificuldades na retirada de famílias que viviam nas proximidades da infraestrutura.
Foto: DW/R. da Silva
O pomo da discórdia
A zona que interceta com a Avenida 24 de Julho foi um dos pontos em que as obras sofreram atrasos. Foi aqui, onde passa uma rampa que dá acesso à ponte, que ocorreu uma das principais discórdias, entre os vendedores do mercado Nwakakana, a empresa Maputo-Sul e o município de Maputo.
Foto: DW/R. da Silva
Famílias indemnizadas facilitam construção atempada
As famílias que viviam neste local, maioritariamente refugiadas da guerra civil em Moçambique, foram transferidas para dar lugar à construção desta secção da ponte. Aqui, as obras não atrasaram porque as famílias rapidamente foram indemnizadas e realocadas para a região de Pessene, na Moamba, ocidente da província de Maputo.
Foto: DW/R. da Silva
Transporte precário
Esta embarcação transporta as viaturas que atravessam a baía de Maputo. Tem sido tortuoso para os automobilistas que vivem ou fazem negócios do lado da Katembe, pois quando esta embarcação avaria, a alternativa é um percurso de quase 100 km.
Foto: DW/R. da Silva
Cais de Maputo
O cais de acesso às embarcações que fazem a travessia da baía é um local que não oferece muita segurança, pois não existem barreias de segurança ou limites para as movimentações. O mesmo para viaturas, devido à precariedade da sua estrutura.
Foto: DW/R. da Silva
Cais da Katembe
Do outro lado, na Katembe, os problemas são os mesmos. A estrutura é precária, por isso, o Governo interditou a travessia na embarcação de camiões de grande tonelagem.
Foto: DW/R. da Silva
Vista da Katembe para Maputo
Esta é a parte da Katembe onde a ponte atravessa. Também nesta zona (no lado esquerdo da imagem), algumas famílias tiveram de ser retiradas para dar lugar à construção da gigantesca ponte. O desenho e a construção foram responsabilidade da China Road and Bridge Corporation (CRBC), uma das maiores empresas de construção da China. O controlo de qualidade foi feito pela empresa alemã Gauff.
Foto: DW/R. da Silva
A maior de África
Esta é a parte da ponte que nos leva à cidade de Maputo, concretamente na EN-1 e na avenida 24 de Julho. Na imagem, veem-se as obras para fazer alguns acertos neste troço. Daqui pode contemplar-se a extensão da ponte.
Foto: DW/R. da Silva
Ponte que desagua do lado da Katembe
Uma obra de grande engenharia que custou aos cofres do estado cerca de 600 milhões de euros. Veem-se na imagem as curvas as subidas e as descidas que dão outra beleza a esta mega estrutura.