Citadinos de Mbanza Congo questionam vantagens da construção do aeroporto internacional na região. Recordam que a cidade enfrenta inúmeras carências e receiam ter um "elefante branco”. Mas é uma exigência da UNESCO.
Foto: Rainer Keuenhof/picture alliance
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À DW, o secretario de Estado para os setores de Aviação Civil, Marítimo e Portuário do Ministério dos Transportes, Rui Carreira, disse que a construção do aeródromo é uma exigência da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), para o acesso à cidade de Mbanza Congo, classificada pela UNESCO como património mundial da humanidade, de turistas e estudiosos.
"A construção do aeroporto de Mbanza Congo é para preencher este requisito, da cidade ser classificada como património cultural da humanidade”, esclarece Carreira.
Mas as explicações do Executivo parecem não convencer quem vive em Mbanza Congo, como é o caso de Mavacala João.
"É importante, mas não seria prioridade porque a província carece de muitas carências. A nossa província carece de fábricas muito importantes que podem transformar a nossa matéria prima que às vezes estragam", reclama.
População angolana visita Mbanza Congo, Património Mundial da HumanidadeFoto: Firmino Chaves/DW
Os receios
O Aeroporto Internacional "Nimi ya Lukeni" foi projetado para receber cerca de 250 mil passageiros e voos de aeronaves tipo Boeing 777-300ER. A ideia é interligar Mbanza Congo com o resto do mundo.
Mas Van Dúnem Vilhena, outro cidadão ouvido pela DW África, duvida que os cidadãos de Mbanza Congo venham a aderir aos serviços da transportadora nacional de bandeira, devido ao fraco poder económico da população.
"Muitos cidadãos desta província não vão optar em pegar esse transporte para viajar para Luanda, vão sempre preferir o mais barato. Por isso, eu acho que, nesta altura, o aeroporto será mais um elefante branco", diz desconfiado.
Questionado sobre a possibilidade do Aeroporto Internacional de Mbanza Congo, "Nimi Ya Lukeni” vir a transformar-se num "elefante branco", Rui Carreira, secretário de Estado para os Setores de Aviação Civil, Marítimo e Portuário, do Ministério dos Transportes, respondeu: "Vamos trabalhar todos nós para tirarmos benefícios disso. Benefícios económico e financeiros. Portanto, vai, obviamente, aumentar o fluxo de passageiros na região".
As autoridades governamentais esperam inaugurar a infraestrutura aeroportuária ainda este ano, no quadro das celebrações dos 50 anos da Independência de Angola.
Mbanza Congo: Património Mundial sem condições para turismo
Capital da província angolana do Zaire acolhe a partir de 5 de julho o primeiro Festival Internacional da Cultura e Artes. Mas a cidade, que é Património Mundial, tem problemas e poucas condições para acolher turistas.
Foto: DW/B. Ndomba
FestiKongo anual
O Festival Internacional da Cultura e Artes (FestiKongo) passará a realizar-se anualmente na capital da província do Zaire. Essa foi uma das recomendações da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), aquando da inscrição da cidade angolana na lista do património mundial.
Foto: DW/B. Ndomba
Participação de países africanos
República Democrática do Congo, Congo Brazzaville, Gabão, Camarões, Chade e Guiné Equatorial são alguns dos países convidados. O Ministério da Cultura quer fazer da cidade um "palco de referência cultural nacional e regional", realçando os hábitos, usos e costumes da região. Evento visa também a promoção de músicos, artistas plásticos e criadores de moda, entre outros agentes culturais.
Foto: DW/B. Ndomba
Poucas condições para atrair turistas
A escassez de hotéis e outros serviços é um dos fatores que pode pôr em risco a presença de turistas na cidade histórica. Só há dois hotéis e o mais antigo não oferece condições de alojamento, segundo alguns clientes. O chefe do Turismo na província do Zaire, Ábias Fortuna, reconhece que é preciso construir novas infraestruturas e melhorar os serviços prestados para atrair mais turistas.
Foto: DW/B. Ndomba
O dilema dos transportes públicos
A província do Zaire, cuja capital foi classificada a 8 de julho de 2017 como Património Mundial da Humanidade pela UNESCO, não dispõe de um serviço público de transporte. Por isso, os mototaxistas são a "bóia de salvação" para muitos residentes.
Foto: DW/B. Ndomba
Falta de água potável
Tal como em outras partes de Angola, Mbanza Kongo também regista graves problemas na distribuição de água potável, apesar de a província do Zaire ter vários rios. A maior parte da população consome água imprópria para consumo.
Foto: DW/B. Ndomba
Grutas de Zau Evua
Localizadas bem no centro da província do Zaire, a poucos quilómetros de Mbanza Kongo, as grutas de Zau Evua constam da lista de sete maravilhas naturais de Angola. As cavernas fazem parte de uma rede de grutas e galerias, quase todas desconhecidas e ainda por explorar. É um local que não pode faltar no roteiro de quem visita Mbanza Kongo.
Foto: DW/B. Ndomba
Lixo espalhado pela cidade
É visível a falta de um programa de limpeza na cidade, onde os contentores estão cheios de resíduos não recolhidos. Outro exemplo é a piscina construída pelo Governo Provincial, cuja água não trocada já ganhou a cor verde. Como é prática das administrações, tendo em conta a importância do festival, começaram agora a ser traçados programas de limpeza na cidade dos "Reis do Kongo".
Foto: DW/B. Ndomba
Faltam espaços de lazer
A falta de espaços de lazer é outra preocupação dos munícipes de Mbanza Kongo, na sua maioria jovens. Devido à falta de locais para a prática desportiva, a equipa do escalão júnior do São Salvador do Kongo, o principal clube da província, treina no "jardim moribundo" do Governo do Zaire.
Foto: DW/B. Ndomba
Novo aeroporto em construção
Cumprindo as recomendações da UNESCO no dossier Mbanza Kongo como Património Mundial da Humanidade, a cidade terá um novo aeroporto, em substituição do antigo, no centro da capital do Zaire. Enquadrado no âmbito do Programa de Investimentos Públicos (PIP), o novo aeroporto está a ser construído na comuna de Kiende, a 33 quilómetros de Mbanza Kongo.